Tipos de Problemas que as Pessoas Têm Atualmente
Alguns problemas existem desde que existem pessoas neste planeta, e provavelmente até antes disso, quando só havia animais: são os problemas de relacionamento, os problemas que vêm da raiva, das brigas, das disputas. São problemas que todo mundo enfrenta desde sempre; portanto, não existe nada de especial sobre o que você ou eu vivemos agora. E claro que existem problemas mais recentes, que tornam tudo mais difícil, como os problemas econômicos, as guerras e assim por diante. As pessoas sentem esses problemas cada vez mais. E não estão encontrando soluções para eles, para lidar com eles em um nível pessoal, especialmente no que diz respeito às suas emoções e mente. Elas não estão encontrando soluções para esses problemas com o que já existe disponível.
Mas uma das maravilhas do mundo moderno é a comunicação, especialmente no que chamamos de A Era da Informação, e mais ainda na Era da Mídia Social. Isso significa que temos cada vez mais informação disponível sobre diversos sistemas alternativos. E muitos dos grandes líderes budistas, como Sua Santidade o Dalai Lama, viajam pelo mundo. E muitas pessoas têm testemunhado, visto com seus próprios olhos, pessoas que conseguiram desenvolver-se até atingir um nível extraordinário e terem uma mente pacífica, calma e amorosa mesmo quando enfrentando situações das mais difíceis, como perder o próprio país. Isso aumenta a inspiração que uma pessoa viva proporciona, que é um complemento muito importante à informação pura e simples que obtemos na internet e nos livros.
Portanto, as pessoas procuram o budismo principalmente porque estão buscando uma solução para os problemas que enfrentam e têm a esperança de que o budismo vai lhes oferecer uma maneira de lidar com a vida. O motivo é mesmo, tanto quando o budismo vem de fora quanto quando é um sistema já tradicional de um povo.
O Lado Racional do Budismo
Agora, nesse âmbito de olhar para o budismo em busca de soluções, diferentes pessoas verão diferentes aspectos. Se olharmos para o que Sua Santidade o Dalai Lama enfatiza, veremos que ele enfatiza o lado racional, analítico e prático do budismo, e isso atrai muitas pessoas. Ele salienta que o método budista é muito semelhante ao método científico, ou seja, não aceitamos as coisas com base em devoção e crença cega. Seguimos o método científico de usar a lógica e a razão, a análise profunda e a abordagem pragmática de testarmos em nós mesmos as coisas – experimentando e vendo se os métodos ensinados no budismo realmente produzem os resultados que dizem produzir no que diz respeito à paz de espírito e a lidar melhor com os problemas. E somos muito práticos em nossa abordagem, não somos idealistas, observamos o que é realista, o que realmente vai nos ajudar no dia a dia.
Além disso, se existirem aspectos dos ensinamentos tradicionais budistas comprovadamente incorretos, ou inconsistentes com os achados da ciência – por exemplo, no que diz respeito à estrutura do universo – Sua Santidade ficará bastante feliz em tirar isso dos ensinamentos budistas e substituir pela visão da ciência. Não há contradição nisso, pois o budismo enfatiza a realidade, e não a fantasia, e o Buda não veio nos ensinar geografia, mas sim formas de lidar com os problemas da vida. E os ensinamentos tradicionais sobre o tamanho do nosso planeta, a distância entre a Terra e o Sol, entre a Terra e a Lua e coisas do gênero, foram ensinadas da forma tradicional, a forma como as pessoas de dois mil e quinhentos anos atrás entendiam. Portanto, os ensinamentos tradicionais sobre isso não são realmente importantes; esse não é o aspecto principal dos ensinamentos do Buda. E Sua Santidade desafia os cientistas a refutar, por exemplo, o renascimento, e não apenas descartar com base em “Eu acho que não”. “Eu acho que não” não é um motivo válido para se dizer que algo não existe.
