O Que Devemos Considerar Quando Pensamos Sobre a Morte

A Dificuldade de se Obter um Renascimento Humano Precioso e Como Aproveitá-lo Melhor

No começo, é importante pensar sobre a dificuldade de se obter um renascimento humano precioso com todas as liberdades, de situações que impedem a prática do dharma, e com todos as oportunidades, as circunstâncias e oportunidades favoráveis à prática. Há muitas coisas em que pensar e considerar, como, por exemplo, o fato de que é difícil obter essa base de trabalho do ponto de vista dos exemplos, do ponto de vista da sua natureza e do ponto de vista de suas causas.

Agora nós temos essa base, que é tão difícil de se obter. Mas como foi que conseguimos ter um renascimento humano assim? Foi porque trabalhamos muito no nosso desenvolvimento espiritual em vidas passadas, e isso gerou as causas para renascermos desta maneira. É como se tivéssemos feito um esforço equivalente a rolar uma grande bola de metal ladeira acima até a metade de uma montanha. Ou seja, nós trabalhamos muito para conseguir esta vida humana, e agora, cabe-nos avançar, progredir mais. Só rolamos a bola até o meio da montanha. Se não tivermos cuidado, corremos o risco de ela rolar de volta para a base, e será muito difícil fazê-la subir novamente.

O que precisamos fazer é, com base na vida humana preciosa que temos agora, tentar desenvolver compaixão, amor e o coração dedicado de bodhichitta. O melhor que podemos fazer, portanto, é tentar nos iluminar. Se não fizermos uso adequado do que temos agora, se ficarmos apenas fazendo preces para termos um renascimento humano tão precioso quanto este no futuro, seria como ter uma grande cesta cheia de arroz e não usar, colocar de lado e rezar para obter outra!

Agora nós temos esta excelente base de trabalho que podemos usar para a prática do dharma. Precisamos nos esforçar e rezar para fazer pleno uso dela. Deveríamos estar muito felizes por termos isso. Podemos pensar: “Já que obtive algo tão precioso quanto essa base de trabalho, vou usá-la adequadamente agora e rezar para poder continuar fazendo o mesmo no futuro.” De manhã, quando acordamos, é importante pensar: “Como é maravilhoso eu ter acordado! Eu não morri durante o sono!” É importante começarmos o dia com esta forte intenção: “Hoje vou continuar a usar adequadamente minha vida humana preciosa!”

O tipo de vida que temos agora é muito precioso; possuímos oito liberdades temporárias, de oito situações difíceis nas quais não teríamos chance de progredir espiritualmente. São oito situações como não-humanos e oito situações como humanos. Então, quando acordamos de manhã, precisamos pensar em como somos afortunados por não termos morrido durante a noite. Se tivéssemos morrido e renascido em qualquer uma dessas oito situações onde não teríamos chance de progredir espiritualmente – se tivéssemos renascido como um inseto rastejante, por exemplo –, não teríamos nem a oportunidade de ouvir sobre as medidas preventivas do dharma. Por isso, é importante nos sentirmos muito felizes e gratos pela nossa sorte de acordar de manhã e continuar a ter as oportunidades que temos. Além disso também é importante estabelecermos a forte intenção de usar ao máximo essas oportunidades. À noite, se pensarmos dessa maneira e estabelecermos uma forte intenção de aproveitar plenamente nossas oportunidades, mesmo enquanto dormimos estaremos usando o nosso tempo de uma maneira construtiva.

Quando Tsongkhapa escreve: "peço inspiração para desenvolver, sem interrupções, uma atitude de aproveitá-lo de todas as formas, dia e noite," ele está se referindo ao tipo de prática que podemos fazer tanto de manhã quanto à noite - ou seja, aproveitar a essência da nossa preciosa vida humana.

Nesta passagem, onde Tsongkhapa fala sobre esse tópico, podemos aplicar todos os vários ensinamentos e métodos concernentes a esse tópico. Esses ensinamentos e métodos são encontrados principalmente nos sutras, que são as palavras do próprio Buda, mas também nos vários shastras, que são os textos explicativos escritos pelos mestres budistas indianos. Além disso, temos ainda todos os textos escritos por mestres tibetanos de todas as tradições do budismo no Tibete (Kagyu, Nyingma, Sakya e Gelug). Quaisquer métodos que encontrarmos sobre esse assunto, em qualquer uma dessas fontes, precisamos aplicar aqui.  Ou seja, precisamos considerar e aplicar todos os ensinamentos que tratam do renascimento humano precioso, com suas liberdades e oportunidade, não importa de qual fonte budista válida eles venham. É como, por exemplo, quando temos um pote para açúcar, podemos colocar todo o nosso açúcar nele, independentemente da loja onde o compramos.

