Um Texto para a Palestra sobre o Treinamento da Mente “Abandonando os Quatro Apegos”

Chave para os Pontos Essenciais Profundos

22:39
Eu faço pedidos a você, ó Protetor Incomparável, Leão do Clã Shakya. Assim como o caminho dos deuses, sua onisciência suprema permeia tudo o que é validamente conhecido. Assim como os raios da luz da lua, sua compaixão embeleza as coroas das cabeças dos seres errantes. Assim como uma joia que realiza desejos, sua influência iluminadora é um tesouro que proporciona tudo o que se deseja. Que tudo seja construtivo e excelente para todos os seres errantes.
Eu me prostro respeitosamente diante de você, ó Sakyapa, difícil de ser chamado pelo nome. Você é Manjushri, incorporando a profunda consciência de todos os Triunfantes dos três tempos. Você é Avalokiteshvara, tendo prometido proteger todos os seres errantes dos três planos da existência samsárica. Você assumiu uma forma humana para guiar os seres errantes nesta era de degenerações. 

Aqui, exporei as diretrizes incomuns para os pontos essenciais do Mahayana, em resposta aos repetidos pedidos feitos por você, ó ser de mente virtuosa e resplandecente. Pela força do potencial positivo que você acumulou no passado, você alcançou uma base corporal humana para realizar o Dharma sagrado e, com sua riqueza espontaneamente conquistada, você fez oferendas aos ensinamentos e àqueles que os preservam.

Para trazer benefícios para o mundo inteiro, embora não tivesse sido solicitado a fazê-lo, o Buda totalmente iluminado expôs uma enorme quantidade de Dharma de acordo com as disposições, desejos e potenciais adormecidos daqueles que precisavam ser guiados. Toda a extensão disso foi reunida no Veículo da Perfeição de Amplo Alcance (Paramitayana) e no Veículo do Diamante (Vajrayana). 

Os Principais Pontos do Sutra Explicados a Partir dos Textos Clássicos

O primeiro deles (Paramitayana) tem dois aspectos: 

  • As principais práticas explicadas a partir dos textos clássicos 
  • As práticas através dos pontos essenciais dos ensinamentos da quintessência. 

Desses dois, no que se refere aos principais pontos explicados nos textos clássicos, o Guardião Gonpo Maitreya,

  • Em Um Filigrana de Realizações, falou dos estágios graduais do caminho em termos dos oito conjuntos de realizações, que são o significado dos Sutras da Consciência Discriminativa de Amplo Alcance (Os Sutras Prajnaparamita)
  • Em Um Filigrana para os Sutras Mahayana, ele também falou sobre os estágios graduais do caminho, mas aqui refere-se aos pontos pretendidos pelos vários sutras Mahayana – traços familiares (natureza búdica), aspirações pelo Dharma e assim por diante. 

Em Uma Guirlanda Preciosa, o Supremo Arya Nagarjuna falou sobre: 

  • O status mais elevado e a bondade definitiva, como o que deve ser concretizado.
  • Aqueles que acreditam nos fatos e têm consciência discriminativa, como aqueles que os realizam
  • Os estágios graduais do caminho, como a causa que leva à realização. 

O Mestre Acharya Aryadeva falou sobre os estágios graduais do caminho em termos de: 

  • Tomar a iluminação como objeto de foco, abandonando as quatro considerações invertidas
  • Cortar as emoções perturbadoras, juntamente com suas causas, que são os obstáculos que impedem o comportamento completamente aperfeiçoado de um bodhisattva. 
  • E então, tornar-se um recipiente adequado para a própria natureza da realidade, (realizando) os ensinamentos sobre o néctar da própria natureza da realidade como o ponto principal real.

Acharya Shantideva, em Engajando-se no Comportamento do Bodhisattva, falou sobre os estágios graduais do caminho para realizar o estado de Buda em termos de: 

  • Ter uma base corporal com liberdades e oportunidades 
  • Com base nisso, praticar as seis atitudes de amplo alcance – a natureza essencial do comportamento do bodhisattva
  • E unir-se a eles com orações sinceras. 

