Admitindo Abertamente Ações Negativas do Passado

09:17

(1) Para me apossar desta mente preciosa, ofereço sinceramente aos Que Assim Partiram (budas), à Joia Rara e imaculada do dharma sagrado e a vocês, filhos dos budas, que possuem oceanos de boas qualidades:

(2) Todas as flores e frutos que existem e todas os tipos de medicamentos, todas as joias do mundo e águas puras e refrescantes,

(3) Montanhas de pedras preciosas, florestas e lugares tranquilos e encantadores, árvores adornadas de flores e com galhos carregados de frutas deliciosas;

(4) E dos reinos dos seres divinos, fragrâncias, incensos, árvores que realizam desejos, arbustos de joias e uma variedade de plantas selvagens e ornamentais adequadas a serem oferecidas,

(5) Lagos e lagoas adornadas com lótus, e com o aresnar encantador dos cisnes selvagens, tudo o que não tiver dono até os confins da infinita esfera do espaço -

(6) Trago tudo isso à mente, e ofereço a vocês, Sábios, Seres Primordiais e seus filhos espirituais. Objetos consagrados de oferendas, seres de grande compaixão, gentilmente pensem em mim e aceitem minhas (oferendas).

(7) Como me falta força cármica positiva, sou extremamente desfavorecido, e nada mais de precioso tenho a oferecer. Portanto, Guardiões, que pensam em ajudar os outros, aceitem [essas oferendas], pelo poder de sua consideração por mim.

(8) Todos os meus corpos eu ofereço, por toda a eternidade, ao Triunfante e seus filhos espirituais. Seres Supremos, por favor me aceitem. Respeitosamente, os servirei.

(9) Totalmente entregue aos seus cuidados, e, portanto, sem medo da existência compulsiva, beneficiarei os seres limitados. Transcenderei perfeitamente toda força cármica negativa e, de agora em diante, não cometerei atos negativos.

(10) Às salas de banho com aromas doces e requintados, piso de cristal translúcido e brilhante, pilares reluzentes de pedras preciosas e coroados com dosséis radiantes de pérolas,

(11) Convido-lhes, Aqueles Que Assim Partiram (budas), e sua prole espiritual, e banho seus corpos repetidamente, com vasos encrustados de joias e cheios até a borda de água perfumada e coisas deleitosas, ao som de músicas e canções.

(12) (Agora) seco seus corpos com toalhas incomparáveis, limpas e ungidas com perfume, e lhes apresento, seres sagrados, roupas perfumadíssimas e tingidas nas cores corretas.

(13) Adorno com excelentes roupas, finas e macias, e com centenas das melhores peças de joalheria, os Aryas Samantabhadra, Manjushri, Lokeshvara e demais.

(14) Com as melhores colônias, cujos vapores perfumados se elevam a miríades de mundos, ungirei os corpos de todos os Reis dos Sábios, que brilham com a luz, como o ouro lavado, refinado e polido.

(15) A vocês, Reis dos Sábios, principais objetos de oferendas, apresento lindas flores, como eritrinas, lótus e ninfeias, com doces fragrâncias, (soltas) ou arranjadas delicadamente em guirlandas. 

(16) Ofereço-lhes também a fumaça de incensos minuciosamente escolhidos, cujo aroma inebriante (tudo) permeia. Ofereço-lhes um banquete celestial, com uma variedade de pratos, iguarias e néctares.

(17) Ofereço, ainda, lamparinas de metais preciosos, enfileiradas em lótus de ouro. E no chão varrido e aspergido com água perfumada, espalho as pétalas de belas flores

(18) E ofereço a você, cuja natureza é compaixão, palácios incomensuráveis ressoando árias de louvor, cobertos com pendentes de pérolas e pedras preciosas, tão belas e cintilantes que fogem à compreensão; um adorno ao espaço.

(19) Ofereço eternamente a vocês, Reis dos Sábios, impressionantes guarda-sóis com joias e cabos dourados, seus aros adornados com requintada decoração, sua forma elegante, ereta e linda de se ver.