Se tivermos uma preciosa base de trabalho e não a usarmos adequadamente, será muito difícil conseguir outra. Seria maravilhoso se pudéssemos sempre obter uma vida humana preciosa; mas esse não é o caso. Portanto, se não fizermos uso adequado dela agora, provavelmente não teremos outra chance. Alguém que é muito forte e corajoso, mas que não tem pernas nem braços, não consegue fazer muita coisa. Da mesma forma, não haverá muito o que fazer quando perdermos nosso corpo humano precioso.

Se nosso corpo humano fosse algo extremamente forte e imperecível, seria diferente; mas não é assim. Ele não é muito forte. Além disso, já que nascemos, certamente iremos morrer. Se houvesse algum lugar que pudéssemos ir onde as pessoas não morressem, seria maravilhoso. Mas tal lugar não existe. Como não existe um lugar onde podemos escapar da morte, é importante mantermos isso em mente.

Morte e Impermanência

Quando ouvimos sobre a morte e os reinos inferiores, a maioria de nós acha muito desagradável se comparado a ouvir sobre os vários assuntos e preocupações mundanas. Ouvir sobre essas coisas é como ouvir uma história ruim. É desagradável. Por outro lado, ouvir que coisas como a morte ou os reinos inferiores não existem seria como ouvir uma história muito agradável. Mas ouvir uma história agradável, que diz que não existem tais coisas, quando na verdade existem, seria um grande ludíbrio; uma mentira.

Se decidirmos que, como não gostamos de ouvir histórias sobre a morte e os reinos inferiores, é melhor não ouvir, pois são muito desagradáveis e perturbadoras, e se, com tal atitude, pudéssemos fazer com que a morte e o renascimento em reinos inferiores não acontecessem, seria muito bom. Mas, não é o caso. Não gostar de ouvir sobre essas coisas ou não acreditar nelas não as faz ir embora. E, de fato, esses relatos não são apenas histórias inventadas: é tudo real. Já que a morte é algo que definitivamente chegará para cada um de nós, e que é apenas uma questão de tempo, precisamos ouvir isso e tentar encontrar algum método para evitar ficarmos completamente aterrorizados quando estivermos para morrer.

E não é apenas uma questão de ficar apavorado, "eu vou morrer, vou morrer!" ou completamente consternado. Esse não é o ponto, pois na verdade existem métodos, existem medidas preventivas que podemos tomar para garantir que nossa morte não seja uma experiência assustadora. Se esses métodos existem e nós não os usamos, é uma pena; é um grande desperdício.

Podemos também pensar que é melhor não nos mantermos conscientes da morte. Mas, se não nos atentarmos a ela, não nos atentaremos em tomar as medidas preventivas do dharma. E mesmo que estejamos conscientes das várias medidas preventivas do dharma, se não estivermos continuamente conscientes de nossa morte iminente, não praticaremos até o fim. Quando começamos a praticar o dharma e não levamos as práticas até o final, isso é um sinal de que não estamos suficientemente conscientizados da morte.

Há pessoas que passam a vida toda fazendo coisas destrutivas, como roubar, assassinar e assim por diante. Elas também se engajam nessas coisas porque não estão atentas a sua morte iminente e ao que pode acontecer depois. Se durante a nossa vida nos ocuparmos apenas de assuntos mundanos - especialmente os negativos, os destrutivos -, quando a morte estiver chegando, é claro que ficaremos muito chateados. Todos ao nosso redor também ficarão tristes e chateados. Mas, além de chateados, vamos morrer em um estado de grande pesar. Todos esses são problemas de não nos conscientizarmos da morte antes dela chegar.

Por outro lado, quando temos consciência da morte, ela age como um incentivo para praticarmos do dharma. Portanto, quando perguntamos o que nos leva à prática espiritual, a primeira coisa é ter consciência de que podemos morrer a qualquer hora.

Quando o Buda iniciou a primeira rodada de transmissão do dharma, uma das primeiras coisas que ele ensinou foi a sobre impermanência - que nenhuma situação permanece estática ou dura para sempre. O próprio Buda, por exemplo, nasceu em uma família real; ele era um príncipe e tinha incrível riqueza e esplendor. Mas a visão de um cadáver sendo carregado perto da cidade real fez com que ele deixasse para trás toda a sua riqueza e partisse em uma busca espiritual. Ver alguém morto foi a circunstância que o levou à prática espiritual.

A consciência da morte e da impermanência não é apenas um incentivo para começarmos nossa prática espiritual do dharma, também é um incentivo para praticarmos até o fim. Podemos ver isso nas pinturas [que ilustram] alguns dos maiores praticantes e seres realizados. Muitos deles usam ornamentos e objetos feitos de ossos humanos, como uma cuia feita de crânio ou uma trombeta feita de fêmur. O motivo disso é permanecer continuamente consciente da morte e da impermanência.

