Explicação dos 16 Aspectos das 4 Nobres Verdades

Me pediram para falar sobre as quatro nobres verdades na tradição Vajrayana. Podemos olhar para a tradição Vajrayana de duas maneiras: [podemos olhar] a maneira específica como as quatro nobres verdades são abordadas no tantra ou [podemos] olhar para o Vajrayana como sendo uma forma de nos referirmos à tradição tibetana do budismo que combina o estudo do sutra e do tantra.

O Caminho Budista Como Contexto Para as Quatro Nobres Verdades

Primeiro, eu gostaria de falar sobre esse aspecto comum - o aspecto sutra/tantra - das quatro nobres verdades, já que realmente não existe uma explicação tântrica separada. Esta é a maneira que elas são estudadas na tradição tibetana, com base na tradição Mahayana indiana, que é baseada aqui em um texto específico de Maitreya, que é um futuro Buda. Ele escreveu muitos textos, e um deles é um ótimo comentário sobre os Sutras Prajnaparamita. Esses sutras são os Sutras da Perfeição da Sabedoria, e neles há muitos detalhes sobre tudo que diz respeito ao caminho e todas as realizações que se obtém no caminho da libertação e da iluminação. O título do texto é traduzido como "Filigrana de Realizações", portanto, são muitas, muitas realizações.

As quatro nobres verdades possuem dezesseis aspectos, quatro para cada uma, e este tópico é o foco principal da meditação sobre o caminho que leva à libertação e à iluminação. Falamos de libertação e iluminação porque na libertação superamos [apenas] um conjunto de obscurecimentos da mente. Esses obscurecimentos são as emoções e atitudes perturbadoras, como raiva e desejo, ingenuidade, ignorância, confusão - todas elas e mais as tendências. Quando superamos essas coisas e os impulsos cármicos, que agem sob a influência dessas emoções perturbadoras, ganhamos a libertação. E nós podemos ganhar libertação como um shravaka, um ouvinte dos ensinamentos, que está basicamente seguindo o que é chamado de caminho “Hinayana”. O Hinayana tem dezoito escolas e uma delas é a Teravada. Embora Hinayana não seja um nome muito bom, nós não temos um nome para todas as dezoito escolas, mas precisamos saber que a Teravada é apenas uma delas. E também podemos praticar para nos libertar como pratyekabudas, que são aqueles que praticaram durante a idade das trevas, quando os budas não estavam por perto para nos ensinar. Pratyekabudas trabalham basicamente seguindo seus instintos, sem nenhum professor.

Portanto, podemos seguir o caminho para a liberação seguindo uma dessas maneiras ou seguindo o caminho do bodhisattva. Como um bodhisattva, obtemos a liberação e depois vamos além. Nós temos que ir além para alcançar a iluminação. E para obter a iluminação, temos que superar não apenas esses obscurecimentos emocionais que impedem a liberação, mas também um conjunto mais profundo de obscurecimentos; e, é claro, eles são descritos de muitas maneiras diferentes pelas diferentes escolas filosóficas, mas podemos chamá-los de obscurecimentos cognitivos - os obscurecimentos que nos impedem de compreender tudo. Isso tem a ver com o que está por trás dessas emoções perturbadoras.

Emoções perturbadoras têm como base a confusão sobre a realidade: como nós existimos e como tudo mais existe. O problema é que nossa mente faz as coisas parecerem existir de um modo falso, de uma maneira confusa. A mente faz as coisas parecerem como se tudo fosse sólido, concreto, como se tivesse um grande revestimento plástico ou uma grande linha em volta - individual, separado de todo o resto. Nós pensamos que nós existimos assim, e nós também pensamos que somos o centro do universo e que tudo mais está "lá fora" com essas grandes linhas ao redor. Isso é confuso. Com base nisso, agimos de formas inapropriadas e desastradas. Portanto, o que precisamos para alcançar a iluminação é superar esse aspecto da mente que faz com que as coisas apareçam dessa forma confusa. Quando a mente faz as coisas aparecerem dessa maneira confusa, não vemos que tudo está inter-relacionado. E como não conseguimos ver que tudo está inter-relacionado, não conseguimos entender: "Como posso ajudar todo mundo?"

Para conseguir ajudar a todos, precisamos ser capazes de entender todas as pequenas coisas que já afetaram cada pessoa desde tempos sem princípio: todos os diferentes aspectos do que elas fizeram em vidas anteriores, o que aconteceu com elas, todos os fatores históricos que as afetaram - tudo, pois tudo está inter-relacionado. E também precisamos saber: “Se eu ensinar algo a essa pessoa, qual será o efeito disso? Como isso afetará, não apenas ela, mas a todos que ela encontrar a partir de agora até sua libertação”. Isso não é muito fácil de entender. E como a nossa mente faz as coisas aparecerem como se em pequenos pacotes de plástico, não enxergamos a relação entre todas as coisas; nós não conseguimos realmente entender todas as causas de algo estar acontecendo com alguém agora, e todos os efeitos de nossa interação com os demais.

Isso é o que você precisa superar para se tornar um buda. Esses são os obscurecimentos cognitivos - e o que eles obscurecem é a natureza búdica, que é a natureza da mente, que é capaz de entender tudo e ver como tudo está interconectado. Como um bodhisattva, temos que superar todas essas emoções perturbadoras e confusão, mas também temos que superar o fato de que a mente cria essas aparências confusas. Ao criar essas aparências confusas, você acredita nelas, e então age como se as coisas realmente existissem dessa maneira. Quando você é um ser liberto, um arhat, a mente continua criando todas essas aparências confusas, mas você não acredita nelas. Você diz que isso é bobagem; que não é verdade. E então, claro, você não fica chateado e não age [com base nisso]; mas isso não é suficiente, pois você ainda não sabe como ajudar a todos da melhor maneira. Então você segue um certo desenvolvimento da mente - desenvolvimento da compreensão, desenvolvimento de seu caráter - para alcançar essa liberação e iluminação, e isso é descrito com os cinco caminhos. Na verdade, esses caminhos são caminhos mentais, são níveis mentais que agem como um caminho para alcançarmos a liberação e a iluminação. E você começa [a percorrer esses caminhos] quando você desenvolve, antes de mais nada, a renúncia.

Renúncia é quando você tem esta forte determinação: “tenho que me libertar. Isso é terrível, todo esse sofrimento é horrível; estou farto, quero sair. E eu quero sair não apenas para me livrar do sofrimento desta vida, mas do renascimento repetitivo constante com todos os mesmos problemas repetidas vezes. E estou disposto a desistir disso”. Estes são os dois aspectos: eu quero sair – e não é que eu queira apenas sair e sem ter que desistir de nada, eu quero desistir de toda a confusão, de todas as emoções perturbadoras, e assim por diante. Quando você consegue fazer isso sem esforço – ou seja, quando não há nenhum esforço, o esforço de lembrar por que você quer sair, e assim por diante; quando isso é simplesmente parte de seu objetivo de vida, quer você esteja pensando nisso ou não - então você inicia esses caminhos mentais. É só então que você inicia. Antes disso, estamos nos esforçando para pegar o trem, mas nós só entramos no trem quando desenvolvemos essa renúncia sem esforço – que está lá o tempo todo.

