Acalmar-se
Começamos o treinamento com um rápido exercício para acalmar a mente. Quando falamos em “acalmar a mente”, não queremos dizer apagar tudo, como um rádio que foi desligado. Acalmar a mente significa silenciar coisas desnecessárias que estão passando pela mente e ficar mais aberto e positivo. Mas, se fizermos apenas isso, ou fizermos de forma incorreta, tenderemos a nos isolar dos outros e não ter mais sentimentos. Se chegarmos a esse ponto, de nos desligar de tudo, é sinal que fomos longe demais.
Quando procuramos acalmar as coisas irrelevantes, os problemas em nossa mente, também queremos acalmar o nosso nervosismo, nossas preocupações e nossos medos. Para algumas pessoas, isso não é muito fácil, obviamente. Mas, estar em um grupo no qual todo mundo concorda em não julgar uns aos outros, pode nos ajudar.
O Coração Solidário
Continuemos agora com o coração solidário, a atitude solidária. Vamos começar olhando para as pessoas nas fotos e nos aquietando – esse é o primeiro passo – depois, procuramos levar em consideração cada pessoa, uma de cada vez. Escolhemos a foto de uma pessoa e fazemos a sequência com ela. Quando conseguirmos gerar uma atitude solidária, seguindo uma linha de raciocínio, mudamos o foco para outra pessoa.
Primeiro, acalmamos os pensamentos discursivos. “Pensamentos discursivos” são o blá, blá, blá na nossa cabeça. Para acalmar esse blá, blá, blá, focamos na respiração. Essa é uma utilidade específica da meditação com foco na respiração. Na tradição Theravada, da qual deriva o movimento Vipassana, a respiração é o objeto de foco para diversos tipos de meditação. Mas nas tradições Mahayana, a respiração é destacada como um objeto focal específico para pessoas que têm muitos pensamentos discursivos, que possuem uma mente muito ativa e estão sempre fazendo comentários mentais. Focar na respiração as acalma.
Se você tentar meditar com esse foco, descobrirá que, apesar de estar focado na respiração, parte de sua mente continuará “falando”. Ainda assim, a técnica é bastante útil, especialmente se você tiver um problema que muitas vezes tenho, que é ter uma música tocando sem parar na cabeça. Você escuta uma música e, por alguma razão, sua mente se agarra a ela e você fica cantando-a o dia todo, e isso é muito chato. É muito difícil parar com isso. Mas há muitos métodos que podemos usar.
Métodos para Acalmar a Mente
Um método bastante utilizado no tantra é a recitação de mantras. Usamos a energia verbal para fazer outra coisa, ou seja, para recitar um mantra. Um outro método é analisar e tentar entender algo. Algumas pessoas dizem que ao fazer uma atividade como o Sudoku, você envolve sua mente em algo que exige a capacidade analítica do intelecto, e isso faz com que a música pare de tocar na cabeça. Ou, então, podemos fazer equações matemáticas, somar números mentalmente.
O terceiro método, que encontramos em muitos textos, é focar na respiração. Existem muitos métodos, é uma questão de descobri qual método consegue lhe acalmar – se um não funcionar, tente outro.
Esta preliminar ajuda muito: antes de tentarmos propositalmente acalmar a nossa mente, foque um pouco na respiração e libere qualquer divagação e pensamentos discursivos. Faça isso.
Eu também deveria mencionar algumas instruções presentes em métodos de meditação em geral, que dizem que se estivermos meio entorpecidos e precisarmos lidar com alguém, podemos imaginar uma luz brilhante, isso ajuda muito. Obviamente, se houver uma luz brilhante ao nosso redor, olharemos para ela e isso estimulará a mente, mas também podemos imaginar uma luz brilhante – não embaixo, mas no alto, pois isso eleva a energia – isso também ajudará a clarear um pouco a mente e não ficarmos tão embotado.
A Prática para Gerarmos um Coração Solidário
Agora, vamos para uma das fotos e dispensar quaisquer pensamentos, verbalizações mentais e julgamentos. E pensar:
- Você é um ser humano e tem sentimentos.
- Você é um ser humano e tem sentimentos como eu.