Além disso, pensar sobre a impermanência e permanecer sempre atento a ela nos incentiva a completarmos nossa jornada espiritual. Quando temos uma percepção muito forte da impermanência, temos uma mente extremamente forte e orientada espiritualmente. Quando o próprio Buda faleceu, em Kushinagar, o último ensinamento que ele deu foi sobre a impermanência.

Realmente perceber (ter a realização de) a morte e a impermanência – o fato de que nada permanece estático - é o verdadeiro caminho mental de alguém do escopo inicial. Essa percepção nos leva a desenvolver o caminho mental de alguém com uma motivação do escopo intermediário e atua como um incentivo para progredirmos ainda mais e nos tornarmos alguém do escopo avançado. Essa consciência da impermanência é essencial para conseguirmos desenvolver amor e compaixão e para conseguirmos ter uma prática espiritual totalmente pura e adequada. Além disso, se, com base numa firme percepção da impermanência, praticarmos bem o dharma, quando morrermos podemos entrar em um estado mental muito feliz, muito pacífico. Claro, não há como não morrermos, mas a percepção da impermanência faz com que possamos enfrentar nossa passagem pela morte com um estado de espírito feliz e pacífico, sem arrependimentos.

Como Tomar Consciência da Morte

Há muitos pontos que podem ser discutidos no que diz respeito à morte e à impermanência, e também às várias vantagens de estarmos sempre consciente disso e as desvantagens de não estar. Mas em suma, quando perguntamos: "Bom, como desenvolver essa consciência da morte?", isso está descrito nas duas primeiras linhas da próxima estrofe:

(3) Na hora da morte, meu corpo e força vital se esvairão rapidamente, como bolhas em um riacho. Lembrando disso, e com a certeza de que após a morte os frutos de minhas ações brilhantes e obscuras me seguirão,

O primeiro ponto em que devemos pensar é no fator de certeza da morte - o fato de que a morte certamente chegará. O segundo ponto é que não há como dizer quando ela chegará. O terceiro é considerar que, no momento da morte, nada nos será útil, a não ser o fato de termos tomado as medidas preventivas do dharma durante nossa vida.

São muitos os pontos a considerar no que diz respeito à certeza da morte. Não importa que tipo de corpo com que renasçamos, pois não há nenhum corpo que nunca pereça. Hoje em dia, temos hospitais muito bons, médicos extremamente habilidosos, remédios muito poderosos e drogas maravilhosas. Mas não importa quão poderosas sejam todas essas coisas, ainda não há cura para a morte. Não há nada que possa eliminar a morte e nenhum hospital que possamos ir para escapar dela, porque se fosse possível existir tal hospital, certamente ele já existira. Até mesmo o próprio Buda, que é plenamente iluminado, o Buda Shakyamuni, apesar de ter desenvolvido uma mente totalmente clara e ser totalmente evoluído, ainda assim demonstrou uma maneira absolutamente comum de morrer em Kushinagar. Qualquer um pode ir lá e ver o lugar em que ele morreu.

Algumas pessoas chegaram a viver milhares de anos. Mas não importa se a pessoa é um Matusalém - e ainda podem existir algumas pessoas como ele -, ninguém vai escapar da morte ou de finalmente morrer em algum momento.

Embora existam muitos lugares para onde ir, não há nenhum lugar onde podemos escapar da morte. Alguns tibetanos viajaram por toda a Índia na esperança de encontrar um lugar onde houvesse um tratamento médico que os livrasse de morrer de uma doença terminal, mas ninguém encontrou tal lugar. Eles vêm até para o Ocidente em busca de bons hospitais, mas quando seu tempo acabou, seu tempo acabou. Nós temos que morrer. Não importa quão grandes sejam os hospitais, ou quão fantásticos sejam os medicamentos, quando nosso tempo acabar, isso de nada nos servirá. Até os próprios médicos adoecem, são hospitalizados e morrem.

Além disso, não há como ter certeza de quando a morte chegará; ela pode chegar a qualquer momento. O texto diz: “Na hora da morte, meu corpo e força vital se esvairão rapidamente, como bolhas em um riacho”. Quando olhamos para as bolhas ou para a espuma em um riacho, podemos ver claramente que são coisas que não duram. São coisas instáveis e podem sumir a qualquer momento. Nossa vida também é exatamente assim.

Podemos ver tudo isso por nós mesmos. Não há certeza alguma de quando nossa morte chegará. Não precisamos estudar isso em textos, podemos ver por nós mesmos, a partir de nossas próprias experiências de vida. O ponto de tudo isso é que não devemos nos enganar pensando que podemos ser preguiçosos, que podemos deixar para praticar amanhã. Nós não sabemos quando iremos morrer. Portanto, precisamos tomar a firme decisão de tomar as medidas preventivas do dharma agora, reconhecendo que a morte pode estar próxima. Como diz o texto, "meu corpo e força vital se esvairão rapidamente ".

