Entrevista com Tsenshap Serkong Rinpoche II

08:50
Studybuddhism falou com Tsenshap Serkong Rinpoche II em um jardim campestre, perto de Hamburgo, em sua recente turnê pela Europa.
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Study Buddhism: Pode se apresentar, por favor?

Serkong Rinpoche: Meu nome é Tsenshap Serkong Rinpoche, um título dado por Sua Santidade o Dalai Lama. Fui reconhecido como uma reencarnação quando tinha quase três anos e meio. Fui para o monastério e estudei vários textos.

Nasci em uma grande família em Spiti – tenho nove irmãos e irmãs. Sou o quarto filho. Mas não pude ficar muito tempo com minha família, meus irmãos e irmãs, porque eu fui morar no monastério. Spiti é um lugar bastante remoto, seco, parece um deserto. Fica em uma altitude bem elevada. A cultura e o povo local têm semelhanças com os tibetanos. Assim como os tibetanos, temos muito respeito uns pelos outros, e as pessoas têm um coração muito bondoso. É claro que muitas pessoas também têm uma grande fé cega.

Study Buddhism: Você foi reconhecido como a reencarnação de Serkong Rinpoche, um grande professor. Você sente que é a mesma pessoa que ele?

Serkong Rinpoche: Ah, é muito complicado responder isso! Primeiro, eu nunca o encontrei. A forma é diferente e também a mente tem uma certa diferença. Então, em geral, posso dizer que não me sinto como ele. A forma como ele praticou, o tamanho da devoção ao guru que ele tinha – eu realmente o admiro quando escuto falar de suas boas qualidades.

No entanto, eu realmente me sinto conectado à responsabilidade de Serkong Tsenshap Rinpoche de beneficiar as pessoas. Eu penso assim: “Quer eu seja a reencarnação dele ou não, estou tendo esta grande oportunidade.” Então, sinto que tenho grande sorte por ter esta oportunidade.

Study Buddhism: Será que você poderia falar um pouco mais sobre suas responsabilidades?

Serkong Rinpoche: Uma das coisas mais incríveis que o antigo Serkong Rinpoche fez foi servir à Sua Santidade o Dalai Lama. Também, graças à sua compaixão para com o povo de Spiti, ele fez conexões tremendas com esse povo, como também com tibetanos e alguns ocidentais na Europa e na América.

Então, tenho o mesmo desejo de servir Sua Santidade. A tarefa é um pouco diferente, é claro, pois o meu predecessor era um professor qualificado, e eu não chego nem perto disso. Ainda tenho que fazer estudos e práticas. No entanto, com a orientação de Sua Santidade, tentarei fazer o melhor possível em relação a qualquer coisa que ele quiser que eu faça.

Além disso, para continuar o que meu predecessor fez antes de mim, há tantas pessoas que desejam que eu lhes ensine, que querem fazer conexões kármicas comigo. Então, eu sinto que deveria fazer isso por elas.

Study Buddhism: Você cresceu em uma tradição muito monástica e tradicional. Recentemente, passou três anos vivendo no Canadá. Esta é uma mudança bem drástica. Como é que seu treino budista ajudou você a conviver com isso?

Serkong Rinpoche: Há muitas diferenças entre o meu estilo de vida monástico e o estilo de vida no Canadá. No monastério, tínhamos que seguir e respeitar vários tipos de regras diferentes. No entanto, se em algum momento você sentisse que não queria seguir essas regras, poderia ter a sensação de estar em uma prisão. Eu me sentia muito familiarizado com o estilo de vida monástico, mas é claro que algumas vezes não queria viver de acordo com ele.

É óbvio que quando mudei para o Canadá, não me tornei imediatamentecanadense! Fui estudar inglês e todos os meus amigos apenas me chamavam de Serkong, o que era bastante engraçado. Mas fiz bons amigos e cheguei a sentir que fazia parte daquele grupo. Eu via tantas diferenças entre a forma como as pessoas em casa e as pessoas no Canadá pensavam! Eu sentia: “Ah! É assim que as pessoas normais pensam!”

Quando eu estava no monastério, todos me tratavam de uma forma muito respeitosa. Mas entre os meus amigos no Canadá, não era nada assim. Isso realmente me ajudou a me lembrar que sou uma pessoa muito comum! No monastério eu sempre tinha meus talheres, meu copo e meu prato, dos quais ninguém mais comia. No Canadá, os meus amigos comiam sorvete e diziam: “Ah, experimenta isso, é tão gostoso!” Isso realmente fez com que eu me sentisse conectado com os outros.

Study Buddhism: Você passou toda a sua vida estudando o budismo. Se você tivesse que citar um bom motivo para ter feito isso, qual seria?

Serkong Rinpoche: Por que as pessoas deveriam estudar o budismo? Isso é muito pessoal! Tem a ver com o interesse de cada pessoa. Sua Santidade o Dalai Lama sempre diz que há a religião budista, a filosofia budista, e a ciência budista. Então, há muitas coisas diferentes que podem beneficiar diferentes pessoas.

Video: Tsenshap Serkong Rinpoche II — “Por Que Estudar Budismo?”
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Por exemplo, a compaixão. Os budistas falam muito nisso, mas apenas praticar a compaixão não faz com que você seja budista. Porém, para realmente gera-la com êxito, todos poderiam estudar os métodos budistas. Através desses métodos é possível melhorar a sua compaixão. Eu não acho que haja alguma pessoa que não queira melhorar a própria compaixão, pois se trata de algo tão lindo, não é mesmo?