- O seu humor afetará a nossa interação, assim como o meu humor também a afetará.
- Não inventarei nem contarei histórias sobre você em minha cabeça.
- Você é um ser humano, que tem sentimentos. Assim como eu.
- O seu humor afetará a nossa interação, assim como o meu.
- A forma como lhe trato e aquilo que lhe digo afetará seus sentimentos.
- Assim, da mesma forma que espero que você se importe comigo e com meus sentimentos quando interagirmos, eu me importarei com você. Eu me importo com seus sentimentos.
- Não inventarei nem contarei histórias sobre você.
- Você é um ser humano e tem sentimentos.
- Eu me importo com você. Eu me importo com seus sentimentos.
A seguir, paramos de olhar para a foto, olhamos para baixo e permitimos que a emoção dessa experiência se acalme.
Manter a Presença Mental
Se a sua mente sempre está divagando ou viajando, a pergunta é: por quê? Isso é que seria interessante investigar. Pode ser que sua mente esteja viajando para algum lugar ou alguma coisa que lhe atraia muito, a qual você seja muito apegado. Você pode ficar pensando em uma pessoa que você ama, por exemplo.
Pode ser que esteja preocupado com alguma coisa. Mas também pode ser desconforto ou medo de se encontrar com alguém, e a mente fica fugindo. Se sua mente divagar muito, e, especialmente se ela for inconstante e fica viajando para algum objeto de desejo ao qual está apegada, então realmente você precisa começar a investigar o por quê disso, qual é a causa dessa inconstância. Isso é uma grande interferência, não apenas em nossas relações interpessoais, mas também em nosso trabalho e cotidiano. A abordagem geral do budismo é sempre identificar o problema e tentar achar as suas causas, e então trabalhar para eliminar essas causas.
Trata-se de um processo muito lógico. Conforme mencionei, a forma como mantemos a presença mental, que é o que cola nossa mente no objeto, é relembrando do objeto quando divagamos e nos esquecemos dele “Volte, volte, volte.” Ouça o que a outra pessoa está dizendo, ela é um ser humano. Ela não quer ser ignorada, assim como você também não quer ser ignorado.
Aumentar Nosso Interesse Pelos Outros
Quando estamos tentando explicar alguma coisa a alguém e, depois de dizermos algumas frases, ela diz: “Hein? O que? O que foi mesmo que você disse?” Nos sentimos péssimos. Bom, as outras pessoas também têm sentimentos e sentem-se mal quando não escutamos o que estão dizendo por não acharmos interessante. Para ajudar a trazer nossa atenção de volta e permanecermos focados, podemos nos lembrar: “Você possui sentimentos, assim como eu”. Esse é o ponto do treinamento de sensibilidade.
O que temos de aumentar, nesse caso, é o nosso interesse. Temos que nos interessar pelo o que o outro está dizendo, mesmo quando consideramos o assunto chato e bobo. Quando uma pessoa fala conosco, sua intenção não é: “Olha, eu vou te contar algo realmente chato só para te encher o saco.” Não é assim que ela pensa a respeito do que nos conta, não é mesmo?
O Problema da Projeção
Um outro problema que acontece quando tentamos acalmar a mente é que muitas vezes projetamos coisas nas outras pessoas. Uma das projeções mais problemáticas é quando projetamos em uma pessoa as nossas expectativas de que ela agirá como uma outra pessoa age. Isso pode ser observado principalmente em relacionamentos pessoais. Quando você termina o relacionamento com um namorado ou namorada e começa a sair com outra pessoa, você projeta que essa pessoa lhe tratará da mesma forma que seu “ex”. Ou seja, que ela lhe largará ou abandonará ou algo do gênero. Ou então, você imagina que ela terá as mesmas características e os mesmos gostos que o “ex”. Assim, você não se relaciona com a pessoa, mas com a projeção de uma outra pessoa nela.
Isto é muito, muito comum, especialmente com pessoas que sofreram abuso ou foram maltratadas por outros e então projetam suas expectativas em outras pessoas que não tem nada a ver com o que ocorreu.