E quando, além disso, temos o mesmo tipo de bodhichitta (sem esforço) - bodhichitta é quando a sua mente está voltada para a sua própria iluminação futura, não a iluminação em geral, não a iluminação do Buda, mas a minha própria iluminação que eu entendo que posso alcançar por causa da natureza búdica e todas essas coisas; e você se concentra nisso, e eu percebo que eu não cheguei lá ainda, mas é isso que eu quero conseguir, é isso que eu estou querendo, e eu estou direcionado a isso porque eu quero ser capaz de ajudar todo mundo da maneira mais completa possível, e a única maneira de fazer isso é obtendo essa iluminação, então você tem bodhichitta. E se você sente isso sem fazer esforço – se isso está lá o tempo todo, se você não tem que ficar pensando no porquê e em todas as razões, se a bodhichitta simplesmente está lá - então você iniciou os cinco caminhos do Mahayana. Agora, esses cinco caminhos são caminhos mentais, níveis mentais, níveis de compreensão, que vão levar você até a sua meta e você vai progredir através deles.

Primeiro, no primeiro caminho, você está reunindo [coisas]. É chamado de caminho mental da… geralmente traduzido como “acumulação”, mas na verdade quer dizer “construir”, você está construindo todas as ferramentas agora. E as ferramentas que você constrói são as que talvez muitos de vocês já ouviram falar: “shamata” e “vipassana”. Shamata é uma mente calma e assentada, isto é, que não devaneia, que não voa para os objetos de desejo, que não tem qualquer embotamento ou sonolência ou qualquer coisa assim, perfeitamente concentrada e com um senso de aptidão, uma sensação estimulante de que pode se concentrar em qualquer coisa. Então você adiciona a ela vipassana, o que significa que além disso, há um senso de aptidão em que a mente consegue entender qualquer coisa. Quando você possui essas duas coisas, você completou o primeiro nível do caminho mental. Então você tem que aplicar isso. Você aplica mais e mais e mais, de modo que agora você tem o entendimento conceitual. E, no que estamos tentando nos concentrar? Nos dezesseis aspectos das quatro nobres verdades. É nisso que você está se concentrando. Desenvolvemos as ferramentas concentrando-nos nesses dezesseis aspectos e depois os aplicamos. Você aplica tudo isso - as ferramentas reais que você tem - para realmente entender.

Nós entendemos conceitualmente – ou seja, através de alguma ideia. Quando você obtém um entendimento não-conceitual dos dezesseis aspectos, você se torna o que chamamos de um “arya”. Um arya é um ser altamente realizado. Meios não-conceituais significa compreender isso, não através de uma idéia geral, mas diretamente, em certo sentido. Então você é um arya. E você começa a se livrar de alguns obscurecimentos. Quando você se torna um arya, entra no caminho da visão; é o caminho mental da visão.

Então você tem que se acostumar com isso cada vez mais - esse é o caminho mental da habituação, ou o caminho da meditação - para que você se livre de mais e mais níveis de obscurecimento. E então você atinge o objetivo – o caminho mental de não precisar mais treinar – assim como um arhat (um ser liberado) ou um buda.

Então, ao longo disso, aquilo em que você está focando são as quatro nobres verdades. "Nobre" está se referindo ao arya, aquele que tem esse entendimento não conceitual. Isso é o que eles veem. São chamadas de verdades nobres, as verdades arya, porque as pessoas comuns não as entendem. Elas são completamente diferentes da maneira como as pessoas comuns entendem a vida. Já os aryas, uma vez que têm essa compreensão não conceitual, percebem que as pessoas comuns estão erradas. Essa é a verdadeira maneira como as coisas são na vida.

Enquanto trabalhamos para tentar entender essas quatro nobres verdades e esses dezesseis aspectos, superamos as dezesseis maneiras distorcidas de compreendê-los, dezesseis visões errôneas sobre eles. E isso é o que realmente estudamos, na perspectiva tibetana, quando estudamos as quatro nobres verdades, porque esse será o principal tópico de meditação. Você quer entender os dezesseis aspectos para se livrar dos dezesseis entendimentos errados. E, na verdade, os entendimentos errados e corretos são muito úteis, e não apenas quando estamos nesses níveis muito avançados - sobre os quais eles estão falando - com uma forte motivação de renúncia ou bodhichitta; eles também são úteis para pensarmos sobre eles, muito antes de termos tudo isso.

Quando nos concentramos nesses dezesseis aspectos, nos concentramos em dois pontos. Um deles é os detalhes desses dezesseis aspectos: o que eles são e a verdade sobre o que eles são. E você também tem que entender que não existe um verdadeiro "eu" ou um verdadeiro self ou uma existência verdadeira. “Existência verdadeira”, aqui, é uma existência falsa. Em outras palavras, nenhum desses dezesseis aspectos existe de uma forma impossível: revestido de plástico, por si só, isolado de todo o resto, como um “fato” que eu tenho que aprender para passar em um teste, ou algo assim. Portanto, você tem que entender não apenas os detalhes dos dezesseis aspectos, você também tem que entender como eles existem, como você existe, e como todo mundo existe em relação a eles. É disso que trata a meditação no caminho espiritual: com base na renúncia, em bodhichitta, nessas coisas, que são baseadas no amor e compaixão e tudo isso.


Os Quatro Aspectos do Verdadeiro Sofrimento

Então, quais são esses dezesseis aspectos? Para entendê-los, é necessário entender as quatro nobres verdades de forma um pouco mais detalhada, entender um pouco mais a fundo aquilo a que isso está se referindo. E os verdadeiros sofrimentos, a primeira nobre verdade, refere-se aos cinco agregados maculados – isso é um jargão, claro, mas precisamos entender o que significa. Cada momento de nossa experiência é composto de uma ou mais coisas, que estão em cinco categorias. Deixe-me dizer de outra forma: é como se tudo aquilo que muda - os agregados estão se referindo a tudo que muda - tudo aquilo que muda, que compõe nossa experiência, pudesse ser entendido como estando em cinco sacos diferentes ... isso é apenas uma construção mental para nos ajudar a entender ... em cinco categorias diferentes. A cada momento, uma ou mais coisas de cada um desses sacos estarão presentes.

Então, o que temos em cada momento? Direi em uma ordem que facilite a compreensão. Temos alguma forma de consciência, seja ela visual, auditiva, olfativa, gustativa, alguma sensação física ou a consciência mental, o pensamento. Em todos os momentos, estamos em um desses canais, como um canal de televisão.

E a cada momento há algum objeto físico envolvido, pode ser uma visão, um som, um cheiro, um sabor, uma sensação física, ou podemos estar pensando em alguma coisa. E, claro, nosso corpo também está lá. Portanto, há sempre algo físico.

E há também o sentimento de algum nível de felicidade. É apenas a isto que o sentimento está se referindo: como você se sente? Você se sente feliz ou infeliz? Ao olhar para alguém, você se sente feliz ou infeliz? Feliz significa que você quer continuar olhando; infeliz significa que você quer desviar o olhar. Isso está lá, a cada momento. Não precisa ser algo dramático, mas está lá a cada momento. Na verdade, definimos sentimento como sendo a maneira como experimentamos o amadurecimento do nosso carma. Uma pessoa come um queijo e se sente muito feliz; a próxima pessoa come o mesmo queijo e odeia e se sente infeliz. Isso é resultado do nosso carma.