O Venerável Atisha falou sobre os estágios graduais do caminho em termos de: 

  • Pessoas de escopo inicial que, tendo abandonado o apego a esta vida, trabalham para realizar apenas seus próprios objetivos em vidas futuras.
  • Pessoas de escopo mediano que, tendo abandonado os prazeres dos renascimentos samsáricos, trabalham para realizar apenas sua própria libertação.
  • Pessoas de escopo avançado que trabalham para realizar o estado de Buda com o objetivo de beneficiar todos os seres limitados. 

O ilustre Shri Chandrakirti falou sobre os estágios graduais do caminho em termos de: 

  • Treinar, enquanto ser comum, nas três mentes da compaixão, bodhichitta e não dualidade.
  • Então, tendo alcançado o estágio de um arya, um ser altamente realizado, progredindo através dos dez estágios bhumi da mente por meio das dez atitudes de amplo alcance
  • E atualizando os Três Corpos (Aspectos Corporificados) de um buda. 

Essa tradição, elucidada sem inversões (explicações) por esses expositores (dos estágios graduais do caminho), que têm um domínio majestoso do que é estabelecido como os significados pretendidos do Cânone Mahayana (de Sutras), é verdadeiramente notável. No entanto, embora possa ser compreendida por aqueles que estudaram a (extensa) tradição dos textos clássicos e treinaram a mente com ela, não pode ser compreendida apenas a partir dessas poucas (palavras) aqui.

As Práticas dos Textos Clássicos dos Sutras através dos Pontos Essenciais dos Ensinamentos da Quintessência

 Em segundo lugar, no que diz respeito à prática dos significados desses ensinamentos através dos pontos essenciais dos ensinamentos da quintessência, existem muitos (manuais), mas os que se tornaram os principais são: 

  • Aquele dado a Atisha pelo Lama Serlingpa
  • Aquele dado ao Lama Sakyapa por Gonpo Manjushri.  

Os Ensinamentos Da Quintessência Transmitidos a Atisha pelo Lama Serlingpa

Desses dois, o primeiro apresenta (sete pontos para o treinamento da mente):

  • Como base para desenvolver um ideal de bodhichitta – (1) realizar (os ensinamentos sobre) os quatro tópicos: (a) a dificuldade de conquistar (um renascimento humano com) liberdades e oportunidades, (b) morte e impermanência, (c) causa e efeito cármicos, e (d) as desvantagens do renascimento samsárico recorrente e incontrolável. 
  • Como práticas precursoras (para desenvolver o ideal de bodhichitta) – treinar, por muito tempo, o amor e a compaixão e, depois, como método principal, (2) meditar principalmente sobre a bodhichitta através da troca do eu pelos outros e, no momento apropriado, meditar sobre a bodhichitta mais profunda. 
  • Como auxiliares desse caminho – (3) transformar circunstâncias adversas em um caminho para a iluminação, (4) condensar a prática em uma única vida, (5) a medida de ter treinado a mente, (6) as práticas para fortalecer a conexão para o treinamento da mente e (7) os pontos a serem treinados para o treinamento da mente. 

Praticar esses pontos é um caminho excelente, que não chama a atenção, mas é muito eficaz.

No Tibete, Atisha não transmitiu isso a ninguém além do amigo espiritual Geshe Dromtonpa. O Geshe, por sua vez, não transmitiu isso a ninguém além dos Três Preciosos Irmãos Espirituais. A partir deles, espalhou-se amplamente. Seu discurso tibetano é um grande caminho (de prática) tão renomado quanto o sol e a lua. Para sua prática, consulte os textos do Bodhisattva Chodzongwa e seu filho espiritual e do Grande Ser, Mahasattva Zhonnu Gyalchog.

Os Ensinamentos da Quintessência Transmitidos ao Lama Sakyapa por Gonpo Manjushri

 Agora, nesta ocasião, (apresentarei) o que Gonpo Manjushri concedeu ao Lama Sakyapa. Embora seja semelhante aos pontos principais da prática acima, as divisões do assunto e a organização dos tópicos são mais notáveis do que nos outros. 

 Além disso, diz-se que quando o Grande Lama Sakyapa, Kunga Nyingpo, tinha doze anos, ele empreendeu um retiro para realizar Manjushri e, em seis meses, teve uma visão em que Manjushri lhe disse: 

Quando você se apega a esta vida, você não é um praticante do Dharma. Quando você se apega ao renascimento samsárico, você não tem renúncia, a determinação de ser livre. Quando você se apega ao seu próprio benefício, você não tem um ideal de bodhichitta. Quando surge o apego, você não tem a visão. 