Esta é uma subcategoria do acalmar-se: “Eu não contarei histórias do seu passado e nem trarei histórias antigas e irrelevantes para o momento presente. Tampouco projetarei em você as histórias de outras pessoas. Vou me relacionar com você da forma que você é agora.” E eu não direi: “Há trinta anos você disse isso e aquilo para mim.” Como se você ainda estivesse naquela época; você não está. Ou então: “Há trinta anos alguém me abandonou e agora você me abandonará.” Isso não é estar no momento presente.
Como Olhar para o Outro
Para a próxima fase do acalmar-se, vamos sentar em um círculo e tentar olhar cada um com uma mente calma. Isso é muito mais desafiador do que olhar para fotografias.
Antes de tudo, temos que tomar cuidado para não olhar uns para os outros como se estivéssemos no jardim zoológico olhando animais. Você não está no zoológico! Também temos que tomar cuidado com o nervosismo, que se manifestará em risadas. Quando nos sentimos desconfortáveis, uma forma de compensar é dando uma risada nervosa, que é um mecanismo psicológico padrão. Isso sempre ocorre em alguns grupos, especialmente quando as pessoas estão fazendo o treinamento pela primeira vez. Então, tentemos não ser como uma matilha de cães, onde um cachorro começa a latir e todos os outros também latem. Ou seja, tente não acompanhar o riso alheio, pois ele pode ser contagioso.
Algumas pessoas se sentirão desconfortáveis e olharão para cima ou manterão os olhos fechados. Se você sentir-se desconfortável ao olhar para os outros, não olhe. Também não fique olhando fixo para uma pessoa, pois isso também lhe deixará desconfortável. À medida que olha para as pessoas do círculo, apenas mantenha a mente quieta.
Outro ponto: ao fazer isso em um grupo, não é recomendável realmente olhar nos olhos de cada pessoa, especialmente quando duas pessoas no grupo se conhecerem. Quando estiver percorrendo o círculo com os olhos e encontrar os olhos de outra pessoa, não fique preso nessa troca de olhares, continue. Pode também ser, e perdoem-me por esta palavra, muito sedutor perder-se no olhar de uma pessoa que está olhando para você. Lembre-se, isso não é um exercício de concentração unifocada em alguém, é um exercício de ser capaz de simplesmente estar em um grupo e olhar as pessoas sem fazer comentários mentais sobre elas. O objetivo é apenas manter a mente aberta a todos.
Quandovocê faz esse exercício com uma única pessoa, como quando está falando com alguém, como você olha para ela? Essa é uma questão muito interessante. Quando você está perto de alguém, falando com a pessoa, se você olhar nos olhos dela e ela olhar nos seus, você pode se perder nesse olhar. Você pode meio que viajar e a conversa acabar. Por outro lado, se estiver falando com alguém e olhando para o outro lado, ao invés de olhar para a pessoa, ela se sentirá muito desconfortável: “Ei, eu estou aqui, não estou ali.” Conseguir um equilíbrio no qual você olha para a pessoa sem encará-la e nem ficar preso em seu olhar, realmente não é tão fácil. Depende do tipo de relacionamento que você têm com a pessoa. Se sentir muito desejo por ela, tenderá a se perder e pensar: “Ah, estou tão apaixonado.” Esse tipo de fenômeno.
Pode ser que você sinta raiva e olhe para o outro com uma expressão horrível de: “Estou com muita raiva de você.” No entanto, se tiver uma atitude solidária e mantiver-se relaxado e aberto, será capaz de olhar sem encarar. Você conseguirá olhar o outro nos olhos enquanto fala e, por estar relaxado e importar-se com ele, não ficará preocupado. Você não ficará supersensível, preocupado em ser rejeitado, em ele não gostar de você. Você não ficará pensando apenas em “eu, eu, eu” e “o que ele pensará de mim?” Como você está relaxado, não se perderá nos olhos da outra pessoa.
O difícil é quando as duas pessoas não estão no mesmo nível de desenvolvimento. Digamos que você esteja relaxado, mas que a outra pessoa não esteja olhando para você, que esteja olhando para a parede enquanto fala. Tive um professor assim em meus estudos de pós-graduação, ele era meu orientador. Sempre que eu falava, ele não olhava para mim. Ele era japonês, então talvez fosse uma questão cultural, mas ainda assim eu me sentia muito desconfortável.