E nós também temos a cada momento a distinção. Você tem que ser capaz de distinguir – digamos que seja eu olhando – as formas coloridas do seu rosto das formas coloridas da parede. Se eu não conseguir distinguir, eu não conseguirei ver a pessoa, conseguirei? O que estaremos olhando? Estaremos olhando pontos de pixels coloridos, não estaremos? Estaremos vendo formas coloridas. Você tem que ser capaz de juntá-las para distinguir uma coisa de outra. Isso está lá o tempo todo. Às vezes é chamado de "reconhecimento", mas essa não é uma boa tradução.

E o quinto [agregado] é o resto: todas as emoções, a concentração, o sono – tudo mais.

Esses são os cinco agregados. A cada momento, temos uma ou mais dessas coisas compondo a nossa experiência, e tudo está mudando o tempo todo, e cada coisa muda em um ritmo diferente. Estamos vendo coisas diferentes, nosso nível de felicidade e infelicidade sobe e desce, estamos distinguindo o nariz do resto do rosto, estamos distinguindo todo tipo de coisa. E, claro, nossas emoções mudam o tempo todo, e nosso foco muda, nosso interesse muda. Todas essas coisas estão mudando o tempo todo. E dizemos que [os agregados] são "maculados", o que às vezes se traduz como "contaminados", mas essa não é uma palavra muito boa, maculado significa que ... Como eles surgem? Eles surgem por causa de nossas emoções perturbadoras, por isso são maculados por elas, meio que sujados pelas emoções perturbadoras; seja apego, seja raiva, seja apenas ingenuidade, orgulho, ciúmes - todas essas coisas. Por isso que são maculados. Isso é sofrimento verdadeiro. Cada momento de nossa experiência é composto desses cinco agregados, que estão sob a influência dessas emoções perturbadoras: raiva, apego, ingenuidade e assim por diante. É disso que estamos falando quando falamos em verdadeiro sofrimento.

Então quais são os quatro aspectos [desses agregados]? Antes de mais nada, são fenômenos não-estáticos. Ou seja, não estão parados, estão mudando; mudam momento a momento; e durante o período de uma vida, vão chegar ao fim. Claro, temos uma próxima vida, mas este corpo, nossas memórias e tudo o que temos, isso vai chegar ao fim. Portanto, é impermanente; e muda a cada momento, aproximando-se cada vez mais desse fim. É isso que entendemos por não-estático ou impermanente. É claro que continuarão existindo, haverá outra vida, mas não estamos falando disso. O que estamos falando é que, dentro de uma vida, eles chegam a um fim, e a cada momento mudam, mudam, mudam...

O segundo aspecto é que [esses agregados] são infelicidade. Às vezes usamos apenas a palavra “sofrimento”, mas acho que precisamos de outra palavra aqui. Então os agregados são infelicidade. Por que eles são infelicidade? Porque existem três tipos de sofrimento que são explicados no budismo. Um é o sofrimento da infelicidade. Se estamos infelizes, sofremos por causa disso. Pode ser infelicidade baseada em dor; pode ser infelicidade baseada naquilo de que não gostamos; pode ser infelicidade por muitas e muitas razões diferentes. Nós não devemos pensar nisso apenas em termos de dor física, mas de dor mental também. A dor é apenas uma sensação. Estamos falando do sentimento: você se sente infeliz com isso, sofre.

Depois, há o sofrimento da mudança. E isso está se referindo à nossa felicidade comum. Nossa felicidade comum é um grande problema. Por que ela é um problema? Porque não dura. Nós nunca sabemos quando ela vai acabar. Você nunca sabe o que virá a seguir. E ela nunca é suficiente, nunca satisfaz. Então é frustrante. Embora possamos aproveitar a felicidade comum por um tempo, não há segurança nela. E ela nunca é suficiente. Esse é o segundo tipo de sofrimento.

O terceiro tipo de sofrimento é o sofrimento real. É disso que realmente estamos falando no budismo, do sofrimento que tudo permeia. O sofrimento que tudo permeia é o fato de termos esses agregados maculados. Temos esse corpo, mente, sentimentos e emoções, e tudo isso é afetado pela raiva, pelo desejo, pelo apego e assim por diante. E eles são a base para a infelicidade ou para esse tipo comum de felicidade. Esse é o verdadeiro problema. O verdadeiro problema é que temos a base. Às vezes se diz: se você não tivesse uma cabeça, não teria dor de cabeça. O problema não é a dor de cabeça, o problema é ter o tipo de cabeça que vai ter dor de cabeça. Temos um tipo de configuração muito delicado, que sempre tem problemas. É disso que temos que nos livrar. Esse é o aspecto de infelicidade. Esses agregados são “infelicidade”, porque são a base para os outros tipos de sofrimento.

O próximo aspecto é que eles são fenômenos vácuos, no sentido de que lhes falta alguma coisa; de que há algo que está ausente. Às vezes isso é chamado de "vazio". Então, quais são esses cinco agregados - corpo, mente e sentimentos - o que lhes falta? O que eles não têm? O que lhes falta é o que poderíamos chamar de uma “alma” impossível. No budismo, estamos sempre falando disso... às vezes isso é chamado de "self", às vezes é chamada de "ego", essas coisas.  Mas olhando bem, estamos falando do conceito hindu de atman. "Alma", penso eu, é o que temos de mais próximo no pensamento ocidental. E se diz no budismo que o tipo de alma em que se acredita nessas outras filosofias indianas é impossível - não é quem nós somos, porque nós tendemos a nos identificar com a alma e dizer que “eu” sou essa alma. Então o que falta aqui, aquilo de que se é desprovido, é uma alma, conforme ela é definida nas filosofias hindus. Agora, temos coisas semelhantes em nosso pensamento ocidental, mas é especificamente disso que o Buda estava falando, do que todos acreditavam em sua época.

Agora, essa alma é uma alma imutável, e o budismo diz que o "eu" continua para sempre. Mas isso não é um problema. O problema não é o fato de a alma continuar para sempre: a mente, no budismo, continua para sempre; o "eu" continua para sempre. O problema é pensar que isso não muda, que não é afetado por nada." Aqui estou. Fui dormir na noite passada, levantei-me esta manhã, e aqui estou eu de novo - o mesmo eu. Eu não mudei, ainda sou eu. Pensar que você pode machucar meu corpo, e não “me” machucar. Esse tipo de coisa: que o "eu" é algo que não muda, que não é afetado por nada.

O segundo aspecto dessa “alma” ou “eu” impossível é que é uma coisa monolítica, sem partes. O que isso significa? Isso significa que, conforme acreditam algumas filosofias indianas, eu sou um com o Universo; sou esse todo, sem partes, toda a vida, somos todos Um, somos o Universo inteiro - o que não é absolutamente budismo; isso está nas crenças hindus. E a outra possibilidade é: o que é a alma? É uma minúscula centelha de vida que vai de uma vida a outra, que sempre permanece igual. Isso é impossível do ponto de vista budista.

