Astrologia Tibeto-Mongol e Carma

As Vantagens de Aprender Astrologia

Num contexto budista, quando reafirmamos a nossa motivação no início de uma aula, salientamos sempre que o nosso objetivo ao escutar é aprender algo que nos possa ajudar em nossas vidas. Especificamente, desejamos aprender algo que não só nos ajude com os nossos próprios problemas, mas também que nos permitirá ser da melhor ajuda aos outros. Quando pensamos sobre a astrologia nesse contexto, precisamos estar claros a respeito do que podemos realmente derivar deste estudo e aprendizagem.

A um nível, o conhecimento de astrologia ajuda-nos a saber o que poderá acontecer no futuro. Com base neste conhecimento, podemos tomar medidas preventivas para evitar dificuldades. Dharma, afinal, significa literalmente medidas preventivas. No entanto, precisamos ter cuidado para não nos tornarmos supersticiosos e não pensarmos que tudo é predeterminado – que certos problemas irão definitivamente acontecer – uma vez que essa não é, de modo nenhum, a visão budista de vida. Especialmente quando olhamos para a astrologia divinatória, é muito importante compreendê-la dentro do contexto dos ensinamentos budistas do carma.

A outro nível, a aprendizagem da astrologia dá-nos guias para melhor nos compreendermos de modo a obtermos uma idéia dos nossos problemas emocionais. A um nível mais geral, suas apresentações dos planetas, sinais, e assim por diante, fornecem uma certa estrutura analítica dentro da qual podemos olhar para as nossas vidas e nossas personalidades.

Quando queremos ajudar alguém, não é fácil termos uma idéia clara do tipo de problema que ele ou ela possa ter, ou qual possa ser a melhor maneira de comunicar com a pessoa. Algum conhecimento do seu horóscopo e como se compara ao nosso é útil para ficarmos com uma idéia de como inicialmente abordar a pessoa. Uma vez mais, precisamos ver isto dentro de um contexto budista. É muito importante evitar trancar as pessoas dentro de categorias sólidas, pensando: "Oh, este homem é balança e eu sou leão, por isso tenho de agir desta forma com ele. Aquela mulher é touro, por isso tenho de agir daquela maneira". Este pensamento errôneo não deixa espaço para individualidade e não permite flexibilidade. Quando não temos nenhuma idéia de como nos relacionar comalguém, a astrologia pode revelar a primeira carta a jogar com essa pessoa. Precisamos abordar a astrologia deste ponto de vista e enquadrá-la sempre com os ensinamentos budistas sobre o carma e a vacuidade.

Entre as muitas tradições de astrologia no mundo, o sistema tibeto-mongol é um dos mais complexos. É muito mais complicado do que a astrologia ocidental. Aqui apenas examinaremos o tópico resumidamente, de modo a obtermos uma idéia do que ele contém. A astrologia mongol é uma ligeira variante do principal sistema astrológico tibetano, mas agora comointrodução, vamos falar do sistema tibeto-mongol em geral. Depois podemos falat sobre o relacionamento da astrologia com o carma e a vacuidade. Essa última discussão não é específica nem limitada à astrologia tibeto-mongol, mas é relevante a todos os sistemas de astrologia.

O Alcance da Astrologia Tibeto-Mongol

O estudo da astrologia tibeto-mongol lida com muitos tópicos. A maioria das pessoas pensa na astrologia somente em termos de calcular e interpretar horóscopos; e ao treinar em astrologia tibeto-mongol, certamente aprende-se a fazer isso. Porém, os horóscopos tibetanos e mongóis não fornecem apenas retratos da personalidade que alguém tinha ao nascer – a carta natal. Eles também detalham como a vida da pessoa pode desabrochar no decorrer dos anos – a carta progredida, formada de uma maneira muito diferente daquela dos horóscopos ocidentais.

Não é possível fazer um horóscopo se não tiver a data do nascimento de alguém e o progresso da duração da sua vida no contexto de um calendário. Assim, uma parte principal do estudo envolve a matemática e os cálculos para fazer os calendários tibetanos e mongóis, que também são completamente diferentes do ocidental. E mais, você não pode fazer um horóscopo se não conhecer a posição precisa dos planetas na altura do nascimento e mais tarde na vida. Outra grande parte do treinamento, então, é a matemática para calcular as efemérides tibeto-mongóis, ou seja, as posições dos planetas em cada dia. Algumas tabelas destas posições estão disponíveis para consulta imediata, como no ocidente; mas geralmente os astrólogos tibetanos e mongóis calculam tudo à mão.

Em conjunção com o calendário, os astrólogos também fazem almanaques. Um almanaque indica os dias e as horas mais auspiciosas para começar a plantar as colheitas nos campos, para colhê-las, e outras coisas parecidas que são importantes para uma sociedade.

Como é o caso com a medicina tibeto-mongol, a astrologia tibeto-mongol mistura de maneira única aspectos que derivam de origens indianas, da Grécia Antiga, chinesas, da Ásia Central, e nativas Bon. O material divide-se em dois aspectos principais: "cálculos brancos" e "cálculos negros". Esta nomenclatura não tem nada a ver com o bem ou o mal, como nos termos magia "branca" ou "negra". Branco e negro são abreviaturas para os nomes tibetanos da Índia e da China, respectivamente. A Índia, em tibetano é conhecida como "a vasta terra onde as pessoas vestem-se de branco" e a China como "a vasta terra onde as pessoas vestem-se de negro".

