Renunciando ao Sofrimento do Samsara

O Sofrimento dos Planos Mais Elevados de Existência

Uma pessoa realmente espiritualizada, ou praticante do dharma, é alguém que trabalha para melhorar suas vidas futuras. Tal pessoa, em um nível inicial, segue a ética de evitar as dez ações destrutivas. Ela se engaja em ações construtivas a fim de obter um renascimento melhor e assim por diante. Tal pessoa tem um nível inicial de motivação. Ao tomar refúgio, ou seja, ao dar uma direção segura e positiva em sua vida, dessa maneira, ela conseguirá renascer como um ser humano ou um deus. Mas não podemos nos satisfazer apenas com isso. Pois, mesmo que renasçamos como um ser humano ou um deus, ainda assim será um tipo compulsivo de existência, e o tipo de felicidade que se consegue com esses renascimentos é a felicidade mundana e perecível.

De fato, todos esses estados que se pode alcançar são apenas exemplos de verdadeiros sofrimentos ou verdadeiros problemas. Tendo como base um renascimento humano ou como um deus, é possível se alcançar um estado mental tranquilo e estável, uma mente de shamata, quietude mental. E, tendo como base uma mente tão calma e estável, é possível renascer em um dos planos superiores da existência, um dos reinos mais elevados. Nesse estágio, se renascermos no plano das formas etéreas (o reino da forma), por exemplo, não manifestaremos quaisquer emoções ou atitudes perturbadoras associadas ao plano dos desejos sensoriais (o reino do desejo). Da mesma forma, se renascermos no plano dos seres sem forma (o reino sem forma), não manifestaremos quaisquer emoções ou atitudes perturbadoras associadas ao plano das formas etéreas. À medida que ascendemos a estes planos mais elevados de existência nos vários reinos de deuses, os estados tornam-se ainda mais notáveis, um após o outro. Por exemplo, o chão nesses planos de existência é feito de joias. Os corpos dos vários seres são belos e primorosos, e os vários aspectos que os diferenciam tornam-se ainda mais maravilhosos à medida que ascendemos.

No entanto, mesmo que nasçamos em um desses planos superiores de existência, onde tudo é tão maravilhoso e agradável, ainda assim teremos um tipo compulsivo de existência. Ainda assim teremos que vivenciar os problemas incontrolavelmente recorrentes do samsara. Por exemplo, podemos renascer em um desses planos mais elevados, mas depois acontecer a situação incontrolavelmente recorrente de cair em um renascimento em um plano inferior. Portanto, podemos até renascer em um plano mais elevado, subir e descer; mas, na verdade, a maior parte do tempo nós passamos nos vários estados piores de renascimento. Essa não é uma situação satisfatória, é como subir no topo de um arranha-céu: quando chegamos lá, a única coisa que nos resta a fazer é descer.

Podemos ver que renascer como um humano ou como um deus não é essencialmente bom, e continuamos tendo problemas incontrolavelmente recorrentes. Quando percebemos e compreendemos isso, pode surgir uma dúvida em nossa mente, de que talvez não seja necessário tentar obter um desses renascimentos, e, portanto, não seja necessário manter a ética de abster-se das dez ações destrutivas para renascer como um humano ou como um deus. Mas a questão não é satisfazer-se apenas em obter um desses renascimentos melhores, mas sim desejar obter tais renascimentos a fim de ser mais capaz de beneficiar os outros e de progredir espiritualmente. Não poderemos fazer nada disso se não obtivermos tais renascimentos.

Top