E o terceiro aspecto é que esse tipo de “alma” ou “eu” é completamente separado dos agregados, do corpo e da mente. Em outras palavras, ela entra em um corpo e mente durante a concepção e o habita - como se habita uma casa - ela vive dentro do corpo, e o usa e controla, como alguém sentado em um computador e pressionando botões, sentado em nossa cabeça e falando. Porque parece ser assim. Aquilo que está falando dentro da nossa cabeça, esse é o pequeno "eu", a pequena centelha de vida que nunca muda, que ainda é "eu". "Aqui estou, olhe só! Eu fiz isso!” E assim por diante. E seria algo completamente separado, que controlaria e usaria o corpo e a mente para fazer as coisas, e depois sairia e iria para outra casa, para outro corpo e outro cérebro, e os usaria. Isso é impossível. Portanto, esses cinco agregados, que são afetados por todas essas emoções perturbadoras - esse terceiro é aspecto: eles são desprovidos desse tipo de “eu” impossível.

O quarto aspecto é que eles não possuem uma "alma" impossível. Isso está se referindo a um nível mais sutil de "alma" impossível, algo que possa ser conhecido por si só, independente de qualquer coisa. Todos nós acreditamos nisso – acontece automaticamente. Por exemplo, quando penso na Renata, essa minha amiga que está aqui, o que eu penso? “Eu conheço a Renata. Eu vejo a Renata.”  O que isso significa? Na verdade, eu estou vendo um corpo. Como é possível conhecer a Renata ou ver a Renata sem ver seu corpo? Como eu poderia conhecer a Renata sem saber algo sobre ela, nem que fosse seu o nome - não consigo pensar apenas em Renata: tenho que pensar no nome “Renata”, ou tenho que pensar em sua personalidade, ou tenho que pensar em como ela se parece, ou o som de sua voz ao telefone. Essa é Renata. Mas não é a Renata que está no telefone, é a voz dela. E com base em sua voz, eu digo que é a Renata. É impossível haver um "eu" - uma pessoa, a Renata - que eu possa conhecer independente de qualquer outra coisa, independente dos seus agregados.

Nós sempre pensamos assim. “Você fez isso comigo” - “você”, como se eu pudesse conhecer “você” independente de um corpo, independente das coisas que “você” disse, independente de qualquer coisa. "Você, você é uma pessoa horrível!" O que significa isso? Não existe um “você” que possamos conhecer ou pensar a respeito, ou acusar de alguma coisa, ou ficar com raiva, separado de uma mente, de sentimentos e de um corpo que é afetado por um milhão de coisas diferentes. O mesmo se aplica ao “eu”. Esses fatores agregados - corpo, mente e assim por diante - não possuem essa "alma" grosseira impossível, ou "eu", ou essa alma sutil.

Este é o verdadeiro sofrimento: os agregados. Nós não entendemos realmente esses quatro aspectos: que eles mudam o tempo todo, que são infelizes e que não possuem esses dois tipos de “eu” impossível. Mas se entendêssemos, entenderíamos qual é o verdadeiro problema. Nós não entendemos; esse é o verdadeiro problema, isso é o sofrimento.

Os Quatro Aspectos das Verdadeiras Causas do Sofrimento

OK. Esses são os quatro aspectos do verdadeiro sofrimento. Depois vem as verdadeiras origens, as verdadeiras causas disso. Agora, isso é interessante e muito profundo. As verdadeiras causas são, de uma maneira geral, as emoções perturbadoras e o carma, os impulsos cármicos. Agora, isso está se referindo a algo muito específico. Como funciona o renascimento, no budismo? Lembre-se, o verdadeiro problema, o verdadeiro sofrimento são esses agregados que recebemos repetidas vezes - isso é samsara - e todo o sofrimento que está envolvido neles. Esses agregados - o corpo, a mente etc. - são apenas a base para tudo mais, para todos os outros sofrimentos. A causa de que estamos falando é a causa, ou a origem, para os renascimentos contínuos com esse tipo de mente e corpo, em qualquer forma de vida que seja – como um animal, um fantasma, o que seja. E isso, temos que entender em termos de carma; e está descrito no que chamamos de "doze elos do surgimento dependente".

Não precisamos repassar aqui todos os doze elos. Isso é um outro tópico, muito básico, dos ensinamentos budistas. Agora o que acontece? O que estamos fazendo o tempo todo? O que estamos fazendo é agindo ora de forma destrutiva, ora de forma construtiva, mas sempre baseados no pensamento de que eu existo como esse "eu" impossível. E então surge todo o apego: Aqui estou eu, sozinho. Eu “me” conheço. Eu vou “me” encontrar. Eu vou “me” expressar, como se esse "eu" pudesse ser conhecido independente de um corpo ou mente ou qualquer outra coisa. E então vem: eu não gosto disso, então tenho que me livrar disso, e vem a raiva. Ou eu tenho que ter isso, e vem o apego ou desejo. Essas coisas. Ou [achamos que] podemos agir e que não haverá efeitos, isso é ingenuidade. Agimos com base nisso. Ou agimos de forma destrutiva: “Eu não gosto dele; vou prejudicá-lo e matá-lo”, ou com desejo: “Vou roubar isso porque quero para mim”. Podemos agir tanto de forma destrutiva como construtiva: “Vou ser gentil com você para que você goste de mim.”  Essa é uma maneira egoísta de agir com gentileza: somos gentis com a outra pessoa, a ajudamos, mas nossa motivação para sermos bondosos é basicamente egóica, um grande ego: provar como sou maravilhoso e coisas do gênero, para que você me ame.

Ações como essas são ações cármicas, elas deixam como resultado uma certa impressão em nossa mente, certas tendências, certos hábitos de repetir esse tipo de ação e obter o tipo de corpo que será a base para a repetirmos a ação. Felicidade, infelicidade e todas as coisas que acontecem conosco, é o que amadurece a partir desta “repercussão” cármica, que é como eu chamo aquilo que sobra após a ação.

Agora, alguma coisa tem que ativar isso no momento da morte, para que você seja lançado para outro renascimento. Então, o que ativa? É disso que os doze elos estão falando e essa é a verdadeira origem do sofrimento. O que ativa isso é o que chamamos de “desejo ou anseio”. Quando experimentamos felicidade, ansiamos – desejamos fortemente - não nos separar dela. “Eu estou com meus amigos, estou com meu corpo, com todas as coisas boas ao meu redor e não quero perder isso, não quero me separar disso.” Temos esse forte sentimento, não temos, especialmente quando estamos prestes a morrer. Nós não queremos ir; nós não queremos deixar que as coisas aconteçam como tiverem de acontecer.

E também ansiamos por nos separar do sofrimento, da dor. Digamos que você esteja morrendo de câncer, que esteja sentindo muita dor e queira se livrar dela: "Quero ser feliz". Todos nós sentimos isso o tempo todo. E ansiamos continuar existindo: “Eu quero continuar existindo; Eu não quero deixar de existir.” Isso tudo são emoções perturbadoras, é disso que estamos falando - a verdadeira origem.