Cálculos Brancos e Kalachakra

Muitos sistemas semelhantes de astrologia desenvolveram-se na Índia, vários hindu e um budista. Os cálculos brancos vêm principalmente do sistema budista indiano, encontrado nos materiais do tantra de Kalachakra. Kalachakra significa "ciclos do tempo", com três níveis: ciclos exteriores, interiores e alternativos. Os ciclos exteriores referem-se aos ciclos através dos quais o universo passa. Por causa destes ciclos, podemos medir o tempo exteriormente, olhando para as passagens do sol, da lua e dos planetas em torno dos céus. Afinal, o budismo define o tempo como uma medida de mudança. Além disso, derivamos os horóscopos dos ciclos dos padrões que os corpos celestiais fazem do seu movimento em relação uns aos outros. Todo o estudo de astronomia e astrologia está associado com estes ciclos exteriores.

Interiormente, podemos também medir a passagem do tempo por ciclos no corpo. Por exemplo, podemos medir o tempo pelo número de respirações que uma pessoa toma. Também podemos medí-lo pelo ciclo da vida humana, da infância, adolescência, o período adulto e a terceira idade, ou pelo ciclo de menstruação de uma mulher. Assim, há ciclos de tempo exteriores e interiores; e, de acordo com os ensinamentos de Kalachakra, há um paralelo entre eles.

Ao analisar sob um ponto de vista budista, dizemos que os seres comuns não têm controle nenhum sobre estes ciclos. Os ciclos ocorrem por força do carma, ou impulsos de energia. Os ciclos exteriores, que estão por trás das cartas do trânsito das posições diárias dos corpos celestiais, "amadurecem" ou resultam do carma compartilhado geral. Os ciclos interiores, que estão por trás das cartas natais e progredidas das pessoas, amadurecem do carma individual de cada pessoa. Sofremos todo o tipo de problemas por não estarmos em controle de quaisquer destes amadurecimentos cármicos nem dos seus efeitos em nós.

Algumas pessoas, por exemplo, são fortemente afetadas pelas configurações dos seus horóscopos natais. Têm dificuldades de lidar não só com as suas vidas pessoais, mas também com ciclos exteriores, tais como longos invernos ou luas cheias. Algumas delas ficam um tanto alteradas durante as luas cheias, como lobisomens! As pessoas também têm dificuldades de lidar com os ciclos interiores: o ciclo do desenvolvimento hormonal ao atravessarem a puberdade, o ciclo menstrual, o processo do envelhecimento, e assim por diante. No budismo, nós esforçamo-nos por alcançar a liberação destes ciclos incontrolavelmente recorrentes, a que chamamos de samsara, e por continuarmos até nos tornarmos Budas iluminados de modo a podermos ser da melhor ajuda para todos.

Os ciclos do tempo alternativos envolvem as várias práticas de meditação Kalachakra para alcançar a liberação e a iluminação. Este ponto importante revela a orientação básica que o budismo tem em relação à astrologia. Queremos alcançar a liberação de estar à mercê de características astrológicas, tais como horóscopos. De acordo com o budismo, o continuum ou o fluxo-mental de cada indivíduo tem experienciado problemas desde tempos sem começo e, se não fizermos nada para mudar a situação, continuaremos a experienciá-los para sempre, de uma vida à seguinte. Isto significa que precisamos libertar-nos não só dos nossos horóscopos pessoais desta vida como também libertar-nos de todos os possíveis horóscopos de qualquer futuro renascimento incontrolavelmente ocorrente. Ou seja, visamos libertar-nos do próprio zodíaco.

Nós podemos ver, desta abordagem, que um horóscopo não é algo concreto e fixo, que não é algo que absolutamente determina a nossa maneira de ser, sem que possamos fazer nada a respeito. Queremos nos libertar de quaisquer dessas imaginadas constrições e, para fazer isso, precisamos ter uma idéia dos detalhes do nosso horóscopo em específico e de todos os horóscopos em geral. Este, então, é o contexto dentro do qual precisamos estudar astrologia – quer a tibeto-mongol, indiana hindu, chinesa, árabe, mayan ou ocidental. Nós queremos superar não só estar sob o controle do nosso horóscopo pessoal desta vida, como também estar sob o controle de todos os ciclos do tempo sempre-em-mudança, como medidos pelo movimento dos corpos celestiais. Compreender este ponto é crucial. Se não, poderemos facilmente cair na armadilha de nos tornarmos supersticiosos sobre a astrologia, especialmente sobre a astrologia tibeto-mongol, dado que esta fala tanto sobre "dias auspiciosos" e "inauspiciosos".

A Conexão com a Astrologia Ocidental

O Tantra de Kalachakra é a fonte dos cálculos para a maioria das características dos calendários tibetanos e mongóis, para as posições dos corpos celestiais nas efemérides, e para a maioria de fatores no almanaque, tal como os dias auspiciosos e inauspiciosos. Como os ensinamentos de Kalachakra floresceram na Índia antes de terem chegado ao Tibete e depois à Mongólia, eles têm muito em comum com os sistemas astrológicos hindus. A astrologia hindu, por sua vez, e muitos outros aspectos da antiga cultura indiana, partilham muito em comum com a cultura da Grécia Antiga, visto que as duas civilizações tiveram bastante contacto, particularmente durante a época de Alexandre o Grande. Primeiro vamos examinar, então, algumas destas características comuns. A astrologia ocidental moderna também as compartilha, uma vez que deriva da tradição da Grécia Antiga.