Podemos ver muitos exemplos da rapidez com que as coisas chegam ao fim. Depois que o sol nasce, ele se põe rapidamente. Quando estamos em um trem em movimento ou em um avião, ele não para, ele está sempre seguindo em direção ao seu destino. A vida passa da mesma maneira. A morte definitivamente chegará; não há como evitá-la. Se nos enganarmos achando que podemos nos preocupar apenas com a acumulação de riqueza e posses materiais para esta vida, o que construímos não será de nenhuma utilidade. Na hora da morte, não poderemos levar nada disso conosco.

Potenciais Cármicos Brilhantes e Obscuros

Se perguntarmos o que poderemos levar conosco quando morrermos, o exemplo é o de uma sombra seguindo um corpo. O que segue conosco, como a sombra segue o corpo, são os vários potenciais que geramos em nossa vida, tanto os brilhantes quanto os obscuros - os chamados potenciais cármicos “brancos” e “pretos”.

Todos queremos felicidade e ninguém quer problemas e sofrimentos. Mas de onde vêm essas coisas? Toda a nossa felicidade vem de nossas ações positivas, brilhantes ou enobrecedoras; e todos os nossos problemas e sofrimentos vêm das coisas sombrias, negras. Se essas são as duas coisas que levamos conosco quando morremos - os potenciais cármicos desses dois tipos de ações -, é óbvio que estaríamos muito melhor se tivéssemos mais potenciais positivos. Queremos levar conosco, para as futuras vidas, os potenciais positivos para a felicidade que construímos a partir de nossas ações construtivas. Não queremos nenhum potencial negativo ou obscuro de comportamentos destrutivos nos causando problemas e infelicidade. Este é o motivo de tomarmos todas as medidas preventivas do dharma e seguirmos uma prática espiritual: gerar esses potenciais positivos, ou potenciais para a felicidade, que nos beneficiarão em vidas futuras. Sabemos que nada mais poderá nos ajudar no momento de nossa morte. A decisão apropriada a tomar, portanto, é colocar todas a nossa energia nessa direção.

Existem inúmeras ações brilhantes e inúmeras ações obscuras. Mas todas elas podem ser resumidas nas dez ações construtivas ou virtuosas e nas dez ações destrutivas ou não-virtuosas. É importante conhecer em detalhe essas ações construtivas e destrutivas, sabendo que são uma base, sobre a qual podemos expandir à medida que progredimos para nos tornarmos alguém do escopo avançado de motivação.

Se, depois que morrêssemos, não houvesse renascimento, a morte seria apenas um evento pontual e sem grande importância. Mas como o texto diz "após a morte", e fala sobre o que se segue, podemos ter certeza de que realmente existem vidas futuras. Há muitas pessoas que afirmam não existir renascimento. Mas elas só podem pensar que não existe, não há como terem certeza absoluta. Embora não consigamos ver as vidas futuras, não há como afirmarmos com certeza que elas não existem.

Existem vidas futuras; é tudo verdade. E o que determina o tipo de renascimento que teremos? São os tipos de potenciais cármicos que construímos - sejam os brilhantes, os construtivos, ou os obscuros, os negativos. É isso que determina o tipo de renascimento que teremos. Embora não consigamos ver os seres do inferno ou os fantasmas famintos, podemos ver os animais e as criaturas rastejantes ao nosso redor. Se não pararmos de agir de forma destrutiva, poderemos renascer com corpos como os deles e exatamente nas mesmas situações terríveis pelas quais eles passam. Isso podemos dizer com certeza. Se pensarmos em todos os problemas e sofrimentos que os animais enfrentam e todas as dificuldades desse tipo de renascimento, ficaremos apavorados. Nós não queremos experimentar essas coisas. Então iremos procurar uma direção segura ou um refúgio a fim de evitar um renascimento tão ruim quanto o dessas criaturas.

Direção Segura - Refúgio

Se não houvesse uma direção segura a tomar, seria melhor não pensarmos em todos esses terríveis problemas. Mas o fato é que existe uma direção segura; existe um refúgio que podemos encontrar. Se perguntarmos sobre os métodos que devemos adotar, em primeiro lugar, precisamos saber que existem grandes seres que indicaram esses métodos, que foram os budas.

Os budas têm um Corpo (um conjunto) de Formas Iluminadas (um Rupakaya) e um Corpo que Tudo Permeia (um Dharmakaya). Se perguntarmos: "Como os budas conseguiram um corpo de formas iluminadas?" Esse é o resultado de terem gerado potenciais positivos ou méritos ao longo de mais de três milhões de éons. Similarmente, se perguntarmos: “Como os budas conseguiram um Corpo que Tudo Permeia, um Dharmakaya?” Esse é o resultado de terem desenvolvido completamente suas mentes para conseguir entender tudo - e particularmente, para serem capaz de entender a vacuidade (vazio), a total ausência de formas impossíveis de existir.