E por causa disso, e de uma outra atitude, que é pensar em termos de um "eu" sólido, a repercussão cármica é ativada. E é ativada de tal maneira que lança o nosso contínuo mental para o próximo renascimento, com mais agregados contaminados e outro corpo e mente que vão ficar doentes, envelhecer, ter problemas para encontrar um emprego e todos os demais problemas que temos na vida. Essa é a verdadeira origem; é disso que queremos nos livrar. Queremos nos livrar do verdadeiro sofrimento, que é ter esse tipo de corpo, esse tipo de mente, esses sentimentos, e assim por diante - queremos nos livrar de tudo isso para que possamos nos tornar um arhat ou um buda, com um corpo feito de luz e uma mente que não é afetada por nada disso, que não é afetada pelas emoções perturbadoras.

Para nos livrarmos dessas coisas, temos que nos livrar de onde elas vêm. E elas vem da repercussão cármica de nossas ações anteriores e das emoções perturbadoras que a ativam. Essa é a origem; é disso que queremos nos livrar. Se não houver nada para ativar o carma, estará terminado - não haverá mais renascimentos com esse tipo de corpo e mente. A repercussão cármica se tornará ineficaz; não fará nada. É para isso que estamos trabalhando.

Então quais são os quatro aspectos das verdadeiras origens?

O primeiro é que há uma causa. Ser a causa significa ser aquilo que ativa o carma de lançamento, que ativa a repercussão cármica, as tendências e assim por diante. Nesse sentido, isso é uma causa.

É uma origem, esse é o próximo ponto. É uma origem no sentido de que os agregados – o corpo, a mente e as coisas – surgirão de novo e de novo. É como um campo: a plantas vão crescer no campo, estação após estação.

E é um produtor forte – o que significa que não importa o que você esteja tentando fazer, você ativa esse carma de lançamento. Esqueça! Ele vai te lançar em outro renascimento, e vai produzir fortemente estas coisas, você sabe: aqui está outro corpo, aqui está outro tipo de cérebro, e aqui está outro contínuo de sentimentos e todas essas coisas, com raiva, com desejo, com ingenuidade, etc.

E o quarto aspecto é que é uma condição. Estas são as condições necessárias - o desejo, as repercussões cármicas, etc - são as condições necessárias para o nosso sofrimento surgir. É como água e fertilizante e todas essas coisas que são necessárias para uma planta crescer.

Os Quatro Aspectos das Verdadeiras Cessações

Esses são os quatro aspectos. E então temos as verdadeiras paradas ou verdadeiras cessações. O que isso significa? Isso ocorre apenas no nível (do contínuo mental) de um arya. Um arya é alguém que tem um entendimento não-conceitual desses dezesseis aspectos. É aí que começa. E uma cessação é como uma remoção de algo. Digamos, você se lembra de quando tínhamos aqueles televisores e rádios com aqueles tubos dentro, que eram necessários para eles funcionarem – um verdadeiro cessar é como pegar um desses tubos e quebrá-lo, jogá-lo fora; ele já era! Foi removido. E então o que nos resta é o que chamamos de verdadeiro cessar - uma ausência disso. É disso que estamos falando aqui. O verdadeiro cessar é uma ausência verdadeira, um verdadeiro cessar de algum nível dessas emoções perturbadoras, algum nível dessas tendências e hábitos cármicos, que é alcançado pelo poder de aplicar algum oponente - não é que isso simplesmente acabe naturalmente, porque o carma acabou, acaba devido ao emprego de algum método: os verdadeiros caminhos mentais. E é um cessar no sentido de que isso nunca acontecerá novamente. E nós geramos cada vez mais cessações enquanto percorremos esses três caminhos superiores como um arya – os caminhos mentais – de modo que eventualmente retiramos todos os tubos. Quando você tira todos os tubos dos obscurecimentos emocionais, você é um ser liberado, você é um arhat, você alcançou a liberação. E quando você retira os demais tubos, você é um buda - não há mais tubos, nem mais obscurecimentos. Essas são as verdadeiras cessações. Essas verdadeiras cessações são para sempre, elas não vão mudar. É algo estático: não muda e não é afetado por mais nada. Nada vai mudar isso. Podemos ver como isso está relacionado com a discussão que tivemos antes sobre a natureza de um buda. É para sempre. São como nuvens no céu - esses tubos que temos que retirar, esses obscurecimentos.

Agora, quais são os quatro aspectos desse cessar?

É um cessar no sentido de que é um cessar de uma parte do verdadeiro sofrimento e suas verdadeiras origens – uma parte disso cessa –, isso é feito usando-se uma força oponente, de forma que os obscurecimentos nunca mais surjam, por isso é um cessar.

E é uma pacificação. Pacificar significa acalmar, no sentido de paz. Uma sensação de paz, no sentido de estar totalmente livre, para sempre, dessa porção de sofrimento e de suas origens. Portanto, é um estado de paz duradoura – você não tem mais esse problema.

E é um estado superior. É superior porque está livre desta parte do problema para sempre. E é superior no sentido de que é feliz. É feliz porque você está livre do sofrimento. É como quando você tira os sapatos apertados no final do dia: Ah, que alívio que é estar livre dessa restrição – exatamente assim - naturalmente feliz porque está livre dessas coisas.

E é um emergir definitivo. Você está definitivamente fora do sofrimento, no sentido de que é para sempre. Isso é um verdadeiro cessar.

Os Quatro Aspectos dos Verdadeiros Caminhos

E então nós temos os verdadeiros caminhos. Os verdadeiros caminhos são os caminhos mentais - são níveis de compreensão. É uma mente que tem um certo entendimento. Não estamos falando de uma estrada como a que você anda. Estamos falando da mente que age como um caminho para se alcançar esse objetivo. E isso está se referindo especificamente - lembre-se que temos os cinco caminhos mentais –  ao caminho da visão, que tem essa compreensão não conceitual dos dezesseis aspectos, ao caminho da habituação, que é o processo pelo qual você começa a tirar todo o resto dos tubos, e ao caminho de não aprender mais, no qual você já se livrou de todos os tubos que estavam lá. Isso é o verdadeiro caminho; ele se refere a essa compreensão não-conceitual dos dezesseis aspectos em todos esses níveis. Então, quando temos o caminho óctuplo da maneira que é apresentado neste texto, esse comentário aos Prajnaparamita Sutras – a maneira como os tibetanos o compreendem – é o que os aryas realmente praticam. Nós não praticamos isso. Nós praticamos algo semelhante, mas não praticamos a verdadeira prática.  A verdadeira prática é quando você tem esse entendimento não-conceitual - é por isso que esse caminho é chamado de nobre (arya): O Nobre (Arya) Caminho Óctuplo. É chamado assim porque é o que os aryas fazem, o caminho deles, o que eles compreendem.

Quais são os aspectos dos verdadeiros caminhos mentais (a verdadeira compreensão não-conceitual de todos esses dezesseis aspectos)?

É um caminho mental no sentido de que serve como um caminho para deixarmos de ser seres comuns e nos tornarmos aryas, serve como um caminho - um modo de pensar, um modo de compreender, um entendimento não-conceitual - que nos leva a nos tornarmos seres liberados ou iluminados.

E o segundo é que é um meio apropriado, que é adequado para conseguirmos nos livrar das emoções perturbadoras. Isso é muito importante de entender - como funciona - que essa compreensão correta pode nos livrar de todo esse lixo. É um método apropriado para isso e há uma longa discussão sobre porque isso funciona.