Na astrologia tibeto-mongol, calculamos as posições dos planetas só até Saturno, não dos planetas trans-saturnianos, e nomeamos os dias da semana com base nos corpos celestiais, tais como: Domingo, (em inglês: Sunday, de sun – sol) e segunda-feira, (em inglês, Monday, de moon – lua). Como os planetas além de Saturno são invisíveis para o olho humano, o mundo antigo não sabia de sua existência. Há também uma divisão do zodíaco em doze signos, com os mesmos nomes como nos sistemas grego e hindu indiano. Estes são os mesmos nomes que o nosso sistema ocidental moderno usa - carneiro, touro, e assim por diante. Há também uma divisão de doze casas, algumas das quais têm interpretações ligeiramente diferentes das suas contrapartes na astrologia ocidental. Como num horóscopo ocidental, cada corpo celestial está num signo e numa casa, a combinação dos quais afeta o significado desse corpo na carta astrológica.

Signos e Casas

Para os que não estão familiarizados com a astrologia, vou explicar brevemente o que são signos e casas. Ambos estão relacionados com as características astronômicas.

Se olharem para o céu, observarão que o sol, a lua, e os planetas – vamos chamá-los os corpos celestiais – todos viajam numa certa faixa de leste a oeste. Em épocas antigas, as pessoas não sabiamque a terra girasse. Elas pensavam que o céu e os corpos celestiais giravam à volta da terra. Elas imaginavam que a faixa do céu através da qual os corpos celestiais principais viajam – a eclíptica – era como uma roda gigante girando muito lentamente no sentido anti-horário. Metade da roda estava sob a terra. Se usássemos um exemplo moderno, a nossa perspectiva seria como alguém que estivesse de pé no centro de uma roda gigante girando muito lentamente: metade estaria em cima de nós, metade em baixo.

Se olharmos para esta faixa do céu como uma roda gigante girando lentamente, podemos dividir a roda em doze partes, apenas seis das quais estão aparentes a qualquer altura no céu. Em cada uma destas partes da roda gigante está uma proeminente constelação de estrelas, como se fosse, os assentos da roda gigante. Estas constelações são os doze signos do zodíaco.

Agora, suponham que a roda gigante está girando lentamente dentro de um edifício com a forma de uma esfera gigante. Se vocês dividirem em doze seções a faixa ao longo da parede interna da esfera dentro da qual a roda gigante está girando, essas são as doze casas. Elas não se movem. Assim, a seção da faixa da esfera indo para baixo diretamente a leste de nós, para um-sexto do caminho diretamente a oeste, é a primeira casa. O sexto seguinte é a segunda casa, e assim por diante. As primeiras seis casas estão debaixo de nós – ou seja, debaixo do horizonte – as últimas seis estão em cima. Suponham que o primeiro assento, carneiro, esteja ao lado do ponto na parede interna da esfera diretamente para o leste de nós – o ascendente. A roda gigante move-se tão lentamente que demora um mês para o assento seguinte, touro, alcançar esse ponto. Quando o assento do carneiro retorna a esse ponto na parede, passou-se um ano.

Agora, suponham que a roda gigante, girando lentamente anti-horário dentro do edifício esférico, tem a forma de um pneu oco e que nove esferas rolam dentro dele no sentido horário, cada uma a uma velocidade diferente. As nove esferas são os corpos celestiais. A esfera do sol rola ao redor do interior do pneu num dia; a esfera da lua demora um mês para completar o circuito; e assim por diante. Assim, a qualquer altura particular, um corpo celestial está situado num determinado signo e numa determinada casa, e esta posição muda continuamente. Uma carta (diagrama)-horóscopo é como uma foto tirada num momento específico, tal como no momento do nascimento de alguém, mostrando a posição de cada corpo celestial giratório na faixa do zodíaco rodando lentamente numa seção específica do céu, ou em cima da cabeça ou debaixo da terra.

Este sistema de corpos celestiais, signos e casas é o mesmo dos sistemas de astrologia tibeto-mongol, hindu indiano, grego antigo e ocidental moderno. Contudo, ao contrário dos últimos dois, os sistemas indiano e tibeto-mongol também dividem a roda gigante da eclíptica num segundo zodíaco de vinte e sete signos. Às vezes, eles põem vinte e sete assentos na roda gigante em vez de apenas doze. Eles usam o zodíaco de vinte e sete signos principalmente para os cálculos do calendário, efemérides e almanaque, e o de doze signos principalmente para os horóscopos.

Zodíacos Estrela-Fixa e Sideral

Os sistemas indiano e tibeto-mongol partilham uma outra característica a respeito do zodíaco que difere significativamente das características dos sistemas grego antigo e ocidentais modernos. Eles usam os zodíacos estrela-fixa ou sideral, enquanto que os últimos dois usam o zodíaco tropical. Para simplificar a discussão, deixem-me explicar a diferença em termos do zodíaco de doze signos que todos os quatro sistemas compartilham em comum. A diferença surge em termos de onde os sistemas colocam os doze assentos na roda gigante e de se os assentos permanecem fixos ou se giram extremamente lentamente.

Suponham que a própria roda gigante está dividida em doze seções, cada uma com o nome de um dos signos. Cada um dos assentos também tem o nome de um dos signos. Os sistemas tibeto-mongol e indiano colocam os doze assentos nas posições exatas na roda gigante em que as seções que têm os mesmos nomes começam. O assento do carneiro é situado no começo da seção do carneiro na roda gigante e nunca se move dessa posição. A astrologia tibeto-mongol e indiana, portanto, usam o zodíaco da estrela-fixa.