Isso é algo que certamente atrai pessoas com uma mente mais racional. E existe muito do que chamamos de “fertilização cruzada” entre o lado budista, liderado por Sua Santidade o Dalai Lama, e o lado dos cientistas, especialmente no campo da medicina. Um dos pontos principais dos ensinamentos budistas nesse campo diz que nossa saúde é muito afetada por nosso estado mental. Se formos muito pessimistas – muito negativos, sempre preocupados com “eu, eu, eu” – nosso sistema imunológico fica mais fraco, a doença piora e não conseguimos nos recuperar facilmente. Já se formos otimistas, se pensarmos em nossa família e também em todas as pessoas que têm a mesma doença, não ficaremos reclamando o tempo todo. Nossa mente e coração ficarão muito mais em paz e isso fortalece o sistema imunológico. Cientistas têm feito várias investigações sobre esses aspectos e mostrado que são verdadeiros. Por isso, existem vários hospitais atualmente que encorajam o uso desses métodos.
Também existem vários métodos budistas que ajudam no controle da dor. A dor por si só já é ruim, e se você acrescenta medo e tensão emocional, ela só piora. O budismo ensina vários métodos que têm como base a meditação com foco na respiração e que ajudam a lidarmos melhor com a dor. Esses métodos também foram testados e seu uso incentivado em hospitais. E eles não precisam vir dentro de um pacote budista. Não é preciso explicar os ensinamentos budistas em todos os detalhes para que as pessoas possam praticar esses métodos. São métodos universalmente disponíveis, que qualquer pessoa pode adotar, independentemente de suas crenças. Mas por derivarem dos ensinamentos budistas, as pessoas acabam ficando curiosas e querendo saber mais sobre o budismo. Vimos o mesmo tipo de fenômeno acontecer com os praticantes de artes marciais. As artes marciais desenvolveram-se nas sociedades budistas, então muitas pessoas que praticam arte marcial acabam se interessando pela base budista desses ensinamentos.
A Inspiração Que Vem dos Professores Espirituais
Mas é claro que existem pessoas que não são muito orientadas à razão, não abordam a vida de uma maneira muito científica, então são atraídas por outros aspectos do budismo. Um desses aspectos eu deixei subentendido quando me referi à inspiração que vem dos grandes mestres espirituais: com cada vez mais mestres espirituais viajando pelo mundo, disponibilizando seus ensinamentos em livros, áudios e vídeos na internet, as pessoas mais devocionais ficam muito inspiradas. Quando as pessoas se desapontam com os líderes que conhecem, seja na esfera econômica, política ou outra qualquer – quando elas estão desapontadas – elas veem nesses mestres budistas um sinal de esperança, de que vão encontrar alguém mais puro.
Mas, logicamente, precisamos ser realistas: Nem todo professor espiritual budista é totalmente puro. Afinal, eles são humanos, assim como nós. Portanto, eles têm seus pontos fortes e seus pontos fracos. Mas muitos são realmente extraordinários, e as pessoas sentem-se muito inspiradas por eles – algumas pessoas, devo dizer – principalmente por Sua Santidade o Dalai Lama. O que surge em suas mentes e corações é: “Queria ser assim”. Eles servem como um modelo daquilo que podemos ser, cada um de nós, individualmente. Pessoas como Sua Santidade o Dalai Lama sempre dizem: “Não há nada de especial a meu respeito”. De fato, o Buda também disse “Não há nada de especial a meu respeito. Comecei da mesma forma que você. Tinha, e tenho, o mesmo material de trabalho que você: mente, coração, valores humanos básicos de cuidar dos outros e assim por diante. E trabalhei muito duro para desenvolvê-los. Se você também trabalhar duro, também poderá desenvolvê-los”. Portanto, pessoas como Sua Santidade o Dalai Lama procuram não encorajar os outros a colocá-las em uma posição muito elevada, como se fossem pessoas super santas e, portanto, impossível de nos identificarmos ou ficarmos igual a elas. Isso atrai muito as pessoas devocionais, que não têm uma abordagem muito científica da vida.
Revitalizando uma Tradição de Prática Budista
Em lugares que eram tradicionalmente budistas, mas onde por várias circunstâncias o budismo declinou, existe uma tentativa, nos dias de hoje, de revitalizar a tradição. Essa é uma abordagem muito importante e válida, pois, ao enfrentarmos os desafios da modernização, é muito importante termos autoconfiança e um sentido de valor próprio. Se nos disserem que tudo aquilo em que nossos ancestrais acreditavam é besteira, e que se realmente quisermos fazer parte do mundo moderno temos que esquecer de tudo isso, teremos uma opinião muito ruim a nosso respeito e a respeito de nossos ancestrais. Isso nos fará achar que não temos valor, que somos idiotas. E com essa crença, com essa crença emocional, ficaremos sem qualquer sentido de valor próprio e autoconfiança; não teremos uma base da qual nos orgulhar e a partir da qual crescer. Portanto, olhar para nossos costumes e crenças tradicionais e revitalizá-los é muito importante, acredito, para nos termos uma base emocional para crescermos e nos modernizarmos.