Um Corpo de Formas Iluminadas, um Rupakaya, tem dois aspectos: um Corpo de Uso Completo ou Sambhogakaya, e um Corpo de Emanações ou Nirmanakaya.

Um Corpo de Uso Completo, um Sambhogakaya, é um conjunto de corpos que fazem pleno uso dos ensinos Mahayana. Apenas bodhisattvas altamente realizados - arya bodhisattvas com as mentes no nível do primeiro ao décimo bhumi - são capazes de realmente reconhecer e receber ensinamentos desses corpos. Tais corpos residem apenas nas terras puras dos budas, como o Reino de Akanistha, o reino mais grandioso. Eles não aparecem em reinos comuns ou terras impuras. E eles ensinam apenas os métodos da mente vasta do Mahayana. E os corpos Sambhogakaya nunca demonstram um parinirvana, um falecimento com liberação final, ao contrário de um Supremo Corpo de Emanação (Supremo Nirmanakaya). Além disso, esses corpos aparecem com todas as trinta e duas características físicas principais e as oitenta secundárias de um buda.

Embora um Rupakaya inclua entre suas formas iluminadas esses Sambhogakayas, ainda assim é necessário que os budas apareçam em formas que possam beneficiar a todos, e não apenas aos arya bodhisattvas. As formas iluminadas que os seres comuns, que não são aryas, que não contemplaram a realidade, conseguem encontrar são as que constituem o Corpo de Emanações, o Nirmanakaya - emanações de Sambhogakayas.

Um Corpo de Emanações, um Nirmanakaya, inclui três tipos de corpos iluminados: Corpos de Emanação Supremos, Corpo de Emanação como Artistas e Emanações como Personagens.

O Buda Shakyamuni é um exemplo de um Corpo de Emanação Supremo. Quando alguém tem o potencial cármico puro e apropriado, consegue encontrar um corpo de emanação e receber ensinamentos diretamente dele. Mas como nós não geramos potenciais puros, não conseguimos nos encontrar com tais corpos. Os tipos de corpos de emanação que podemos encontrar são as Emanações como Artistas ou como Personagens.

A Emanação Como Personagem que poderíamos encontrar seria, por exemplo, uma emanação de Avalokiteshvara. Sua Santidade o Dalai Lama é uma emanação de Avalokiteshvara na forma de uma personagem. Um exemplo de uma Emanação Como Artista seria como na seguinte história: certa vez, havia um rei dos músicos celestiais ou gandharvans, que estava extremamente orgulhoso de sua habilidade de tocar alaúde. O Buda manifestou uma emanação como um artista que era ainda mais habilidoso em tocar alaúde e, desta forma, usou vários de meios para ajudar essa pessoa.

Podemos pensar nos diferentes tipos de budas no que diz respeito à apresentação do sutra ou do tantra. Nos sistemas sutra, fala-se dos milhares de budas desse éon afortunado. Fala-se também dos budas dos três tempos e das dez direções. Já nos tantras, existem as diferentes figuras búdicas ou yidams que, novamente, são tipos diferentes de formas iluminadas. Todas essas diferentes formas nas quais um buda pode aparecer constituem a joia rara e suprema dos budas, de quem derivamos uma direção segura na vida.

Na nossa prática, é importante respeitarmos e reconhecermos as várias representações do Buda. Precisamos considerar todas as representações de um buda como sendo realmente budas, desde as grandes pinturas em templos budistas até os desenhos minúsculos das crianças. Isso porque, quando desenvolvermos o caminho mental da acumulação (o caminho mental da construção), que é o primeiro dos cinco caminhos da mente – e, especificamente, os três níveis dessa mente, desenvolveremos eventualmente o grande nível – poderemos realmente ouvir e receber ensinamentos da fala iluminada de todas as representações dos budas, até mesmo dos minúsculos desenhos das crianças. Além disso, quando atingirmos o nível elevado do caminho mental da acumulação, seremos capazes de recordar e recitar todos os vários ensinamentos que já ouvimos, sem esforço. Teremos grandes habilidades, habilidades como essa, com esse nível de mente do caminho.

Essa é a joia suprema e rara dos budas, aqueles que realmente nos mostram a direção segura na vida, o refúgio. Existem inúmeras boas qualidades no corpo, fala e mente iluminada desses seres, e todas essas qualidades estão descritas nos grandes textos. Vocês têm excelentes mestres espirituais aqui e podem estudar todas essas qualidades com eles.

Quando tomarmos consciência de todas essas boas qualidades e habilidades, teremos uma crença respeitosa e excepcionalmente forte e estável no que é fato. Se não estivermos conscientes de todas as boas qualidades, será difícil termos uma crença respeitosa que seja realmente profunda e estável. Tudo o que poderemos ter será uma atitude devocional, de considerar o Buda como alguém muito sagrado e precioso, mas isso não é uma base para se fazer qualquer progresso.