Ambos os sistemas grego antigo e ocidental moderno colocam o assento do carneiro em qualquer ponto da roda giganteem que a esfera do sol esteja situada no exato momento do equinócio da primavera na Índia – no momento em que o dia e a noite são de igual duração. Porque nesse dia o sol passa diretamente acima no Trópico de Câncer, esta colocação dos signos no céu é chamada de zodíaco tropical.

Há milhares de anos atrás, o ponto do equinócio estava situado no começo da seção do carneiro da roda gigante. Desde então, tem rastejado para trás de maneira extremamente lenta. Este fenomeno é conhecido como a precessão do equinócio. O ponto do equinócio está agora aproximadamente vinte e três graus atrás, dentro da seção peixes da roda gigante, imediatamente atrás da seção carneiro. Assim, os sistemas grego antigo e ocidental moderno colocam atualmente o assento do carneiro a sete graus na seção peixes da roda gigante. Cada ano, eles movem os assentos para trás um pouquinho de nada. Eles referem-se às posições dos corpos celestiais de acordo com o zodíaco definido pelos assentos, enquanto que os sistemas indiano e tibeto-mongol referem-se às suas posições de acordo com o zodíaco definido pela própria roda gigante. Assim, um planeta a zero graus carneiro do zodíaco tropical está a sete graus peixes do zodíaco estrela-fixa – ou seja, a posição tropical menos vinte e três graus.

A observação do céu revela que zero graus carneiro do sistema ocidental corresponde na verdade à posição observada da constelação carneiro. Isto porque a Via Láctea, a galáxia que contem as constelações do zodíaco, gira ao redor do seu centro, causando o fenomeno observado da precessão do equinócio. Visto que os sistemas tradicionais indiano e tibeto-mongol nunca dependeram da observação empírica, mas derivaram as posições dos corpos celestiais unicamente de modelos matemáticos, mal importava que as posições calculadas não correspondiam às observadas. Os astrólogos indianos, tibetanos, e mongóis tradicionais não estavam interessados em confirmar os seus cálculos olhando para o céu.

Posições Calculadas e Observadas dos Planetas

A Índia tornou-se pela primeira vez familiar com os observatórios astronômicos no século XVII através dos conquistadores mogul, que aprenderam a construí-los dos árabes. As posições observadas dos corpos celestiais diferiam significativamente das calculadas tradicionalmente. Mesmo se os indianos adicionassem vinte e três graus às posições calculadas, os seus modelos matemáticos continuavam a não dar resultados exatos. Quando, sob domínio britânico no século seguinte, os astrólogos indianos aprenderam as fórmulas européias para calcular as posições planetárias e viram que davam resultados que podiam ser verificados, a maioria decidiu abandonar os sistemas de cálculo hindus tradicionais e as efemérides deles derivadas. Em seu lugar, os reformadores adotaram as posições observadas e calculadas pela matemática ocidental, subtraindo simplesmente vinte e três graus para traduzi-las ao zodíaco estrela-fixa.

Uma crise semelhante está agora ocorrendo na astrologia tibeto-mongol, como aconteceu há vários séculos atrás com a astrologia hindu indiana. Como os astrólogos tibetanos e mongóis estão se familiarizando com ambos os sistemas ocidental e indiano, eles apercebem-se que embora as fórmulas matemáticas de Kalachakra dêem posições para os corpos celestiais que diferem daquelas derivadas dos sistemas hindus clássicos, elas ainda assim não dão uma imagem exata que corresponde à observação. A grande questão é a de abandonar ou não a matemática tradicional e seguir ou não o exemplo dos reformadores hindus e adotar as posições do zodíaco ocidental ajustadas para a precessão do equinócio. Existem prós e contras para cada uma das escolhas. Até mesmo hoje, o debate continua entre os astrólogos hindus indianos.

A Relação com o Carma

Os ensinamentos budistas enfatizam que a astrologia não acredita que tudo esteja sob uma influência vinda de deuses vivendo nos astros celestiais que, pelos seus próprios poderes, independentemente, fazem com que coisas aconteçam nas nossas vidas. Nem os próprios corpos celestiais exercem uma influência real. Essas coisas são impossíveis. Em vez disso, o budismo afirma que as posições dos corpos celestiais num horóscopo meramente espelham/refletem uma parte dos potenciais cármicos com que uma pessoa é nascida.

Vários espelhos refletem partes dos nossos potenciais cármicos e fazem-no em forma de padrões. Podemos ver estes padrões não só na configuração de corpos celestiais durante os nossos nascimentos, mas também na nossa composição genética, nas nossas personalidades, comportamento, e vidas em geral. Para qualquer pessoa, todos estes padrões são sincronísticos. Ou seja, todos ocorrem num pacote como o resultado da acumula ção de forças cármicas de vidas passadas. Desse ponto de vista, não importa se a posição calculada para os corpos celestiais corresponde ao que é observado no céu. Portanto, a decisão de ou manter as posições dos corpos celestiais calculadas pelas fórmulas tradicionais de Kalachakra ou de adotar as posições observadas aceitadas no ocidente, ajustando para a precessão do equinócio, não é nada fácil. Determinar que decisão dê a informação astrológica que corresponde mais exatamente às vidas das pessoas requer muita pesquisa e análise.