As práticas completas da Paramita de Amplo Alcance (Veículo) estão contidas nessas linhas.

Quanto ao que essas linhas significam: 

  • Quando você abandona o apego a esta vida, sua mente se volta para o Dharma.
  • Quando você abandona o apego ao renascimento samsárico, você faz com que o Dharma funcione como um caminho mental.
  • Quando você abandona o apego ao seu próprio benefício, você toma o caminho mental que elimina a confusão.
  • Quando você abandona o apego aos quatro extremos, você transforma a confusão em consciência profunda.

Quando Você Abandona o Apego a Esta Vida, Sua Mente se Volta para o Dharma. 

Desses quatro pontos principais, o primeiro (quando você abandona o apego a esta vida, você direciona sua mente para o Dharma) tem uma meditação sobre três tópicos: 

  • Em primeiro lugar, como preliminar, a dificuldade de conquistar (um renascimento humano precioso com) liberdades e oportunidades
  • Como parte fundamental real, a morte e a impermanência
  • Como auxiliar do caminho, causa e efeito cármicos.

A Dificuldade de Conquistar um Renascimento Humano Precioso com Liberdades e Oportunidades

Primeiro, para meditar sobre a dificuldade de conquistar (um renascimento humano precioso com) liberdades e oportunidades, sentado em uma almofada confortável, tome muitas vezes o direcionamento seguro do refúgio nos gurus e nas Joias Preciosas. Em seguida, faça pedidos com as quatro linhas: “Que minha mente se volte para o Dharma” e assim por diante. Então, depois de aprimorar seu ideal de bodhichitta, pensando: “Eu alcançarei a iluminação para beneficiar todos os seres limitados”, contemple da seguinte maneira:

“Este corpo (precioso) com liberdades e oportunidades, no que se refere à sua natureza essencial, é difícil de conquistar, completo com as oito liberdades e as dez oportunidades. Em termos de suas causas, é difícil de conquistar, pois é necessário ter realizado (uma grande reserva de) potencial cármico construtivo, e é muito raro ter algo construtivo neste contínuo mental.      

“Em termos numéricos, entre as seis classes de seres errantes, quanto mais baixa a classe, maior o número de seres, em comparação com as classes mais elevadas. Mas podemos ver com nossa própria percepção o número de insetos que vivem em um pântano e em uma pilha de madeira durante a monção de verão. Não há tantas pessoas assim em todo o mundo. Portanto, (um renascimento humano precioso) é difícil de conquistar. 

“Do ponto de vista dos exemplos, se você jogar ervilhas na lateral de uma parede, é difícil que alguma delas grude. Ou é mais difícil (conquistar o renascimento humano) do que uma tartaruga enfiar o pescoço no buraco de um jugo sacudido pelo vento no vasto mar.”

 Portanto, sem desperdiçar de forma alguma essa oportunidade (do renascimento humano) com liberdades e oportunidades, conquistada apenas uma vez, medite: “Vou praticar (o Dharma puro) para o bem da minha vida futura e além dela”. 

Morte e Impermanência

Em segundo lugar, quanto à meditação sobre a morte e a impermanência, depois de tomar um direcionamento seguro e aprimorar seu ideal de bodhichitta como antes, medite pensando: “Com certeza , eu morrerei, pois não há ninguém que tenha nascido e permanecido vivo para sempre sem morrer. Não apenas isso, mas tampouco há garantias de quando eu morrerei. Como as circunstâncias para morrer são muitas e as circunstâncias para permanecer vivo são poucas, eu definitivamente morrerei. Quando a hora da morte chegar, nada poderá revertê-la, nem remédios nem rituais de cura. Nada disso ajudará quando eu morrer e, após a morte, nenhum dos meus conhecidos e nenhum dos meus bens irá comigo, só o Dharma me acompanhará”. Medite pensando assim e decida se livrar do seu apego a esta vida. 

