Desenvolvendo o Interesse em Beneficiar as Vidas Futuras

Este texto foi escrito por Atisha, um grande mestre indiano que viveu cerca de mil anos atrás. Atisha estudou na Indonésia, na ilha de Sumatra; ele fez uma viagem muito longa até lá, uma viagem muito difícil. O budismo havia chegado à Indonésia há muito tempo e ele foi especialmente para obter ensinamentos com um mestre muito famoso, sobre compaixão, bodhichitta e tópicos afins. Naquela época, esses ensinamentos não eram muito fortes na Índia, então ele levou de volta algumas dessas linhagens.

Atisha vivia em um dos grandes monastérios do norte da Índia, Vikramashila, quando foi convidado pelo rei do Tibete ocidental para ir ao seu reino, pois lá havia muita confusão sobre o budismo e ele queria que Atisha o ajudasse a reestabelecer o budismo. Existem várias versões dessa história. Existe a assim chamada versão budista religiosa, a versão budista sagrada e a versão mais histórica do que realmente aconteceu.

Houve uma repressão ao budismo há aproximadamente cento e cinquenta anos antes de Atisha ir ao Tibete, mas, na verdade, foi um movimento contra os monastérios e a política excessiva do rei anterior. Esse rei determinou que muitos lares e aldeias sustentassem os mosteiros e os monges, então nenhum dinheiro entrava para o governo e isso era um problema. Ele era meio fanático religioso. E assim, seu irmão o assassinou e assumiu o trono - esse foi o infame rei Langdarma.

Ele fechou os mosteiros, mas não os destruiu e não matou todos os monges ou algo assim, então as bibliotecas ainda estavam intactas quando Atisha chegou. Mas, de qualquer forma, o que aconteceu foi que não havia grandes centros de aprendizagem, e assim, ao longo dos anos, depois que o império do Tibete se separou, as pessoas já não entendiam muito bem os ensinamentos. Essa foi a situação. E elas tinham algumas ideias muito estranhas sobre o que era a prática budista, tomando muitas coisas, particularmente dos ensinamentos do tantra, muito literalmente, de uma forma que nunca foi a intenção original.

Foi nessa época que um rei do Tibete ocidental, Yeshe Wo, decidiu convidar tradutores e mandar pessoas para a Índia para aprender os idiomas, e um dia ele convidou Atisha. Há uma longa história no budismo sobre o sacrifício que o rei Yeshe Wo teve que fazer para levar Atisha ao Tibete. De um ponto de vista histórico, parece bastante duvidoso que isso realmente tenha acontecido; mas não importa. O fato é que ele chegou ao Tibete e teve que enfrentar muitas dificuldades, particularmente por causa de um dos reis seguintes, o sobrinho de Yeshe Wo chamado Jangchub Wo; ele é o discípulo mencionado no texto.

Atisha ficou no Tibete por vários anos e ajudou a esclarecer muitos mal-entendidos. Portanto, ele foi uma das principais figuras do chamado segundo florescimento do dharma no Tibete. Ele escreveu este texto no Tibete ocidental. Como ele disse, na esperança de ajudar também os indianos. Este texto é considerado muito importante para todo um gênero de literatura ou ensinamentos que veio depois, chamado lam-rim, os estágios graduais do caminho para a iluminação.

Esses estágios podem ser apresentados de muitas maneiras diferentes; e são encontrados em todas as quatro tradições do budismo tibetano. Embora o conteúdo do caminho gradual seja o mesmo em todas as quatro tradições, a estrutura na qual ele é apresentado é um pouco diferente. A estrutura que Atisha usa são os três escopos de objetivo espiritual. Isso foi seguido na tradição Kadam, que vem de Atisha, e depois na tradição Gelug, que é a tradição Kadam renovada, depois de ter se dividido em muitos ramos. E a mesma estrutura de três escopos também é usada em uma das tradições Kagyu, o Shangpa Kagyu.

Bom, isso foi para contextualizar. Atisha diz aqui:

Prostro-me ao Jovial Bodhisattva Manjushri

Ele dá o nome em sânscrito e, em seguida, o nome em tibetano e aqui, em nossas línguas ocidentais, o nome é Uma Lamparina para o Caminho da Iluminação. A tradição é sempre escrever o título primeiro em sânscrito e depois em tibetano, por respeito. Provavelmente ele o escreveu em sânscrito. E o padrão nos textos da Índia é sempre começar com uma homenagem ou uma prostração. Manjushri é a personificação da sabedoria, ou da clareza mental, e da compreensão de todos os Budas. É muito comum que se faça prostrações a ele no início dos textos.

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