Quando você começa a sentir que quer sair daquilo que chamamos de samsara – todos os nossos sofrimentos e problemas – então, pode se perguntar se deve realmente estudar mais. No entanto, em geral, há muitas grandes qualidades que podem ser conquistadas através do estudo do budismo, e sem a necessidade de se tornar budista.

Study Buddhism: Você vê alguma diferença entre a prática e a aplicação das técnicas budistas na Ásia e no Ocidente? Será que os ocidentais têm problemas específicos?

Serkong Rinpoche: Penso que há uma imensa diferença. É claro que na Ásia somos educados na tradição, então os nossos pais nos dizem: “Faça algumas circunvoluções e recite Om Mani Padme Hum” e nós fazemos isso automaticamente. Ao mesmo tempo, as pessoas têm bem pouca educação sobre o budismo. Elas sentem: “Esta é apenas a nossa tradição, mais nada.”

Quando dou ensinamentos em Spiti, todos escutam com muita atenção e acenam afirmativamente com a cabeça para qualquer coisa que eu diga. Depois que acabo, espero por perguntas sobre aquilo que eu disse e normalmente não há nenhuma. Vejo isso como um pequeno problema. Se não há dúvidas, então isso significa que não há um real interesse.

Não é assim no ocidente! As pessoas vão assistir às palestras sobre o budismo e realmente escutam o que é dito em relação aos pontos principais.Os ensinamentos realmente tocam seus corações! As pessoas analisarão e questionarão qualquer coisa que eu diga no ocidente, o que torna a fé muito mais forte.

É claro que a cultura tibetana está mudando completamente graças à orientação e generosidade de Sua Santidade. Mas essas ainda são as principais diferenças que vejo entre as sociedades ocidentais e do Himalaia.

Study Buddhism: Você acha que é possível estudar e praticar o budismo realmente bem no ocidente, ou precisamos ir para a Ásia para estudar?

Serkong Rinpoche: Antes era necessário ir à Índia para escutar os professores realmente bons e qualificados. Mas hoje em dia, graças à tecnologia, a coisa ficou realmente conveniente para as pessoas que querem ter acesso aos materiais do Dharma.

Video: Tsenshap Serkong Rinpoche II — “Estudando Budismo no Oriente e Ocidente”
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Em muitos países agora também há muitos centros budistas com muitos geshes e professores qualificados, assim sendo, não há mais necessidade de ir à Índia.

Study Buddhism: Os jovens têm vidas muito ocupadas. Querem trabalhar e se divertir, mas muitos também querem estudar o budismo. Qual seria o melhor conselho que você poderia lhes dar?

Serkong Rinpoche: Bem, eles ainda têm que estudar um pouco. Eu sei que os ocidentais têm um hábito notável que faz com que, onde quer que estejam – em um avião ou trem – gostem de ler livros. Pois então, que leiam livros sobre o budismo. Quando tiverem dúvidas sobre a leitura que estão fazendo, que perguntem a um professor ou procurem a resposta na Internet.

Então, se aprenderem algo, que tentem manter este aprendizado no cotidiano. Devagar, conseguirão alcançar um objetivo mais elevado. É claro que, quanto maior for o objetivo, maior será o resultado.

Study Buddhism: Há muitos votos. Algumas pessoas veem votos como uma prisão que nos impede de nos divertir. Qual a sua opinião em relação a isso?

Serkong Rinpoche: É claro que, se um voto estiver impedindo que você faça algo que quer fazer, então terá a sensação de que está em uma prisão. Mas ninguém nos está punindo nem forçando a fazer votos. Fazemos votos de forma voluntária e eles se tornam uma grande oportunidade para a nossa prática budista.

Study Buddhism: Algum conselho em relação a meditações curtas para os jovens no ocidente?

Serkong Rinpoche: Eu sugeriria que pensem mais sobre a compaixão e a consciência. Sem a compaixão, não temos nada. Precisamos de compaixão para com nós mesmos e para com os outros também.

Study Buddhism: O que são bênçãos?

Serkong Rinpoche: Esta é uma pergunta muito boa! Na Ásia, muitas pessoas pensam que essa ou aquela substância é sagrada, então deveríamos comê-la para obter bênçãos. Não creio que as bênçãos funcionem assim – elas requerem fé.

Tive um amigo cujo pai ficou internado em um hospital por muito tempo. Ele não podia dormir e o médico lhe deu algumas pílulas por muitas semanas. Então, o médico disse que ele estava bem e não precisava mais delas, pois podia dormir normalmente. Ele tentou de novo e de novo, mas não conseguia dormir sem as drogas. Ele chamou o médico e implorou pelo remédio, então o médico concordou. No próximo dia, o médico perguntou como ele dormiu, e o pai de meu amigo disse que dormiu muito bem. O médico então contou a ele que tinha lhe dado um placebo.

Acho que isso demonstra que quando há um objeto no qual temos algum tipo de fé, há certo poder envolvido nisso. Ele se torna uma bênção.

Dr. Alexander Berzin e Tsenshap Serkong Rinpoche II
Dr. Alexander Berzin e Tsenshap Serkong Rinpoche II

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