O terceiro: é um meio de atualização. É uma maneira de realizar (em outras palavras, de fazer acontecer de fato) estas várias conquistas de um arya: liberação e iluminação. E no contexto Mahayana, essa realização significa que é uma conquista real da compreensão de como a mente existe, esta natureza búdica.

O quarto é que é um meio para remoções definitivas. É um método para removermos definitivamente o verdadeiro sofrimento e suas origens.

Então, esses são os dezesseis aspectos, e é nisso que você realmente se concentra em sua meditação - tanto os detalhes quanto o entendimento de que sim, é assim; e a compreensão de como tudo isso existe. E fazemos isso com renúncia: tenho que sair desse sofrimento e de sua origem, e estou disposto a desistir. Nós estamos fazendo isso como um praticante Mahayana, com bodhichitta: almejando nossa própria iluminação. É aí que todas essas verdadeiras cessações - essa situação - e estou almejando a compreensão de um buda, aquilo que traz isso, a fim de ser capaz de ajudar a todos. Com base nisso, e na disciplina e concentração perfeitas, e todas essas coisas, uma pessoa trabalha com esses dezesseis aspectos repetidamente, aprofundando-se cada vez mais. Podemos ver isso o tempo todo.

Entender os detalhes, qual é o verdadeiro problema, qual é a verdadeira origem - eu quero me livrar basicamente do mal-entendido sobre como eu e tudo mais existe. E quero me livrar disso, porque é com base nisso que tenho este anseio: não quero me separar da felicidade; eu quero me separar da minha infelicidade; eu quero continuar existindo como se houvesse um eu sólido por trás disso - eu tenho que ter isso porque eu quero, porque me sinto bem com isso. É disso que temos que nos livrar. E você foca em: não existe tal coisa! Não existe esse verdadeiro “eu” sólido que está sofrendo, esse verdadeiro “eu” sólido que tem essa origem, esse verdadeiro “eu” sólido que será livre para sempre e viverá feliz para sempre, esse verdadeiro “eu" que vai obter essa compreensão – é disso que você tem que se livrar. Não há nenhum "eu" verdadeiro que esteja envolvido nisso. Você faz isso e pronto.

Agora, quando você entende tudo isso, aquilo que você trabalha para se livrar é as formas distorcidas de compreensão - os caminhos errados. Isso é muito interessante quando se ensina crianças; é muito interessante discutir: o que nós pensamos, qual é a maneira normal de encarar a vida?

 As Quatro Maneiras Distorcidas de Considerar os Verdadeiros Sofrimentos

O nosso primeiro problema aqui é que pensamos que aquilo que é impuro – nossos agregados – é puro. Pensando bem, o corpo está cheio de todos os tipos de... – se você levanta a pele, você olha o que está dentro do seu estômago, o que está dentro do seu intestino; e o que você vê não é muito agradável. Mas nós pensamos em um nível muito superficial que o corpo é bonito e assim por diante; ou que a mente é maravilhosa, apesar de termos todo tipo de pensamentos não muito bons. Essa é a primeira maneira incorreta de ver nossos agregados - que eles são puros, maravilhosos. Eles não são puros. Shantideva, o grande mestre indiano, colocou isso muito bem. Ele disse que se você pegar um pouco de comida, até mesmo a mais maravilhosa e deliciosa comida, e colocar na boca de alguém – na sua própria boca ou na boca de qualquer pessoa - e essa pessoa a mastigar algumas vezes e depois cuspir, ninguém consideraria isso puro. Então, como você pode considerar o corpo que fez com que a comida ficasse desse jeito, algo limpo, puro? E se você considera o que acontece depois que o alimento passa por todo o seu sistema digestivo e sai do outro lado, então, novamente, o que é esse corpo, senão uma fábrica maravilhosa para fazer resíduos? É isso que ele faz. Você joga coisas nele e ele transforma em lixo que sai do outro lado. Portanto, não é limpo. Não pense que o corpo é bonito e maravilhoso. Os tibetanos usam expressões muito interessantes. Eles dizem que (como podemos dizer isso sem soar grosseiro) as fezes, um pedaço de cocô - não importa o quanto você limpe, não vai ficar limpo. Cocô é cocô; nós não temos como limpá-lo e transformá-lo em não-cocô. Então, isso é no que diz respeito ao corpo.

O segundo [problema] é considerar sofrimento como sendo felicidade. Pensamos que a nossa felicidade mundana comum é felicidade. Mas, na verdade, se pensarmos bem, não queremos comer apenas uma vez na vida; não queremos que alguém diga "eu te amo" apenas uma vez e pronto, nós queremos mais. É uma pergunta interessante, sempre pergunto aos meus alunos: pense na comida que você mais gosta, a mais deliciosa - quanto você precisa comer para realmente apreciá-la? É uma questão interessante: por que um único pedaço não é suficiente? Queremos mais e mais. E então, claro, você pode ficar doente se comer demais. E mesmo quando comemos bastante, depois queremos comer novamente. Isso é considerar sofrimento como sendo felicidade - é frustrante, porque nunca conseguimos nos satisfazer.

O terceiro é considerar o que não é estático como sendo estático. Nós pensamos que seremos eternamente jovens, que vamos viver felizes para sempre com nossos parceiros, e queremos que tudo continue como está. Eu fui dormir na noite passada, acordei de manhã, e aqui estou eu de novo, o mesmo eu! Achamos que somos estáticos, quando, na verdade, nada é estático.

E consideramos o que não é uma “alma” impossível como sendo uma “alma” impossível. Nós nos identificamos com esse corpo - este sou eu! - este corpo magro e jovem, sou eu! E então nos olhamos no espelho quando ficamos mais velhos, um pouco mais gordos e com cabelos grisalhos - não sou eu! Eu realmente não sou assim. Esse não pode ser eu. Eu ainda sinto que sou aquele eu jovem e atraente. Nós todos nos sentimos assim. Isso é essa visão errada. O entendimento correto elimina essas visões erradas.

As Quatro Maneiras Distorcidas de Considerar as Verdadeiras Causas

Então para as verdadeiras origens do sofrimento, isso é muito interessante. Na primeira [maneira distorcida], há dois aspectos: o primeiro é sustentar que o sofrimento não tem causa alguma. Se tenho problemas, bem, a vida é assim mesmo. Achamos que não há uma causa para isso. Ou então pensamos que é azar ou alguma outra coisa misteriosa, ou que o sofrimento vem de uma causa discordante (ou seja, de uma causa que não tem nada a ver) - como pensar que todo o nosso sofrimento é por questões materiais: se eu tivesse uma bela casa e dinheiro, seria feliz, pois toda a minha infelicidade vem de questões materiais. Essa é uma visão errada.

A próxima é pensar que o sofrimento vem de uma única causa. Nós fazemos isso o tempo todo. O sofrimento e os problemas vêm de uma combinação de muitas, muitas causas e condições, mas pensamos: eu não fiz o suficiente para ajudar meu filho e ele se matou, portanto é minha culpa. A única razão para as coisas acontecerem no mundo sou eu. Eu sou a única causa. Eu não fui bom o suficiente. Eu cometi um erro e foi por isso que tudo deu errado. Nós pensamos assim, não é mesmo? É por isso que nos sentimos culpados. Mas isso é falso. As coisas acontecem por conta de um milhão de causas e condições diferentes que se juntam, não há uma causa única.