Como esse é o principal método para direcionar sua mente para o Dharma, sempre que você tiver boa comida, boas roupas e estiver cercado por um grande círculo de amigos, medite, pensando: “Agora eu tenho isso e aquilo, mas um dia terei que abandonar tudo e seguir sozinho; nada disso possui uma essência”, e tome a decisão de se livrar do apego às coisas desta vida. 

Causa e Efeito Cármicos

Em terceiro lugar, quanto à meditação sobre causa e efeito cármico, depois de tomar um direcionamento seguro e aprimorar seu ideal de bodhichitta, como antes, contemple: “Tendo obtido um renascimento humano precioso com liberdades e oportunidades, difícil de conquistar, sendo ele impermanente, antes de morrer devo abandonar todo tipo de comportamento destrutivo e praticar o máximo possível de ações construtivas. Eis a razão: o resultado amadurecido dos dez tipos de comportamento destrutivo é o renascimento em um dos piores estados de renascimento. 

“Em relação aos resultados que correspondem às suas causas, para aqueles que correspondem às suas causas na minha experiência, é explicado que irá ocorrer: por tirar a vida de outros, terei uma vida curta; por tomar o que não me foi dado, serei privado da minha riqueza, e assim por diante. Quanto aos resultados que correspondem às suas causas no meu comportamento, desejarei repetir novamente quaisquer ações destrutivas às quais me habituei e, como resultado disso, cairei em um renascimento pior e assim por diante, sem oportunidade de escapar. E quanto aos resultados das ações das pessoas, nascerei em um lugar que cheira mal e tem tempestades de poeira.” Portanto, contemple, pensando: “Eu definitivamente abandonarei (o comportamento destrutivo)”.

 (Então, continue): “Da mesma forma, o resultado maduro das dez ações construtivas é o renascimento em estados melhores. Em relação aos resultados que correspondem às suas causas, na minha experiência, ao abandonar a prática de tirar a vida de outros, terei uma vida longa e assim por diante. Quanto àqueles que correspondem às suas causas no meu comportamento, desejarei agir desta e daquela maneira construtiva. Quanto aos resultados das ações das pessoas, nascerei em um lugar com cheiro agradável, e assim por diante.” 

 Portanto, reflita, pensando: “À medida que isso acontece, devo definitivamente colocar em prática (um comportamento construtivo)”.

Quando Você Abandona o Apego ao Renascimento Samsárico, Faz com Que o Dharma Funcione como um Caminho Mental.

Em relação ao segundo (desapego), “Quando você abandona o apego ao renascimento samsárico, faz com que o Dharma funcionasse como um caminho mental”, contemple as desvantagens do renascimento samsárico que se repete incontrolavelmente.

As Desvantagens do Renascimento Samsárico

Depois de tomar um direcionamento seguro e aprimorar seu ideal de bodhichitta como antes, (contemple): “Esta existência samsárica com seus três planos não vai além de ter o sofrimento como natureza. Nos infernos quentes, há os sofrimentos de seu corpo sendo queimado por fogo, cortado por armas e assim por diante. Nos infernos frios, há os sofrimentos do frio extremo, da carne e dos ossos que se despedaçam. Nos infernos avizinhados, há os sofrimentos de ficar preso em um poço de lava derretida em chamas. Se tais tipos de sofrimentos atingissem meu corpo, eu não seria capaz de suportar nem mesmo uma fração deles.

 “Quanto aos fantasmas cativos, eles sofrem terrivelmente com a fome, a sede, o calor, o frio, a exaustão e o medo. Os animais sofrem muito. Aqueles que vivem nas profundezas devoram uns aos outros, enquanto aqueles que vivem dispersos são usados para trabalho ou explorados. Os seres humanos sofrem com a perda de status, por não encontrar o que desejam, por encontrar o que não desejam, ao separar-se de entes queridos e assim por diante. Isso pode ser visto com a percepção direta.

“Quando os seres celestiais, os deuses no plano dos desejos sensoriais, recebem os presságios da morte e os presságios de estar perto da morte, seu sofrimento mental é pior do que os sofrimentos físicos dos seres nos infernos. Embora os deuses, nos planos dos objetos etéreos e dos seres sem forma. não tenham nenhum sofrimento manifesto, eles decairão em um renascimento inferior e terão a experiência dos vários sofrimentos dos piores estados de renascimento. O renascimento samsárico incontrolavelmente recorrente nos três planos da existência compulsiva não possui outra essência senão uma natureza intrínseca de sofrimento.” 