Quanto à suprema e rara joia das medidas preventivas, o dharma, ela se refere às qualidades do abandono e às realizações no contínuo mental de um ser iluminado, um buda. E não só isso, mas também as qualidades do abandono e as realizações no contínuo mental de todos os seres altamente realizados, de todos aryas. Essa é a verdadeira fonte de direção segura do dharma. Em termos do modo convencional de abordar essa joia, reconhecemos todos os textos e escrituras como representações desse refúgio do dharma.

A verdadeira, rara e suprema joia da comunidade engajada, da comunidade engajada em um objetivo positivo, a sangha, é composta por aqueles que nos ajudam a realizar esse objetivo de seguir a direção segura do dharma. Especificamente, a joia rara e suprema da Sangha são todos os seres altamente realizados, todos os aryas. Os aryas são aqueles que perceberam de forma direta e não conceitual a realidade, ou a vacuidade, aqueles que viram que não existem identidades verdadeiras. Tais seres são a verdadeira fonte de direção de uma comunidade engajada.

No geral, se tivermos quatro monges ou quatro membros de qualquer uma das quatro divisões de pessoas ordenadas, isso constitui uma comunidade engajada ou uma sangha. Se tivermos apenas um monge, por exemplo, essa pessoa não poderia ser considerada uma sangha, já que é apenas uma pessoa. Essa pessoa seria meramente conhecida como monge mendicante ou bhikshu. São necessárias quatro ou mais pessoas ordenadas para formar uma comunidade engajada, ou sangha.

Quando estamos praticando, é importante reconhecer que apenas a Sangha de Aryas é a comunidade que atua como uma fonte de direção segura. Devemos praticar lembrando disso. A comunidade monástica é meramente uma representação. A Sangha de Aryas age como nossos verdadeiros amigos e ajudantes no caminho. Entre as Três Joias de Refúgio, a Joia do Buda é aquela que realmente indica a direção segura a seguirmos, a Joia do Dharma é a direção a ser tomada e a Joia da Sangha são os ajudantes, aqueles que nos ajudarão na tarefa de tomar uma direção segura e sólida na vida.

Se eu contar a vocês a história de Stiramati (Blo-gros brtan-pa), um filho dos deuses, talvez vocês consigam entender melhor as Três Joias. Deuses, aqui, são seres que não enfrentam os problemas comuns que enfrentamos como seres humanos. Eles não têm problemas com dinheiro e posses; eles têm uma vida de grandes prazeres. Onde eles vivem, tudo tem a natureza das pedras preciosas e joias. Eles estão sempre se divertindo; eles sempre estão cercados de adoráveis deuses e deusas; e eles vivem uma vida muito longa de lazer e prazer. Mas mesmo tendo vidas tão longas, nenhum deles consegue escapar da morte. É só uma questão de tempo.

Pouco antes de morrerem, os deuses recebem vários sinais de que sua morte é iminente. Normalmente, seus corpos são muito perfumados, mas quando estão prestes a morrer, começam a emitir odores extremamente desagradáveis. Eles sempre usam várias guirlandas de flores; mas, quando estão prestes a morrer, essas guirlandas começam a murchar. Embora eles normalmente brinquem e se divirtam com todos os outros deuses e deusas, quando esses sinais aparecem, todos os abandonam. Somente aqueles que são amigos realmente fiéis vão vê-los, mas ficam olhando de longe, ficam de pé à distância, apenas olhando. Além disso, quando um deus está prestes a morrer, ele consegue ver o tipo de renascimento que terá em sua próxima vida.

Esse deus específico, chamado Stiramati, viu que iria cair em um dos piores estados de renascimento em sua próxima vida e que, depois disso, ele renasceria como um porco. Portanto, ele começou a sofrer muito e ficou muito atormentado. Em geral, quando falamos de sofrimento físico e dor, o pior é aquele experimentado pelas várias criaturas nos infernos; mas em termos de sofrimento e tormento mental não há nada pior do que o sofrimento vivenciado por um deus nessa circunstância.

Como Stiramati normalmente pedia conselhos ao Rei dos Deuses, Indra, foi até ele e perguntou se havia algo que pudesse fazer para evitar tal destino. E o Rei dos Deuses respondeu: “Não há nada que eu possa fazer para ajudá-lo, não tenho nenhum método que possa lhe dar uma direção segura para sair disso. O único que pode fazer alguma coisa é o Buda, eu vou levá-lo até ele.”  Então ele levou este filho dos deuses, Stiramati, para conhecer o Buda.

O Buda o instruiu a fazer os vários rituais da figura búdica Ushnishavijaya, uma deidade pessoal com três faces e oito braços, quatro de cada lado. Assim, o deus fez todas as várias práticas e procedimentos para as nove divindades do círculo de Ushnishavijaya, e como resultado foi capaz de esgotar completamente os potenciais negativos que havia gerado para um renascimento tão terrível.