O outro extremo é falar com alguém que é muito intenso e está perto demais. Temos esse instinto animal de achar que a pessoa vai meter um dedo no nosso olho ou algo assim. Ela é intensa demais e isso nos deixa desconfortáveis. Em um caso desses, o negócio é tentar ficar relaxado e não perder o equilíbrio. Isso é difícil. Então é preciso entender: “Bem, você é um ser humano e tem seus próprios problemas.” Algo assim. Isso aparece em um dos outros exercícios: “calor humano com compreensão.”
Soltar Gradualmente
No início, quando olhamos para as pessoas, os pensamentos, julgamentos e histórias surgem com muita facilidade. No entanto, à medida que continuamos com a prática, nos lembramos de soltar esses pensamentos, julgamentos e histórias, e gradualmente conseguimos soltar as histórias e pensamentos a respeito da pessoa que estamos olhando. Uma vez que desenvolvermos mais familiaridade com a prática, veremos que isso acontecer também no cotidiano. Você vê alguém e surge o pensamento: “Nossa, que bonita”, ou “Que vestido horrível que ela está usando. Normalmente é um comentário julgador, mas o ponto é soltá-lo. É interessante notar como determinadas pessoas disparam mais pensamento julgadores na gente, é muito interessante.
Recentemente, eu fiz uma dieta muito rígida e perdi mais ou menos 14 quilos. Percebo os meus próprios comentários quando vejo pessoas gordas na rua, elas são quem mais me estimula comentários. “Nossa, que gordo...” Por que? Porque eu estava lutando contra isso em mim mesmo. Eu queria me livrar do meu sobrepeso. Então, projetava isso nas outras pessoas. O que mais lhe perturba em si mesmo o perturbará quando você vir isso refletido em outras pessoas.
Olhando os Outros e Tirando Conclusões
Há pessoas que, quando veem outras, tentam identificar em seu banco de dados interno do que a outra pessoa gosta. Isso não é julgar, e a motivação para fazerem isso pode ser boa. Mas, ainda assim, essa tendência faz com que vejamos os outros como objetos, ao invés de seres humanos com sentimentos.
Podemos usar a análise com base em nosso banco de dados interno para ter uma ideia de como abordar a outra pessoa. E para conseguirmos analisar corretamente, que é uma das funções que treinaremos nos exercícios, temos os cinco tipos de consciência profunda (sabedorias). É com elas que recebemos as informações, vemos os padrões, etc, necessário à nossa interação com outros. Um pré-requisito para que essas consciências se manifestem é que não projetemos nada antes de ter dados suficientes para sermos capazes de fazer uma análise correta. E não nos apressemos em tirar conclusões prematuras.
Por exemplo: “Eu vejo uma pessoa, ela é gorda. Ela não se cuida.” Eu me apresso em tirar conclusões sem conhecê-la. Estou pensando aqui na analogia do namoro virtual ou na interação via facebook, que lhe leva a basear sua análise apenas no perfil do facebook, não na pessoa real. Novamente, trata-se de tirar uma conclusão apressada baseada em uma impressão superficial ou em alguma caracterização, que é apenas uma caracterização, não é a pessoa. É apenas aquilo que ela escreveu de acordo com o formulário que preencheu.
O principal objetivo de aquietar a mente é estar aberto para a outra pessoa como ela é. Já ouvi falar de terapeutas que usam numerologia ou astrologia para ter alguma ideia de como devem começar a se comunicar com uma pessoa que não consegue se comunicar. Podemos não estar neste tipo de situação, mas apenas entrar no perfil da pessoa no facebook é bastante superficial. Normalmente, o perfil de uma pessoa no facebook é baseado no tipo de imagem que ela gostaria de projetar, mas que não é necessariamente verdadeira.
A Mente Calma com uma Atitude Solidária
Agora vamos adicionar a “atitude solidária” ao exercício de “mente quieta”. Olhamos para cada uma das pessoa com uma atitude solidária, mas não olhamos para uma pessoa que já esteja olhando para nós, pois isso pode parecer meio estranho. Isso nós fazemos na próxima fase, quando praticamos um a um.