 Portanto, contemple, pensando: “Depois de abandonar todos os vários estados de renascimento, devo alcançar a realização suprema da libertação”.

Até aqui, quando correlacionado com os estágios graduais do caminho das pessoas dos três escopos, completam-se os caminhos das pessoas dos escopos inicial e intermediário. Então, assim como na abordagem do grande mestre Serlingpa, os quatro ensinamentos fundamentais do Dharma como preliminares também estão completos.

Quando Você Abandona o Apego ao Seu Próprio Benefício, Faz os Caminhos Mentais Eliminarem a Confusão.

Em relação ao terceiro (desapego), “Quando você abandona o apego ao seu próprio benefício, você faz os caminhos mentais eliminarem a confusão”, medite sobre o amor, a compaixão e a bodhichitta.

Amor

Em relação ao primeiro deles (amor), contemple: “A libertação dos sofrimentos do renascimento samsárico apenas para mim não é suficiente. Todos os seres limitados nos três planos (da existência compulsiva) tiveram exclusivamente a gentileza de terem sido minhas mães e pais inúmeras vezes. Especialmente, esta mãe-raiz (da minha vida atual) me carregou em seu ventre e, após meu nascimento cuidou da vida deste ser que parecia um inseto emaciado. Depois disso, ela me alimentou, vestiu e assim por diante.”

 Tendo lembrado a extensão da gentileza que ela demonstrou por você, reflita, pensando: “Devo guiar minha mãe a um estado de felicidade, já que ela foi tão gentil”.

A seguir, lembre-se da gentileza que seus outros parentes, os inimigos que lhe causaram danos e até mesmo seres sofredores, como aqueles nos três piores estados de renascimento e assim por diante, demonstraram por você ao longo de renascimentos samsáricos sem início. Medite sobre isso até que o amor surja em seu contínuo mental, desejando guiar todos eles também a um estado de felicidade.

Compaixão

Em segundo lugar, quanto à meditação sobre a compaixão, depois de lembrar da gentileza dessa sua mãe-raiz, medite: “Embora essa minha mãe gentil deva estar livre de sofrimento, é terrível que ela agora esteja vivendo uma vida na natureza do sofrimento. Como seria maravilhoso se ela estivesse livre do sofrimento. Vou guiá-la a um estado livre de sofrimento”.

Da mesma forma, lembrando-se da gentileza, como antes, de (todos os outros) seres errantes, medite sobre a compaixão, desejando que eles também se libertem do sofrimento. Se você não desenvolver amor e compaixão em seu contínuo mental, não será capaz de desenvolver um ideal genuíno de bodhichitta, portanto é muito importante se esforçar nesses dois aspectos. Eles são as raízes de todo o Dharma Mahayana.

Bodhichitta

Em terceiro lugar, quanto à meditação sobre bodhichitta, há três pontos:

  • Bodhichitta de aspiração
  • A bodhichitta que iguala o eu e os outros
  • A bodhichitta que troca o eu pelos outros.

Bodhichitta de Aspiração

Quanto ao primeiro deles (bodhichitta de aspiração), medite: “Embora meus pais gentis, em renascimentos samsáricos nos três planos da existência compulsiva, devam ser felizes e também livres do sofrimento, não tenho a capacidade de lhes proporcionar isso agora. Não só isso, mas nem mesmo possuem essa capacidade os grandes seres mundanos, como Brahma, Indra e assim por diante, e aqueles que estão além do mundano – os ouvintes shravaka e os auto-realizados pratyekabuddha. Quem a possui? Como apenas um buda totalmente e perfeitamente iluminado a possui, eu alcançarei a realização suprema, tornando-me um buda totalmente iluminado, para beneficiar todos os seres limitados. E então libertarei do oceano de renascimentos samsáricos incontroláveis minhas mães e meus pais tão gentis.

Esta é a causa indispensável para se tornar um buda. Quando você tem esse estado mental, todas as raízes de potencial construtivo que você acumulou se tornam causas para se tornar um buda totalmente iluminado. Há muitos louvores a isso no Cânone de Sutras Mahayana.