A essa altura, Stiramati estava no Céu dos Trinta e Três Deuses. Acima desse céu está o céu de Ganden (Tushita) e ele conseguiu renascer nesse paraíso, que é ainda mais elevado do que aquele onde ele estava. Indra, o Rei dos Deuses, tem a capacidade de ver os vários renascimentos que as pessoas têm em reinos inferiores aos seus; mas como Stiramati renasceu em um reino mais elevado que o dele, Indra foi incapaz de vê-lo. Portanto, ele teve que perguntar ao Buda, que o informou que Stiramati havia renascido no céu de Ganden, que é mais elevado que o de Indra.

Nesse exemplo, o Buda foi quem indicou uma direção segura para Stiramati, quem indicou o refúgio. Mas a direção segura em si foi fornecida pela prática das nove divindades de Ushnishavijaya. Esta foi a verdadeira direção segura, o refúgio que lhe permitiu esgotar todo o seu potencial negativo. É por isso que se diz que a joia suprema e rara das medidas preventivas, a Joia do Dharma, é a verdadeira direção segura a ser tomada. Indra, neste exemplo, seria a Joia da Comunidade Engajada, a Sangha, pois foi ele quem ajudou Stiramati a encontrar uma direção segura, levando-o até o Buda.

Em suma, a prática de observar nosso comportamento em termos de ações brilhantes e obscuras e agir de forma a produzir resultados adequados seria a verdadeira medida preventiva, o dharma, que nos dá uma direção segura e sólida na vida.

Evitando Ações Destrutivas

Agir construtivamente, de maneira brilhante, gera potencial positivo. O resultado disso é o renascimento em um dos melhores estados. Se cometermos ações obscuras e agirmos destrutivamente, geraremos potencial negativo, e o resultado desse potencial negativo é que renasceremos nos estados piores, isso é certo. O fator de certeza das ações cármicas diz respeito a isso.

Se quisermos saber como pensar nos vários tipos de ações obscuras ou destrutivas, elas se resumem a dez: três de corpo, quatro de fala e três de mente. O primeiro tipo de ação destrutiva do corpo, por exemplo, é tirar uma vida. O resultado inicial de tirar uma vida é renascer em um dos estados piores. Isso é conhecido como o “resultado amadurecido”; é a primeira coisa que amadurece como resultado da ação. E existem dois tipos de resultados que correspondem à causa: Há resultados que correspondem à causa em nossa experiência e resultados que correspondem à causa em nosso comportamento. No caso de tirar uma vida, o resultado que corresponde à causa em nossa experiência poderia ser: depois de renascer em um estado pior, renascer como um ser humano, mas experimentar uma vida muito curta e cheia de enfermidades e dificuldades. Isso corresponde ao que fizemos no sentido de encurtar a vida de outra pessoa. O resultado que corresponde à causa em nosso comportamento seria ser muito sádico e gostar de matar, desde a infância.

Da mesma forma, há um resultado abrangente, ou dominante, que muitos seres que tiraram a vida de outros irão experimentar: no país em que nascerem, os remédios, por exemplo, serão ineficazes e fracos, e a comida terá muito pouco valor nutricional.

Assim como existem esses quatro tipos de resultado quando se tira a vida dos outros, existem quatro tipos similares de resultado para todas as dez ações destrutivas.

Quando temos um estado mental em que enxergamos todas as desvantagens de matar e resolvemos, por estarmos cientes dessas desvantagens, que vamos evitar tirar vidas e realmente nos abster de matar, esse exercício de restrição é uma ação positiva, ou brilhante, do corpo. É a ação construtiva de abster-se de matar.

Se, ao perceber as desvantagens de matar em uma determinada situação, e resolvermos evitar uma única vez tirar a vida de outra pessoa, e nos abstermos nessa situação, vamos experimentar uma rodada de resultados a partir desse ato construtivo. No entanto, se, na mesma situação, fizermos um juramento de nunca mais matar e, depois disso, sempre nos abstermos de matar, então, mesmo enquanto estivermos dormindo, continuaremos a gerar o potencial positivo de continuar nos abstendo de matar.

Entre os discípulos próximos ao Buda Shakyamuni, cada um tinha suas especialidades. O altamente realizado Katyayana (Ka-tya'i bu) tinha a especialidade de ser capaz de domar e lidar com pessoas das regiões fronteiriças. Certa vez ele conheceu um matador de animais e pediu que este fizesse o voto de não matar, de não abater mais animais. Mas o homem respondeu: "Eu não posso fazer isso, não posso prometer não abater durante o dia. Mas prometo nunca abater animais à noite”.