Horóscopos Preditivos

Uma coisa a investigar é o horóscopo preditivo, que prediz o que mais provavelmente irá acontecer durante vários períodos da vida de uma pessoa. Tal como no horóscopo natal e nas efemérides, nove corpos celestiais estão envolvidos: o sol, a lua, Mercúrio, Venus, Marte, Júpiter, Saturno, e o que no ocidente chamamos de "nodos lunares norte e sul". Deixem-me voltar à nossa imagem da roda gigante, em forma de pneu, com as esferas do sol e da lua rolando ao redor da trilha interna do pneu. Isto descreve as órbitas do sol e da lua. As duas órbitas não são exatamente paralelas, mas cruzam-se em lados opostos do pneu. Os pontos da interseção são os nodos lunares norte e sul. Quando o sol está num dos pontos e a lua exatamente no outro, um eclipse lunar ocorre. Um eclipse solar acontece quando o sol e a lua encontram-se em qualquer das duas interseções. A maioria dos sistemas antigos de astronomia e astrologia consideram os nodos lunares como corpos celestiais. O budismo chama-lhes Rahu e Kalagni, enquanto que os sistemas hindus chamam-lhes Rahu e Ketu. Eles constituem o oitavo e o nono corpos celestiais.

A astrologia preditiva tibeto-mongol calcula a duração mais provável da vida de uma pessoa. Divide então a duração da vida em períodos governados por cada um dos nove corpos celestiais numa ordem fixa. Cada corpo celestial governa por um certo período – uma certa percentagem da duração da vida – de acordo com uma proporção fixa. A percentagem para cada é diferente. Calculamos qual corpo governa o primeiro período da vida de uma pessoa e, calculando a percentagem da duração da vida governada por esse corpo, derivamos o comprimento do primeiro período. Podemos subdividir cada período da duração da vida pelas mesmas proporções, e tornar a dividir as subdivisões. Comparando as forças no diagrama natal dos corpos celestiais governando um período, sub-período, e divisão do sub-período específicos, chegamos à interpretação do que mais provavelmente irá acontecer à pessoa durante esse tempo.

Os sistemas hindus indianos de astrologia preditiva assemelham-se ao tibeto-mongol, mas diferem significativamente a vários níveis. Os sistemas hindus não calculam duração de uma vida. Os nove corpos celestiais governam na mesma ordem e proporções fixas que no sistema tibeto-mongol; mas em todos os casos, os períodos governados pelos nove somam um total de 120 anos. Assim, se a percentagem que um corpo celestial governa for dez por cento, governará por doze anos na vida de todos. A única diferença entre os diagramas das pessoas é quando esses doze anos ocorrem na vida. Determinamos isto calculando onde, no ciclo de 120 anos, começa a vida de alguém. A maioria das pessoas morre antes da idade de 120, e assim esse período pode nem sequer ocorrer antes deles falecerem. No sistema tibeto-mongol, todos os nove períodos ocorrem durante a duração da vida de todos e, se a percentagem que um corpo celestial governa for dez por cento e a duração da vida for de apenas 60 anos, o período desse corpo é somente seis anos.

Cálculos Negros e Astrologia Chinesa

Os cálculos negros na astrologia tibeto-mongol, derivados dos sistemas chineses, adicionam diversas variáveis adicionais para a astrologia preditiva. Um aspecto vem dos ciclos de doze animais – rato, porco, macaco, e assim por diante – e de cinco elementos – terra, água, fogo, madeira e ferro. Juntos, eles fazem sessenta combinações, tais como o cavalo-ferro ou o tigre-madeira na variante tibetana. A tradição mongol substitui para os nomes dos elementos os nomes das cores associadas a eles, tais como o cavalo-negro ou o tigre-azul. Os diagramas natais contêm combinações para o ano, mês, data, e período de duas horas da altura do nascimento. Calculamos a combinação do elemento-animal que governa cada ano da vida e, comparando-os com as combinações natais, derivamos uma informação preditiva adicional para esse ano.

Os cálculos negros também contêm um sistema de oito trigramas e de nove números de quadrados-mágicos. Um trigrama é uma combinação de três linhas, sólidas ou quebradas, como encontradas no clássico chinês I Ching (O Livro das Mudanças). Os números de quadrados-mágicos derivam de um quadrado, dividido em nove quadrados menores , em cada um dos quais está um número, de um a nove, arranjado de tal forma que a soma dos três números na horizontal, vertical, ou diagonal iguala sempre a quinze. Do trigrama e número de quadrado-mágico do ano natal, calculamos os trigramas e números progressivos para cada ano da vida, o que dá informação preditiva adicional. Todas as informações derivadas dos cálculos negros e brancos são correlacionadas e interpretadas para produzir o completo horóscopo preditivo tibeto-mongol. Para maior precisão, podemos adicionar a informação branca e negra do almanaque a respeito dos dias e das horas auspiciosas e inauspiciosas. Precisamos tomar em consideração todos os fatores que afetam um determinado período porque, do ponto de vista de uma variável, o momento pode ser favorável, mas do ponto de vista de outra, pode ser desfavorável. A interpretação dos diagramas na astrologia tibeto-mongol é uma arte complexa.