Igualando o Eu aos Outros

Quanto à meditação sobre igualar o eu aos outros, medite pensando: “Assim como eu desejo ser feliz, todos os seres limitados também desejam ser felizes; portanto, assim como eu trabalho para alcançar minha própria felicidade, também preciso trabalhar para alcançar a felicidade de todos os seres limitados. Assim como eu não desejo sofrer, todos os seres limitados tampouco desejam sofrer; portanto, assim como eu trabalho para eliminar meu próprio sofrimento, também preciso trabalhar para eliminar o sofrimento de todos os seres limitados”.

Trocando o Eu pelos Outros

Quanto à meditação sobre a troca do eu pelos outros, imagine diante de você a sua mãe-raiz e medite pensando: “Essa mãe tem sido tão gentil, mas, ó céus, ela vive na natureza do sofrimento. Que todo o seu sofrimento e comportamento destrutivo amadureçam em mim, e que eu vivencie (seus resultados). Que toda a minha felicidade e comportamento construtivo amadureçam nela e que ela alcance a iluminação”.

Da mesma forma, você precisa meditar individualmente sobre seus outros parentes, os seres limitados que você viu ou de quem ouviu falar, os inimigos que lhe causaram danos e os seres que sofrem, como aqueles que se encontram nos piores estados de renascimento. Finalmente, depois de reunir em si os sofrimentos de todos os seres limitados, medite para que sua felicidade e potenciais construtivos se tornem as causas provisórias para quaisquer recursos que eles desejarem e, em última instância, para que alcancem o estado de Buda.

Como essa é a essência da prática Mahayana, as palavras secretas de todos os budas dos três tempos, pode ser útil apresentar as razões da necessidade de meditar dessa forma, citações das escrituras e (uma análise) para dissipar dúvidas sobre o método de meditação, mas não me estenderei, pois ficaria muito longo.

Desde a bodhichitta de aspiração até aqui, conforme explicado anteriormente, você definitivamente precisa, como preliminar, tomar o direcionamento seguro do refúgio e aprimorar seu ideal de bodhichitta. Além disso, meditar sobre a guru-yoga também seria excelente.

Ao concluir suas sessões de meditação e se concentrar em todos esses pontos, encerre com orações de dedicação e procure manter essa atenção durante todas as suas atividades – ao andar, dormir, se mover ou sentar.

Quando Você Abandona o Apego aos Quatro Extremos, Transforma a Confusão em Consciência Profunda.

Em relação ao quarto (desapego), “Quando você abandona o apego aos quatro extremos, transforma a confusão em consciência profunda”, na tradição de outro ensinamento essencial, existem dois estados mentais: um estado mental tranquilo e estável de shamatha e um estado mental excepcionalmente perceptivo de vipassana. Além disso, para vipassana, há a meditação sobre a inexistência de um eu sólido e concreto das pessoas e a meditação sobre a a inexistência de um eu sólido e concreto dos fenômenos.

No entanto, nessa tradição, durante o período de absorção total, há a meditação sobre três pontos:

  • As aparências são estabelecidas como sendo da mente.
  • A mente é estabelecida como ilusória.
  • O que é ilusório é estabelecido como sendo sem uma natureza autoestabelecida.

Durante o período de realização subsequente, existe a prática da visão de que tudo é como uma ilusão e um sonho, sem se apegar a nada.

Se você meditar sobre o que quiser, sem se basear nos ensinamentos essenciais do seu lama, isso será uma grande fonte de confusão e erros. Como você não será capaz de compreender isso apenas através de palavras, não vou me aprofundar nesse assunto.

No entanto, o que é benéfico a curto prazo é que, quaisquer que sejam as raízes da força construtiva que você tenha firmado, é muito importante não ter a arrogância de pensar: “Eu sou o responsável por esse ato construtivo, fui eu que o realizei”. No entanto, não há culpa alguma em, com o objetivo de incentivar outras pessoas a se envolverem em atos construtivos, divulgar que “eu realizei um ato construtivo como esse”, desde que você não oculte nenhum erro que tenha cometido.

Portanto, sempre que estabelecer uma raiz de força positiva ou realizar alguma atividade cotidiana mundana, permaneça consciente e pense: “Isso é como um sonho, ou é como uma ilusão”, e isso atuará como uma causa para a realização da visão. Sendo assim, é importante manter essa presença mental.