A terceira é considerar que o sofrimento foi enviado pela mente de algum outro ser, como Ishvara (o deus criador em algumas das filosofias hindus). Isso é ver o sofrimento como vindo de algum criador que está no céu e que às vezes tem vontade de nos enviar sofrimento. E que talvez isso tenha acontecido porque não fomos um bom menino ou uma boa menina, ou fomos um menino mau ou uma menina má (não o obedecemos), ou apenas porque Deus teve vontade, sem razão alguma. Essa é uma visão falsa.

A quarta se refere a algo específico da filosofia jainista, que é outra escola filosófica da Índia. No que diz respeito à causa do sofrimento, [seria considerar que] existe algo permanente por natureza, mas que muda temporariamente, de acordo com a ocasião: nossa alma – é pensar que nós temos uma alma permanente, que é feliz, que está lá o tempo todo, e é por causa de nossa associação com as coisas mundanas, materiais e físicas que temos sofrimentos e problemas. Se pudéssemos nos retirar, nos descolar completamente - não fazer nada, basicamente, poderíamos obter libertação. Eles acham que você tem que passar fome até morrer; sentar-se e não se mover, porque se você andar, vai pisar em algo; não faça nada; não coma, porque você vai engolir um pequeno animal - isso seria a libertação. Se você conseguisse se afastar de todas essas coisas materiais, o sofrimento temporário não aconteceria mais, e você chegaria na natureza básica da alma, que é a bem-aventurança. Essa é uma visão falsa. O Buda rejeitou isso. Isso é fanatismo, isso é extremismo. Temos esses agregados e, não importa o que você faça, vai matar alguma coisa. Esse é o problema de ter esse tipo de agregados. Se você comer, se você beber, se você respirar, você vai matar alguma coisa. Mas a saída para isso não é sentar e não fazer nada. A saída é parar o mecanismo que nos leva a continuar renascendo com esse tipo de corpo e, ao invés disso, ter um corpo de luz - seja lá o que é isso, essa é outra questão.

As Quatro Maneiras Distorcidas de Considerar as Verdadeiras Cessações

E em relação às verdadeiras cessações, em primeiro lugar, a visão errada é que não existe libertação. Muitas pessoas pensam assim. Como não há saída, cale a boca, aceite que há sofrimento e viva com isso. E essa é uma visão interessante. Nós pensamos assim? Não sei. Muita gente pensa. Bem, você tenta minimizar seu sofrimento, mas, basicamente, você tem que aprender a conviver com ele. Essa não é a visão budista - essa é uma visão errada. Definitivamente há libertação. Há um cessar definitivo, verdadeiro - você pode fazer com que [o sofrimento] cesse para sempre.

A segunda maneira é considerar que determinados fenômenos contaminados são a liberação. Isso está se referindo aos estados superiores de meditação, o que chamamos em sânscrito de dhyanas. Uma vez que você alcançou a concentração perfeita, você pode ir mais e mais fundo nos níveis de absorção. Até os hindus fazem isso - não é algo necessariamente budista. Nesses estados, algumas coisas são temporariamente interrompidas. Então, temporariamente, você não tem nenhum sofrimento físico; temporariamente você não tem sofrimento mental, nenhuma infelicidade - você só tem felicidade, e temporariamente você não tem nem mesmo isso, apenas um estado neutro. Em cada um desses diferentes níveis, conseguimos parar temporariamente os outros níveis – são estados cada vez mais refinados, nós apenas sentamos lá e não fazemos nada. Essa é uma visão falsa, pensar que isso é libertação. Esses estados não são libertadores, porque o que acontece é que quando você sai da meditação, lá está o sofrimento novamente, com todos os mesmos tipos de problemas.

A terceira maneira é considerar que determinados estados de sofrimento são a libertação. Isso está se referindo a um dos estados superiores dos seres divinos, os deuses. Os reinos dos deuses estão divididos em três planos, e o mais elevado é o plano dos seres sem forma (ou o reino sem-forma) onde os deuses não têm corpos densos. Seus corpos são feitos apenas de energia muito sutil. A visão distorcida aqui é pensar que, se atingirmos esse nível, seja através do renascimento ou de nossa mente, alcançando o nível de absorção meditativa sem forma, essa é a verdadeira liberação. Mas não é, porque mesmo esse tipo de renascimento ou absorção meditativa tem um fim.

A quarta maneira é considerar que, embora possa haver uma redução do sofrimento, ele voltará a ocorrer. Em outras palavras - você pode se livrar dele, mas só por um tempo, porque ele vai voltar. É considerar que não há como se livrar do sofrimento para sempre (e dos agregados e de todo o lixo em nossa mente que faz com que surjam).

Essas são as visões erradas. Isso é muito interessante, pensar sobre isso e realmente entender o que queremos dizer com liberação, o que queremos dizer com livrar-se das origens. Isso é muito, muito importante nos estudos budistas. Se estivermos buscando libertação e iluminação, precisamos estar convencidos de que isso é realmente possível. Se você não acha que é possível e se você não acha que consegue fazer isso, se acha que “bom, alguns desses budas podem até ter conseguido fazer isso em algum momento do passado, na Ásia, mas eu não consigo”. Se você acha que não conseguiria, nunca almejará isso. É muito, muito importante entender e estar convencido de que isso é verdade, e estar convencido de que essas visões erradas são falsas.

As Quatro Maneiras Distorcidas de Considerar os Verdadeiros Caminhos

Com respeito aos verdadeiros caminhos mentais, a primeira, a visão errada – é considerar que não existem caminhos mentais que levam à liberação. Em outras palavras, não há saída. Não importa o meu entendimento, não há nenhuma saída, não há como se livrar do samsara - desses problemas e renascimentos incontrolavelmente recorrentes.

A segunda é considerar que o caminho mental de meditar sobre a ausência de uma “alma” impossível é um meio inadequado. Em outras palavras, se eu meditar sobre o fato de que não há essa “alma” que é imutável, que é a centelha da vida, ou que é do tamanho do Universo, coisas assim - se eu meditar sobre isso (sobre o fato de que não existe tal coisa) isso não vai ajudar; que não é isso que vai nos levar à libertação; que esse não é o método apropriado. Essa é a segunda visão errada.

A terceira é considerar que certos estados específicos de estabilidade mental (os dhyanas) são caminhos mentais que conduzem à liberação. Que se eu conseguir obter essas profundas absorções meditativas, será suficiente - isso por si só me levará à liberação. Mas isso não é verdade. Esses [estados mentais] são apenas ferramentas para nos ajudar, não são o verdadeiro método.

E a quarta é considerar que não existem caminhos mentais que nos levam à não recorrência do sofrimento. Em outras palavras, é considerar que não há nada que você possa fazer para se livrar dos problemas e de suas origens para sempre, para que eles não voltem.

Estas são as dezesseis visões erradas. E esse tipo de estudo, esse tipo de meditação, é a base do caminho budista de acordo com essa apresentação. Acho que isso se aplica a outras formas de budismo também, que as quatro nobres verdades... quero dizer, isso é basicamente o que Buda ensinou. E aqui, no texto de Maitreya, está mais detalhado.