Predição da Duração da Vida

Habilidade na interpretação é ainda mais difícil porque muitos problemas surgem dentro do sistema. Às vezes, quando calculamos a duração da vida de uma pessoa, descobrimos que, de acordo com as fórmulas matemáticas, ela devia ter morrido há anos. Outro cálculo revela que se a pessoa fizer muitas coisas positivas ela poderá prolongar a duração da vida por uma certa percentagem. Mesmo assim, muitas pessoas já deviam estar mortas. Além disso, podemos perguntar: quantas coisas positivas devemos fazer para prolongar a duração da nossa vida? Tambem, será que existem apenas duas possibilidades, a duração normal e uma prolongação da vida? Ou então, se só fizermos pequena quantidade de coisas positivas ou a nossa motivação for impura, ainda assim será que poderíamos prolongar a duração da nossa vida um pouco mais apenas?

A situação torna-se ainda mais confusa quando examinamos os textos de diferentes mestres de astrologia tibetanos e mongóis em várias épocas cobrindo a história do seu desenvolvimento. Eles discordam sobre os cálculos para a duração da vida de uma pessoa. Alguns tomam a longa duração de vida ideal como 120 anos, outros 100 anos, e outros 80 anos. Dependendo do que escolhermos, o cálculo de quanto tempo alguém viverá e o que acontecerá durante a vida da pessoa difere. Qual deles está correto? Seria melhor seguir o exemplo da astrologia hindu indiana e não calcular a duração da vida? Mesmo se déssemos esse passo, há várias tradições de astrologia tibeto-mongol; os calendários calculados por cada uma diferem ligeiramente; portanto, existe uma variedade ainda maior de predições com respeito ao curso da vida de uma pessoa.

Aferramento à Verdade

A astrologia tibeto-mongol não é única em ter diversas tradições variantes, cada uma produzindo diagramas preditivos ligeiramente diferentes. Os sistemas ocidental, hindu indiano e chinês compartilham desta característica. Quando as pessoas se apercebem desta situação, geralmente sentem-se desconfortáveis. Inseguras, fixam-se a si mesmas como existindo como um "eu" sólido e intrinsecamente encontravel e aferram-se ao que irá acontecer nas suas vidas como existindo intrinsecamente como eventos fixos. Com base nesta confusão, querem desesperadamente que os seus "eus" independentemente existentes estejam em controle do que irá acontecer ou pelo menos saber o que irá acontecer, para se poderem preparar. Quando confrontadas com a idéia de que muitas coisas poderiam acontecer, elas sentem que as suas vidas como "eus" solidamente existentes estão fora do seu controle.

A frustração que elas sofrem assemelha-se à sua resposta quando um mestre tibetano ou mongol ensina um (texto) clássico budista e explica que, do ponto de vista de tal sistema filosófico neste texto monástico, isto significa isto. Porém, de acordo com cada um dos outros textos, significa aquilo ou aquilo; dos pontos de vista dos outros sistemas filosóficos, cada texto tem ainda uma outra interpretação; e cada uma das outras tradições budistas tibeto-mongol explica-o de um modo ainda diferente. Confrontados com tantas alternativas, a maioria dos ocidentais responde: "mas, o que é que isso realmente significa?" Talvez o pensamento bíblico os tenha influenciado inconscientemente - um Deus, uma Verdade – de tal modo que se aferram a uma verdade única – intrinsecamente existente - do que um ensinamento realmente significa. Da mesma forma. Também consideram a informação astrológica e procuram respostas definitivas a respeito do que vai acontecer.

Se nos agarrarmos à idéia de que a realidade existe desta maneira impossível, iremos ficar decepcionados e frustrados com a informação que obtemos da astrologia tibeto-mongol. Para tirarmos proveito dela, precisamos considerar a informação a partir de um ponto de vista completamente diferente – do ponto de vista dos ensinamentos budistas sobre o carma e a vacuidade. A informação astrológica descreve o samsara – renascimento e o decurso de cada vida ocorrendo incontrolavelmente sob a influência do carma. Para nos libertarmos deste ciclo vicioso precisamos compreender a vacuidade – o fato que tudo, incluindo as nossas personalidades e os acontecimentos nas nossas vidas, é vazio de maneiras impossíveis de existir. Por conseguinte, precisamos compreender o carma e a vacuidade.

Potenciais Cármicos Versus Pré-Determinação

Kaydrubjey, um grande mestre tibetano, explicou-o muito bem. Num comentário sobre Kalachakra Tantra, ele escreveu que se a astrologia revelasse toda a informação acerca de alguém, então um ser humano e um cão nascidos no mesmo lugar e ao mesmo tempo teriam as mesmas personalidades, as mesmas durações de vida, e as mesmas coisas lhes acontecendo durante as suas vidas. Obviamente, esse não é o caso. A razão é que a astrologia não nos dá toda a informação acerca de alguém. Muitos outros fatores influenciam o curso da vida de um indivíduo. Efeitos vêm de enormes redes de causas e circunstâncias; o carma e as leis de causa e efeito comportamental são extremamente complexos. Desde tempos sem começo, nós temos acumulado causas cármicas para as experiências em cada um dos nossos renascimentos. Um diagrama astrológico, não importa quão detalhado e sofisticado, nos da apenas uma pequena idéia de um aspecto de um padrão de carma que nós temos. Pode haver uma grande probabilidade que certos acontecimentos irão acontecer de acordo com este diagrama; mas não podemos ignorar as probabilidades mais pequenas que outras coisas podem acontecer além, ou em vez, disso. Nada é intrinsecamente fixo. Refutando essa maneira impossível de existir, podemos superar o nosso hábito profundamente enraizado de nos agarrarmos a um eu solidamente existente que sabe o que realmente irá acontecer e, assim, está sempre controlando tudo.