Agora, é claro que em todas as tradições existirão pontos fortes e também fraquezas, e talvez as pessoas possam ter abusado dessas fraquezas, por isso é importante enfatizarmos os pontos fortes. Em uma das escolas da psicologia moderna, enfatiza-se muito o princípio da lealdade: todos têm o impulso de ser leal à família, ao clã, à religião, o que seja. E a lealdade pode tomar duas direções, a lealdade às qualidades positivas ou a lealdade às qualidades negativas. Por exemplo, se uma tradição tem a qualidade negativa de ser intolerante em relação a outras tradições, e isso é o que foi enfatizado nessa tradição, então as pessoas que rejeitam outra tradição estarão sendo leais à atitude de intolerância. Elas rejeitam a outra tradição, e, portanto, são muito intolerantes em relação a qualquer pessoa que a siga. Isso é a lealdade negativa ou mal colocada. Por outro lado, se a pessoa não nega os pontos fracos da tradição, mas enfatiza os aspectos positivos, as pessoas podem ser leais aos aspectos positivos sem tentar não enxergar os pontos fracos, o que poderia leva-las a repeti-los. Esse é um outro ponto que atrai as pessoas para o budismo, especialmente em locais onde o budismo já foi o sistema tradicional. Isso tornou-se uma forma de ajudar a revitalizar e desenvolver um sentido de valor próprio e valorização da cultura, dos ancestrais e de si mesmo.
O Lado Exótico do Budismo
Existe um grupo de pessoas que se interessa pelo budismo por causa de suas próprias fantasias. Elas têm problemas e buscam uma solução mágica, exótica, e o budismo – especialmente a versão tibetana/mongol/calmuca – é cheio de exotismos: as várias deidades com todas as suas faces, braços e pernas, os mantras, etc. Os mantras parecem palavras mágicas – tudo o que precisamos fazer é recitá-los um milhão de vezes e todos os nossos problemas se acabarão. E deve haver algo de mágico nessas figuras com todos esses braços e pernas. Portanto, essas pessoas buscam no budismo uma maneira de conseguirem felicidade através desses métodos “mágicos”.
Elas podem até se beneficiar com a prática desses métodos (não há como negar que existe um benefício, mesmo quando abordamos o budismo dessa forma idealizada e irrealista); porém Sua Santidade o Dalai Lama sempre enfatiza que esse tipo de abordagem não é realista. Pode ser que gere algum benefício, mas no longo prazo você irá desapontar-se, pois, infelizmente, não existem soluções mágicas. Se realmente queremos paz de espírito e superar nossos problemas, temos que encarar os aspectos de nós mesmos que não são muito bonitos ou confortáveis. Temos que encarar e lidar com nossa raiva, egoísmo, ganância, apegos, etc. Buscar uma solução mágica e ignorar essas questões realmente não ajuda muito. Mas é claro que ainda existem pessoas que se interessam pelo budismo por causa dessa qualidade mais exótica.
Resumo
Resumindo, vimos que as pessoas se interessam por diferentes aspectos do budismo, mas todas possuem um desejo básico de encontrar os métodos que as ajudarão a superar seus problemas e sofrimento. Independente daquilo que nos atraia no budismo, o que existe de mais maravilhoso nos ensinamentos do Buda é que eles realmente oferecem métodos para nos ajudar a superar os problemas. É uma tradição viva, com dois milênios e meio de experiência; e ainda existem pessoas que a praticam e obtêm resultados. Portanto, é só uma questão de seguirmos esses métodos; está tudo disponível. E não é apenas um único método; o Buda ensinou muitos métodos diferentes com base em sua percepção de que cada pessoa é um indivíduo e considera um determinado método mais útil. Isso deixa as pessoas muito maravilhadas, pois, entre os vários métodos budistas, podemos sempre encontrar algum que nos ajude; e se tentarmos algum e não funcionar, ainda existirão vários outros. E o fato de vivermos na Era da Informação significa que um número cada vez maior de métodos estará disponível, independente de onde vivemos.