Naquela época, havia muitos grandes tesouros e joias a serem encontrados nos oceanos, e muitos comerciantes costumavam lançar-se ao mar em busca de fortuna. Esses mercadores sempre levavam um guia, pois naqueles tempos as viagens marítimas eram extremamente difíceis e perigosas. Certa vez, um grupo de comerciantes pediu ao altamente realizado Sangharakshita (dGe-'dun 'tsho) para acompanhá-los como guia. No entanto, devido ao mau tempo e a enormes ondas, eles se perderam e foram ter em uma terra estranha e desconhecida.

Certa noite, quando Sangharakshita estava vagando por essa terra estranha, encontrou uma linda casa, com excelentes mantimentos e resolveu dormir lá naquela noite. Quando acordou na manhã seguinte antes do amanhecer, seu anfitrião lhe disse: “Por favor, saia daqui antes que o sol nasça, porque durante o dia eu tenho problemas terríveis, que me assolam o dia inteiro, até o pôr do sol”. Ele explicou que assim que o sol nascesse, todos os animais que estivessem por ali iriam para sua casa e o atacariam. Os bichos com chifres o corneariam, com dentes e presas o morderiam, e com garras o arranhariam. Essa cena horrível continuaria até o pôr do sol. "Mas assim que o sol se põe", disse ele, "até que se levante novamente de manhã, tudo fica pacífico, agradável e lindo aqui".

Tempos depois, Sangharakshita se encontrou novamente com o Buda e descreveu que em uma terra distante havia essa situação muito estranha e incomum. O Buda então explicou: “Esse é o renascimento de uma pessoa, um matador, que tomou votos perante o altamente realizado Katyayana, de abandonar o abate de animais somente à noite, e continuou abatendo-os durante o dia. A situação que você presenciou é o resultado desse tipo de ação.”

Como podemos ver neste exemplo, em qualquer tipo de potencial cármico que tenhamos gerado a partir de vários tipos de ações, há um fator de certeza sobre o tipo de resultado que se seguirá.

Além disso, no que diz respeito ao comportamento cármico, há um fator conhecido como o fator de aumento: a partir de uma ação muito pequena, resultados enormes podem amadurecer. Por exemplo, considere uma pequena bolota (semente) - uma árvore grande e poderosa pode crescer a partir dela. Isso se dá em um nível externo. Em um nível interno, a partir da semente de um potencial cármico gerado por uma pequena ação, um resultado muito grande também pode amadurecer. Por exemplo, se fizermos uma prostração realmente correta e completa, acumularemos a mesma quantidade de potencial positivo, ou mérito, necessário para renascer como um imperador cósmico universal, um Rei Chakravartin, e por tantas vezes quanto a quantidade de grãos de poeira que estiverem embaixo do nosso corpo.

Houve uma pessoa que compôs um texto enganoso sobre determinados rituais envolvendo cobras. Como resultado, algo terrível aconteceu com sua cabeça: ela se abriu e ele começou a coçar, e a pessoa se transformou em uma cobra. Da mesma forma, certa vez uma pessoa disse a um monge: “Sua voz é como a de um cachorro” e renasceu como um cão quinhentas vezes. Portanto, mesmo um pequeno deslize como esse, dizer que a voz de alguém é como a de um cachorro, pode trazer resultados terríveis e desastrosos.

No início do universo, o primeiro monarca reinante era conhecido como o “monarca escolhido de comum acordo”. Esse monarca não só dominava os quatro mundos insulares - os chamados “quatro continentes” - e os mundos insulares secundários, como também tinha gerado o potencial positivo para compartilhar o trono com o Rei dos Deuses, Indra, no Céu dos Trinta e Três Deuses. Enquanto ele compartilhava o trono, os anti-deuses, os asuras, que estavam sempre atacando os deuses, se tornaram muito fortes e começaram a vencer as batalhas. O monarca ficou dividido entre duas opções: ajudar os deuses na guerra ou aproveitar a situação para tentar usurpar o trono desse reino celestial e governar sozinho. Mas, por mais que tentasse, nunca foi capaz de assumir completamente o trono. Ele não tinha o potencial cármico para isso, e o motivo era que na época de um buda anterior ele havia feito uma oferta de cinco ervilhas para esse buda. Quando ele colocou as ervilhas na tigela de pedinte do buda, quatro caíram dentro da tigela, mas uma permaneceu na borda. Como resultado do potencial positivo gerado pelas quatro ervilhas que permaneceram na tigela, ele dominou os quatro continentes e pode compartilhar o trono de Indra. Mas ele só conseguiu ocupar metade do trono do Rei dos Deuses, por causa da ervilha que ficou equilibrada na borda da tigela.

Esses exemplos nos fazem refletir sobre como os potenciais cármicos se ampliam com o fator de aumento do carma. É extremamente importante pensar sobre os vários fatores relativos ao comportamento cármico e seus resultados.

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