(20) E que apareçam belos músicos celestes e nuvens ressoando a música de uma sinfonia de (instrumentos de) oferendas, aliviando o sofrimento dos seres limitados.

(21) Que despejem, sem interrupção, uma chuva de joias, flores e mais em vocês, Joias Supremas e Raras do dharma sagrado, e em suas estupas e imagens de Buda.

(22) Assim como Manjushri e outros lhe fizeram oferendas, ó Triunfante, eu também as faço, aos meus Guardiões Que Assim Partiram e aos seus filhos espirituais.

(23) Ofereço-lhes louvores, Oceanos de Boas Qualidades, com elogios melodiosos e um mar de línguas. Que nuvens de harmonias de louvores melodiosos se acumulem por toda parte.

(24) Prostro-me perante os budas que agraciaram os três tempos, o dharma e você, A Mais Elevada Assembleia, curvando-me com corpos tão numerosos quanto todos os átomos do mundo.

(25) Prostro-me perante vocês, bases para o ideal de bodhichitta, e suas estupas. Prostro-me perante vocês abades, vocês mestres (que ordenam) e vocês supremos defensores do comportamento domado. 

(26) Até que chegue ao âmago do estado purificado, tomo a direção segura (refúgio) de vocês, budas. E, tomo a direção segura do dharma e de vocês, Assembleia de bodhisattvas.

(27) Com as palmas das mãos unidas, peço aos budas e bodhisattvas que residem em todas as direções e têm grande compaixão:

(28) Ao longo da minha existência samsárica sem princípio, nesta e em outras vidas, sem querer cometi atos negativos ou fiz com que outros os cometessem. E mais, 

(29) Oprimido pela confusão da ingenuidade, alegrei-me [com isso] - o que quer que tenha feito, vejo como um erro, e a vocês, meus guardiões, admito abertamente, das profundezas do meu coração.

(30) Quaisquer que tenham sido as ações prejudiciais cometidas por mim, com corpo, fala ou mente, por conta de emoções perturbadoras, contra as Três Joias Supremas, meus pais, minhas mães, meus mentores espirituais e outros,

(31) E quaisquer ações absolutamente intoleráveis que eu tenha cometido - eu, que tenho tanta força negativa, o que faz com que falhe, por meio de muitas ações erradas - admito todas, abertamente, a vocês Líderes Espirituais.

(32) Mas posso ser arrancado dessa vida antes de purificar as forças negativas do meu carma. Assim como (posso cair em um renascimento horrível; então) suplico-lhes por uma direção segura, que me liberte definitivamente disso, pelos meios mais rápidos.

(33) Tendo ou não feito (purificações), uma vez que o traiçoeiro Senhor da Morte nunca espera, e estando ou não doentes, todos podem de repente morrer. Minha vida não é confiável.  

(34) Deixando tudo para trás, eu vou partir. Mas, como não havia percebido, cometi todo tipo de ação negativa, por causa de amigos e inimigos.

(35) Meus inimigos sumirão; meus amigos sumirão; eu também sumirei; como tudo mais sumirá.

(36) Assim como as experiências em um sonho, tudo o que aprecio se tornará uma lembrança; tudo o que passou, eu nunca mais verei.

(37) Mesmo nesta breve vida, tantos amigos e inimigos ficaram para trás. Mas os frutos insuportáveis dos atos negativos que por eles cometi (ainda) estão por vir.

(38) Por não ter percebido que (poderia morrer) de repente, cometi muitas ações negativas, por ignorância, desejo e raiva.

(39) Dia e noite, sem parar, esta vida está sempre diminuindo, nunca aumentando; (então) por que alguém como eu não haveria de morrer?

(40) Quando deitado em meu leito (de morte), mesmo que cercado de parentes e amigos, eu é que sentirei minha vida sendo ceifada.

(41) Quando eu for capturado pelos mensageiros do Senhor da Morte, de que me servirão os parentes? De que me servirão os amigos? Apenas a minha força cármica positiva poderá me dar uma direção segura, mas nunca confiei apenas nisso.

(42) Ó Guardiões! Eu era tão despreocupado e inconsciente de tal terror, que pelo bem dessa vida impermanente, acumulei muita força cármica negativa.