Fazemos isso olhando para cada pessoa do grupo com uma mente quieta. Depois, geramos, passo a passo, uma atitude solidária, tipo “você é um ser humano e tem sentimentos assim como eu”, e olhamos desta maneira para cada pessoa do círculo: “você é um ser humano e tem sentimentos como eu. E você também é um ser humano e você também é um ser humano e você é um ser humano e você é um ser humano.” Percorremos todo o círculo, pessoa a pessoa, praticando cada um dos pontos principais e finalizando com a atitude solidária.
Primeiro nós simplesmente nos aquietamos, olhando para baixo e focando na respiração. Essa é a porta de entrada, e também a porta de saída, de cada exercício, deixar a experiência emocional se assentar. É uma forma muito mais gentil de praticar esses exercícios.
A seguir, olhamos para cima e depois para cada pessoa, com uma mente quieta.
- Eu não contarei histórias a seu respeito em minha mente, não comentarei e não julgarei.
- Você é um ser humano e tem sentimentos, assim como eu.
- Você é um ser humano e tem sentimentos, sentimentos reais, assim como eu.
- Sem histórias nem comentários.
- O seu humor afetará a nossa interação, da mesma forma que o meu.
- A forma como lhe trato e o que digo afetará seus sentimentos.
- Portanto, da mesma forma que espero que você se importe comigo e meus sentimentos em nossa interação, eu me importo com você. Eu me importo com seus sentimentos.
- Não inventarei nem contarei quaisquer histórias sobre você.
- Ser humano com sentimentos.
- Eu me importo com você. Eu me importo com seus sentimentos.
Estas são frases-chave que podemos repetir em nossa mente: “Não inventarei nem contarei quaisquer histórias sobre você. Ser humano com sentimentos. Eu me importo com você. Eu me importo”.
Ok, deixemos que a experiência assente em nós.
As Vantagens de Trabalhar com Pessoas Diferentes
Para alguns, é difícil focar dessa maneira em muitas pessoas, pode ser mais fácil treinar em grupos menores. Porém, pode ser muito útil ter uma atitude solidária quando você tem que falar para muitas pessoas. Algumas pessoas ficam muito nervosas e constrangidas quando precisam falar em público. Se você perceber que todos na plateia são apenas seres humanos, como você, então não haverá nada a temer.
Quando estou em um ônibus ou um metrô, acho que ajuda muito perceber que todos são seres humanos e têm sentimentos. No entanto, para praticar em grupo, às vezes, é mais fácil se o grupo for menor, e um grupo que tem pessoas diferentes apresenta a vantagem de que você pode conhecer algumas pessoas e outras não, e isso também ajuda. Quando fazemos os exercícios com as fotos, fazemos uma série deles. Primeiro usamos fotos de pessoas que não conhecemos. A seguir, fotos de alguém que conhecemos, com quem temos uma boa relação, e depois, de alguém que seja apenas um conhecido, ou seja, conhecemos a pessoa, mas não muito bem. E finalmente, uma foto de alguém de quem não gostamos. E podemos também colocar as três fotos diante de nós e tentar ter uma atitude igualmente calma e igualmente solidária com as três pessoas. Isso é muito mais desafiador, mas vale muito a pena trabalhar com isso.
Praticando a Atitude Solidária Consigo Usando um Espelho
Para desenvolvermos uma mente quieta e uma atitude solidária conosco, podemos usar um espelho. O espelho tem que ser grande o suficiente para vermos todo o nosso rosto, e não apenas o nariz! Aqui, temos uma parede toda de espelho, então podemos nos sentar em frente ao espelho e direcionar essa atitude a nós mesmos como parte do grupo. Primeiro, nos acalmamos, utilizando o foco na respiração. A seguir, olhamos para nós e para o grupo com uma mente quieta e uma atitude solidária.
- Eu não farei qualquer comentário a meu respeito ou inventarei histórias, apenas ficarei quieto.
- Eu sou um ser humano e tenho sentimentos como todos os demais
- A formo como eu me vejo e me trato afeta meus sentimentos.