Considerem a informação que derivamos das várias tradições médicas. A medicina ocidental descreve o corpo como uma complexa rede de vários sistemas: circulatório, nervoso, digestivo, e assim por diante. A medicina tibeto-mongol descreve sistemas de chakras e de canais de energia. A medicina chinesa delineia meridianos e pontos de acupuntura. Se você protestar e perguntar: "mas, qual é verdade? Que sistema descreve o que está realmente acontecendo no corpo?", teríamos de responder que todos estão corretos. Cada um dá uma peça válida de informação sobre o corpo que permite um tratamento médico com sucesso.

O mesmo passa-se com a astrologia. Os sistemas ocidentais com o zodíaco tropical produzem um grupo de informação. Os sistemas hindu indiano e tibeto-mongol com o zodíaco estrela-fixa dão outros resultados. Os sistemas de astrologia chinesa tradicional revelam informação adicional, enquanto que os cálculos negros derivados da China que os tibetanos e os mongóis usam dão-nos outras informações. Dentro das tradições de astrologia tibeto-mongol, se usarmos os sistemas que calculam durações máximas de vida de 120, 100, ou 80 anos, obteremos três imagens diferentes do que poderá vir a acontecer durante o curso de uma vida. A maneira de lidar com todas estas informações aparentemente contraditórias é vermos que cada sistema descreve uma possível configuração cármica que também tem uma certa probabilidade de poder realmente vir a acontecer.

Cada um de nós tem potenciais para um número enorme de configurações cármicas e, assim, um número enorme de possíveis vidas que poderíamos viver. A orientação não é em termos de tentar aprender o que irá definitivamente acontecer amanhã – devo comprar mais ações na bolsa de valores amanhã; irá ser o meu dia de sorte? A orientação correta é em termos de funções de probabilidade. Se a nosso diagrama revelar que devíamos ter morrido há dez anos, vai nos dar uma idéia que acumulamos o carma para termos uma vida curta. Essa é uma possibilidade do nosso legado cármico. Porém, o que amadurece numa certa vida depende de circunstâncias e condições. Considerem o número enorme de pessoas que morrem num desastre natural – um terremoto ou uma bomba atômica. Certamente, nem todos os horóscopos indicarão que ele ou ela irá morrer nesse dia. As circunstâncias e as condições externas não indicadas nos diagramas afetam o que acontece.

Por conseguinte, um diagrama astrológico é como um relatório do tempo: dá-nos uma idéia do que é altamente provável acontecer, mas que, de fato, pode não vir a acontecer. Pode chover hoje, e por isso levamos um guarda-chuva como precaução. Se acontecer não chover; nenhum mal foi feito. De igual modo, se os nossos horóscopos indicarem que hoje iremos encontrar verdadeiro amor, ter sucesso nos negócios, ou o que quer que seja, se estivermos cientes disso como uma forte possibilidade, permaneceremos receptivos às oportunidades que possam neste dia surgir. Se nada acontecer, lembramo-nos que num horóscopo nada é fatalístico.

Purificação Cármica

Se nos desejarmos purificar de todos os possíveis diagramas astrológicos, que afinal é a meta do estudo da astrologia budista, precisamos tentar aprender lições de Dharma a partir dos nossos diagramas. Podemos aprender, por exemplo, que em todas as situações precisamos estar abertos e receptivos às boas oportunidades, e ter cuidado quando confrontados com perigos ou possíveis infortúnios. Se nossos diagramas indicarem que deveríamos ter morrido aos dez anos de idade e, obviamente, não morremos nessa altura, isto faz-nos pensar sobre as causas cármicas para uma vida curta. Morrer-se jovem resulta de ter-se matado ou prejudicado outros. Mesmo se esses resultados cármicos não amadureceram nesta vida, isto nos faz lembrar que acumulamos esse carma e que temos provavelmente as tendências para acumular mais. Por exemplo, podemos matar moscas sem prestar muita atenção, pensando que isso não faz mal. A curta duração de vida nos nossos diagramas pode inspirar-nos a trabalhar para a purificação destas tendências.

Um dos pontos principais que aprendemos a partir de um horóscopo tibeto-mongol, então, é lidar com as específicas causas cármicas dentro de nós. A ênfase não está em tentar encontrar o que irá definitivamente acontecer na nossa vida em tal e tal data. O estudo faz-nos mais responsáveis, ao invés de menos responsáveis. Se tudo que acontece fosse predeterminado, o que fizéssemos agora não teria efeito. Não poderíamos afetar nada do que nos acontece. Por outro lado, quando vemos que existem certas possibilidades relativamente ao que poderá acontecer, mas não necessariamente ao que irá acontecer, então somos responsáveis pelas escolhas que fazemos. Em vez do conhecimento de informação astrológica limitar as nossas mentes de tal modo que as nossas personalidades, os percursos das nossas vidas, e as interações dos outros conosco pareçam sólidas e fixas, a nossa compreensão conduz-nos às conclusões opostas. Vemos que tudo que acontece surge dependente de inúmeras causas e circunstâncias, e que aquilo que fazemos contribui para os cursos das nossas vidas.