Resumo

Dessa forma, há os quatro estágios desse caminho:

  • Quanto ao primeiro, como você está trabalhando para realizar seus objetivos para suas vidas futuras e além delas, ele é chamado de “ter sua mente voltada para o Dharma”.
  • Quanto ao segundo, como você está trabalhando para realizar os caminhos mentais rumo à libertação, tendo abandonado a existência samsárica, ele é chamado de “fazer o Dharma funcionar como um caminho mental”.
  • Quanto ao terceiro, como você está agindo de acordo com o vasto veículo do Mahayana, tendo abandonado os desejos pelo modesto veículo do Hinayana, ele é chamado de “fazer com que os caminhos mentais eliminem a confusão”.
  • Quanto ao quarto, como você está agindo de acordo com o significado da natureza permanente da realidade, tendo abandonado os extremos da fabricação mental de se apegar aos extremos, ele é chamado de “fazer com que a confusão se transforme em consciência profunda”.

Enquanto pratica os pontos principais do caminho dessa forma em sua vida cotidiana, para tornar seu corpo significativo, faça prostrações e circunvoluções. Para tornar sua fala significativa, ofereça louvores aos budas e bodhisattvas e leia sutras profundos. Para tornar sua mente significativa, medite sobre amor, compaixão e bodhichitta. Para tornar sua riqueza significativa, faça oferendas às Três Joias Preciosas, ajude e demonstre respeito à comunidade monástica e assim por diante. Se você acrescentar orações puras a isso, é certo que alcançará o pleno estado de Buda, dotado de todas as boas qualidades e sem falhas.

Condensação dos Pontos Essenciais em Versos

Para resumir mais uma vez os pontos essenciais:

Compreender plenamente a dificuldade de encontrar uma base corporal para realizar o Dharma puro, compreender que esse corpo é impermanente, com a natureza de algo que perece rapidamente, aceitar prontamente estar sempre vigilante para adotar o que é positivo e descartar o que é negativo – este é o primeiro passo.
Ver um número infinito de seres errantes no mar do samsara, presos nas mandíbulas dos monstros do sofrimento, desenvolver a renúncia, estar profundamente interessado na terra seca da libertação, além de toda a tristeza – este é o segundo passo.
Lembrar-se da bondade dos seres errantes, iguais ao espaço, que repetidamente foram seu pai e sua mãe e o ajudaram tanto, realizar os objetivos dos outros com amor, compaixão e bodhichitta suprema – este é o terceiro passo.
 Compreender que todas essas coisas, tal como aparecem, são fruto da sua própria mente e que a própria mente, sendo apenas uma rede de causas e condições, é como uma ilusão, e que essa ilusão está livre de fabricação mental, meditar sobre a natureza permanente da realidade – este é o quarto passo.
Tendo feito oferendas, em todas as ocasiões, à Tríplice Joia e abandonado, em etapas, as tendências destrutivas; tendo satisfeito, com sua generosa doação, os pobres e oprimidos que carecem de um protetor; quando acrescentar a tudo isso uma oração de dedicação, com a pureza dos três círculos envolvidos, é certo que você realizará seus objetivos provisórios e finais.
Tendo condensado dessa forma os pontos essenciais do caminho Mahayana, com o desejo de ajudar nem que seja um pouco, apresento-os a você, ó patrono dos ensinamentos, como um presente para guardar em seu coração. Ao colocar tudo isso em prática, que você alcance todos os seus objetivos.

Cólofon

Por ter uma fé inabalável nos preciosos ensinamentos, o bodhisattva e leigo praticante, Ralö Dorje, tornou-se patrono piedoso daqueles que defendem os ensinamentos. Ele solicitou-me, dizendo: “Preciso de uma orientação de seu discurso iluminador, um treinamento detalhado que seja benéfico para o divino Dharma”. Diante disso, eu, o monge budista Sonam Sengge, escrevi isto no retiro sagrado de Dokhar (mdo-mkhar) no terceiro dia da lua crescente na constelação de Plêiades. Mais tarde, apresentarei a vocês os pontos essenciais relativos à causa e efeito cármicos, juntamente com as citações dos sutras que serviram como fontes. Que tudo seja auspicioso; que tudo seja construtivo.

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