A Aplicação dos Dezesseis Aspectos das Quatro Nobres Verdades no Tantra

Tenho ainda alguns minutos para falar sobre isso dentro do contexto Vajrayana, ou seja, do tantra. O tantra, em primeiro lugar, é um tópico muito complexo e complicado. Mas estamos lidando - antes de mais nada, com um caminho Mahayana, estamos visando a iluminação. E lembre-se que o que impede a iluminação é o fato de que a mente faz com que as coisas pareçam existir concretamente, como se encapsuladas em plástico, por elas mesmas, sem relação com qualquer outra coisa, como se houvesse linhas divisórias em volta de tudo. É disso que realmente precisamos nos livrar. Porque com base nisso, você acredita e depois age como se as coisas realmente existissem dessa maneira.

E então, o que faz essa aparição? Isso tem a ver com níveis muito sutis da mente. Nós falamos, no tantra, do nível mais sutil da mente, que é conhecido como o nível de clara luz. Ele está muito relacionado com a natureza búdica. Essa natureza de clara luz da mente é o que dá a continuidade, é o que continua de um momento para o outro, passando pela morte, para a próxima vida e para a iluminação; continua no nirvana e na iluminação também. É o que dá a continuidade - eu frequentemente descrevo isso usando a analogia de um rádio: o rádio pode estar em estações diferentes, ter volumes de som diferentes (mais alto ou mais baixo), mas essa clara luz da mente é o que faz o rádio estar ligado. O rádio está ligado - não importa qual seja o estado de renascimento, em que estação estamos sintonizados; se o volume é alto, baixo, não importa quanto sofrimento temos - o rádio está sempre ligado. Esse é o nível de clara luz da mente.

Agora, o nível de clara luz da mente, por si só, em seu estado natural, tem tudo a ver com a natureza búdica. Ele não origina essas aparências de existência concreta; não faz as coisas parecerem assim e, claro, não acredita nisso. Nele não há nenhum conceito, não é conceitual, é como uma consciência pura - é chamada na tradição dzogchen de "consciência pura" (rig-pa). Mas não significa que (esse nível de clara luz da mente) entenda que de fato essas aparências malucas não se referem a coisa alguma que seja real. Não existe necessariamente uma compreensão disso. 

Então o que queremos fazer no tantra é a mesma coisa, superar o verdadeiro sofrimento e as verdadeiras origens. Qual é a origem aqui? A verdadeira origem é... lembre-se que estávamos falando sobre os doze elos do surgimento dependente, que temos essa repercussão cármica, essas tendências e assim por diante, e elas são ativados, e, por serem ativadas, o que acontece é que morremos. Na hora da morte, no período da morte, o que você tem é o nível mental de clara luz. Agora, quando outro renascimento está para acontecer, junto com esse nível de clara luz, há um nível muito sutil de energia (como a eletricidade que mantém o rádio ligado) e esse nível sutil de energia, quando o carma é ativado... para haver outro renascimento, esse nível muito sutil de energia começa a se tornar mais grosseiro. Quero dizer, aquele nível sutil, aquele nível subjacente permanece, mas agora o rádio é ligado novamente e o que acontece é que com essa energia sutil fica mais e mais grosseira, e a mente começa a criar essas aparições malucas de novo. Obviamente, o que queremos fazer é – conforme apresentei aqui - queremos não ativar o carma. Queremos ter este entendimento: não há um verdadeiro "eu", não há uma “alma” impossível, etc. O que estamos buscando é a capacidade de obter essa mente de clara luz – e não apenas na morte, mas na meditação – de obtê-la e não a perder; e que a mente não comece a criar todas essas aparições malucas e você acreditar nela. Queremos manter essa mente de clara luz, e com ela você compreende esses dezesseis aspectos das nobres verdades: compreende que não existe um “eu” sólido, etc.

É mais no Vajrayana que pensamos sobre todo esse processo de como a mente faz essas aparições malucas. E você quer impedi-la de fazer isso, e a maneira de pará-la, a que é mais eficiente, é parando esses níveis mais grosseiros com o poder da meditação. Agora, o que acontece normalmente é que nossas energias estão loucas em nosso corpo, e por isso nos sentimos nervosos, inseguros, chateados, e assim por diante; e o que estamos buscando nas práticas avançadas do tantra – e estou simplificando as coisas aqui - é centralizar toda essa energia e dissolvê-la, basicamente. E quando você faz isso, esses níveis mais grosseiros da mente também se dissolvem. É como quando você está muito preocupado e nervoso, se você conseguir acalmar essa energia, a mente que está se preocupando e pensando em todas essas coisas também vai se acalmar. Temos métodos muito avançados de yoga para centralizar, acalmar e dissolver essa energia - estamos falando aqui dos caminhos, dos caminhos para parar (verdadeiro cessar) essas energias, para que elas não fiquem mais grosseiras a partir do nível da mente de clara luz; e com esse nível de mente, ter todos esses entendimentos de que falamos, porque esse é o meio mais eficaz de se livrar de todos esses obscurecimentos, todos esses obstáculos.

De uma forma muito resumida, essa é a essência do que estamos tentando fazer no tantra, e tudo é baseado no que eu estava explicando - o entendimento do sutra dos dezesseis aspectos das quatro nobres verdades, para se livrar das dezesseis visões erradas - e não apenas entender os detalhes de tudo isso, mas entender como tudo isso existe. É muito importante entender como causa e efeito existem, como funcionam. Porque não é como se a causa fosse uma bola de pingue-pongue, um pedaço de plástico aqui, e o efeito uma outra bola de pingue-pongue ali. Se fosse assim, um não poderia dar origem ao outro.

O que conecta causa e efeito? Será que é como uma das escolas indianas de filosofia, que dizem que há uma espécie de vara, um conector que os conecta? O budismo diz que isso é impossível, que a única maneira deles se conectarem é se eles não forem como essas bolas sólidas de pingue-pongue. A causa é a combinação de um milhão de coisas que estão sempre mudando, e o efeito também é composto de milhões de partes diferentes que mudam o tempo todo, e é por causa disso que podem interagir - todas essas coisas podem afetar, e uma causa pode trazer um efeito. E se pensarmos nas verdadeiras origens: “Este é o problema! Esta é a causa!” e ao fazer disso uma coisa sólida, como você poderá se livrar disso? Como um verdadeiro caminho mental poderia ajudá-lo a se livrar disso? E se pensarmos no caminho mental: “Este é o antídoto! Cessação! Esse é o resultado que eu quero alcançar!” E você o transforma em algo sólido, uma bola de pingue-pongue, lá, sozinha. Você nunca vai conseguir.

Isso é o que queremos entender - quais são esses fatores, como eles existem, como eu existo em relação a eles? E no tantra, para fazer isso - é claro que começamos com nosso nível normal de mente - mas você quer fazer isso com o nível mental mais sutil, aquela mente de clara luz que você consegue na meditação através de todos esses complicados métodos de yoga, para ser capaz de obtê-la com força, não conceitualmente, da maneira mais eficiente. É disso que trata o tantra.

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