O sistema astrológico tibeto-mongol pode parecer complicado, mas a vida é infinitamente mais complicada do que isso. Muitas mais variáveis afetam o que está acontecendo do que o que alguns corpos celestiais, signos, casas, animais, elementos, trigramas, e números em quadrados-mágicos possam representar. Cientes das incontáveis variáveis que afetam o que nos acontece na vida, a nossa visão confusa e rígida do mundo, da vida, de nós, e dos outros começa a relaxar. Este relaxamento abre o caminho para sermos capazes de ver a vacuidade em termos do surgimento dependente. Os cursos das nossas vidas são vazios de existir como coisas fixas, sólidas e independentemente estabelecidas. Em vez disso, eles acontecem dependentemente de milhões de fatores. Os horóscopos e a informação astrológica refletem apenas uma fração minúscula das variáveis que afetam (nossas vidas). Apesar disso, ao revelarem alguns dos possíveis eventos com mais alta probabilidade de acontecer, podem ajudar-nos a permanecer cientes do carma, da vacuidade e do surgimento dependente. Em luz disto, o fato de que a informação que obtemos da astrologia tibeto-mongol é frequentemente errônea é na verdade útil. Mostra-nos que a vida não é sólida e fixa. Muitos amadurecimentos do carma são possíveis.

Perguntas

O ano tibeto-mongol é calculado da lua e o ano ocidental do sol. Quais são as diferenças?

Os calendários tibetanos e mongóis combinam características lunares e solares. De acordo com a definição budista, o tempo é uma medida de mudança. Você pode basear as designações ano, mês, e dia nas medidas dos vários ciclos de mudança. Os calendários tibetanos e mongóis medem um mês da lua nova à lua nova. Doze ciclos de luas novas, ou seja, doze meses lunares, fazem menos do que um ano solar – a medida do período que o sol toma a completar o seu ciclo e regressar ao mesmo ponto no zodíaco. Como os calendários tibetanos e mongóis usam os meses lunares, porém os anos solares, eles requerem alguma compensação para encaixar juntamente os dois.

Assim como o calendário ocidental tem anos bissextos, onde se adiciona um dia cada quatro anos para compensar um ano solar que não consiste num número inteiro de dias solares, de igual modo, os calendários tibetanos e mongóis têm características "bissextas" para encaixar meses lunares nos anos solares. Às vezes adicionam um mês "bissexto" extra; e às vezes, de modo que as luas novas e cheias caiam em datas específicas do mês lunar, eles dobram ou omitem certas datas. As fórmulas e regras matemáticas são bastante complexas.

Qual é a derivação dos zodíacos de doze signos e de vinte e sete signos?

O zodíaco de doze signos deriva das constelações mais proeminentes no horizonte oriental quando o sol nasce em cada uma das doze luas novas num ano. O zodíaco de vinte e sete signos – em alguns cálculos, vinte e oito – deriva das constelações mais proeminentes no horizonte oriental quando a lua nasce cada uma das vinte e sete ou vinte e oito noites de uma lua nova à seguinte.

A astrologia tibeto-mongol diferencia entre os nascimentos nos hemisférios do norte e do sul?

Não. A astrologia tibeto-mongol não só não tem nenhuma característica para compensar o nascimento nos hemisférios do norte ou do sul, como também não toma em consideração lugares de nascimento diferentes ou zonas de tempo diferentes dentro do hemisfério norte. De novo, isto levanta a questão: deve-se emendar o sistema e adicionar estas características, como os sistemas hindus indianos tradicionais fizeram, ou se isso na verdade não importa?

Decidir esta questão requer extensiva pesquisa. O programa de computador que desenvolvi com um colega para calcular algumas das características brancas do calendário tibetano e efemérides mais extensamente usadas fornece uma das ferramentas básicas para se empreender o projeto. Os passos seguintes são adicionar os materiais do cálculo negro e programá-los nos cálculos para os diferentes sistemas tibeto-mongóis mudando os algoritmos para as variáveis em que diferem. Depois, os investigadores precisam entrar os dados do nascimento e morte para um número estatisticamente significante de pessoas, cujos cursos de vida e personalidades são bem conhecidas, e verificar que variantes para cada variável dão os resultados de maior confiança quando analisados de acordo com o sistema tibeto-mongol de interpretação de mapas. É claro que têm de levar em consideração que a astrologia nunca pode ser totalmente exata. Têm também de verificar os resultados obtidos ao adotar as posições dos corpos celestiais a partir das efemérides ocidentais, compensadas para a precessão do equinócio, e ao ajustar para diferentes hemisférios, lugares de nascimento, e zonas de tempo.

Pessoalmente, acredito que além do sistema de astrologia tibeto-mongol ser útil para obter conhecimentos relativos ao carma e à vacuidade, ele também pode fornecer informação convencional tão útil quanto aquela obtida dos horóscopos hindu ocidentais, indianos hindus, e chineses. Afinal, grandes mestres tibetanos e mongóis do passado confiaram nestes ensinamentos astrológicos e elogiaram-nos altamente. Não eram tolos.

Dedicação

Vamos terminar com uma dedicação. Que qualquer compreensão, energia e potenciais positivos acumulados por estarmos aqui escutando (esta palestra) possa contribuir para que todos, incluindo nós mesmos, sejamos capazes de superar todos os aspectos difíceis dos nossos horóscopos e todas as nossas maneiras incontroláveis de agir. Nossos diagramas (cartas) astrológicos não são simplesmente jogos de cartas que nos são dados, que desejamos aprender como jogar habilmente e ganhar. Que nos possamos libertar de jogar quaisquer jogos estúpidos de cartas, de modo a podermos usar ao máximo todos os nossos potenciais, para sermos da maior ajuda a todos.

Top