(43) Se alguém fosse levado hoje para ter seus membros cortados, ficaria transfigurado de terror, com a boca seca e os olhos fundos,

(44) O que dizer, então, do desespero de ser agarrado pela aparência macabra dos sinistros mensageiros do Senhor da Morte e entrar em pânico.

(45) "Quem poderia me apontar uma direção segura para longe desse terror monstruoso?" Com olhos aterrorizados e esbugalhados, procurarei nos quatro cantos por uma direção segura.

(46) Não encontrando ninguém nos quatro cantos que possa me dar uma direção segura, ficarei desesperado. O que farei se não houver ninguém lá que me dê uma direção segura?

(47) Portanto, a partir de hoje, tomo a direção segura de vocês, Triunfantes, vocês, Guardiões dos que vagam, que se esforçaram para se tornarem uma direção segura para os seres errantes e que podem remover todos os meus medos com sua força estupenda.

(48) Da mesma forma, simplesmente tomo a direção segura do dharma que vocês realizaram, que abole os medos do samsara, e também de vocês, Assembleia de Bodhisattvas.

(49) Em pânico e angustiado, ofereço-me a você, Samantabhadra; e, por vontade própria, faço a você, Manjughosha, uma oferenda do meu corpo.

(50) A você também, Guardião Avalokiteshvara, que é infalível em agir com compaixão, clamo por ajuda em um gemido de tormento: "Eu lhe suplico, me dê uma direção segura, a mim que tenho uma força cármica [tão] negativa!"

(51) De Akashagarbha, Kshitigarbha, e de todos vocês, Guardiões de grande compaixão, busco uma direção segura e, de coração, clamo por ajuda.

(52) Tomo uma direção segura de você, o que segura um Vajra: ao vê-lo, todos os seres malévolos, como os mensageiros do Senhor da Morte, fogem em pânico para os quatro cantos (do mundo).

(53) Transgredi anteriormente o seu conselho, mas vendo agora essas coisas terrivelmente assustadoras, tomo sua direção segura, e com isso, que eu me livre rapidamente de meu medo. 

(54) Se até quando assustado por uma doença comum, devo seguir o conselho de um médico, o que dizer de quando perpetuamente afligido por doenças como o desejo, (que produzem) centenas de problemas?

(55) Se apenas uma delas é capaz arruinar todas as pessoas deste Continente do Sul, e se nenhum outro remédio para as curar é encontrado em nenhuma direção,

(56) O desejo de não seguir o conselho dos Médicos Oniscientes, que podem nos livrar de todas as doenças dolorosas, é algo a ser repreendido como extremamente ingênuo.

(57) Se preciso tomar cuidado com um penhasco pequeno e comum, o que dizer de um penhasco do qual posso cair por milhares de léguas para um longo período [nos reinos sem alegria].

(58) É incorreto (para mim) sentar tranquilo, pensando: "Não vou morrer hoje", pois certamente chegará a hora em que não mais existirei.

(59) Quem poderia me proporcionar um estado de destemor? Como eu poderia me libertar disso com toda a certeza? Se não há dúvidas de que vou desaparecer, como posso me sentar em paz?

(60) O que vivenciei no passado já desapareceu, mas por apego ao que me resta [de vida], venho contrariando o conselho dos meus mentores.

(61) Como abandonei esta vida, assim como meus parentes e amigos, se agora devo perambular sozinho e sem direção definida, de que servem meus amigos e inimigos?

(62) "Das ações destrutivas vem [nada além] de sofrimento; então como posso me libertar definitivamente delas?" É apropriado eu pensar constantemente nisso, dia e noite.

(63) O que quer que eu tenha feito, por ingenuidade ou ignorância, que tenha sido naturalmente vergonhoso ou um ato negativo proscrito (por vocês, Budas),

(64) Admito abertamente diante de vocês Guardiões, prostrando-me vez após vez, com as palmas das mãos unidas e a mente temendo o sofrimento. 

(65) Guias espirituais, admito que meus atos negativos foram transgressões, e vos suplico: que eu nunca mais os repita. Pois não são atos saudáveis.

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