- A maneira como eu me vejo e me trato afeta meus sentimentos, da mesma forma que a maneira como os outros me veem e me tratam afeta o que eu sinto.
- Portanto, da mesma forma que espero que os outros se importem comigo e meus sentimentos em nossas interações, eu também me importo comigo mesmo.
- Eu me importo com meus sentimentos.
- Eu me importo com meus sentimentos em relação a mim mesmo.
- Eu me importo com a forma como me trato.
- Eu não inventarei nem contarei quaisquer histórias sobre mim mesmo.
- Eu me importo comigo mesmo.
- Sou um ser humano como todos esses outros seres humanos no espelho
- Não sou diferente, sou apenas outro ser humano, mais um pinguim em um bando na Antártica.
- Apenas mais uma pessoa.
- Assim como me importo com você, também me importo comigo.
- Assim como você tem sentimentos, eu tenho sentimento.
- Me importo com você, me importo comigo
- Equilíbrio entre eu e os outros.
Depois, olhamos para baixo e deixamos a experiência assentar.
O Próximo Passo: Interações Positivas com Outros
Obviamente, não é suficiente apenas fazer esses exercícios de gerar uma mente quieta e um coração solidário, esses são apenas os pilares onde o treinamento se apoia. É sobre essa base que conseguimos nos desenvolvemos mais no que diz respeito a como nos relacionamos com os outros. O próximo passo é interagirmos com os outros de forma equilibrada e sensível. O objetivo não é só ser capaz de olhar para as outras pessoas sem julgar e com solidariedade. Isso é só o começo.
Nossa interação com os outros pode ocorrer em muitos níveis. Considere, por exemplo, estar em um ônibus ou metrô lotado. Como se sentiria em meio a tantas pessoas? Você pode pensar só em termos do “eu, eu, eu; todas essas pessoas feias, suadas e cheirando mal ao meu redor”, e sentir-se desconfortável. Se tivermos essa atitude, será uma viagem muito desagradável. Ou podemos pensar: “vou fingir que essas pessoas não existem e ouvir uma música no meu iPod. E se conseguir pelo menos mover minhas mãos, posso jogar um joguinho no meu celular”.
De certa forma, aos fazermos isso, estamos erguendo muros ao nosso redor para nos sentirmos seguros, mas isso, na verdade, é um sentimento de muita insegurança. Estamos nos protegendo da insegurança. Ao invés disso, podemos desenvolver uma atitude de consideração com todas as pessoas no ônibus ou metrô, são todos seres humanos, todos possuem sentimentos, todos estão apertados no meio da multidão. Então nos sentiremos interconectados, por causa dessa experiência compartilhada e, apesar de não ser agradável estar no meio de uma multidão, nosso sentimento de conexão proporcionará uma sensação de coração aquecido. Nos sentiremos tranquilos e confortáveis, sentiremos que estamos todos juntos nisso, ao invés de ficarmos apenas preocupados com “eu, eu, eu, pobre de mim”. Isso muda completamente a experiência de estar em um ônibus lotado.
Se estivermos relaxados e tranquilos, talvez até tenhamos um sorriso no rosto. Não um sorriso idiota, que faz as pessoas acharem que somos loucos. Mas um sorriso relaxado e tranquilo, que faz as pessoas à nossa volta sentirem-se um pouco mais tranquilas. Tipo, “não é tão ruim assim”.
Resumo
Treinar para ter uma sensibilidade equilibrada conosco e com os outros nos ajuda muito no dia a dia. Podemos evitar muitos problemas se percebermos que todos são seres humanos com sentimentos, exatamente como nós. Quando não somos sensíveis demais, e nem de menos, aos sentimentos alheios, temos mais consideração ao tratar e falar com outras pessoas. O mesmo se aplica em relação aos nossos sentimentos e como nosso comportamento afeta os outros. Desenvolver uma mente quieta e não julgadora e uma atitude solidária com todos os seres, inclusive conosco, é a base para obtermos o equilíbrio emocional que nos permitirá ter uma vida mais plena e significativa e ajudar melhor os outros.