Quatro Pensamentos Preparatórios para o Tonglen: Dar e Tomar

Histórico do Texto: Treinamento da Mente em Sete Pontos

Vamos começar o seminário com um texto muito importante e essencial, que está presente em todas as tradições tibetanas que vieram da Índia, chamado Treinamento da Mente em Sete Pontos. Recebi ensinamentos sobre ele principalmente de dois dos meus principais professores: Serkong Rinpoche e Geshe Ngawang Dhargyey. Seguirei principalmente a maneira de explicar de Serkong Rinpoche, pois ele era um especialista nesse tipo de prática, principalmente em tonglen (gtong-len ), “tomar e dar”. Ele foi um dos professores de Sua Santidade o Dalai Lama.

A literatura de onde isso vem costuma ser chamada de “lojong” em tibetano, o que geralmente é traduzido como “treinamento da mente”, mas essa é uma tradução um tanto enganosa, conforme apontou Serkong Rinpoche. Quando eu explicar a conotação, o motivo ficará mais claro. “Treinar a mente” soa como se estivéssemos treinando o intelecto, mas não é disso que se trata. A palavra “lo” (blo), que as pessoas costumam traduzir como “mente”, na verdade significa “atitudes”. E a palavra “jon” ( sbyong ) tem dois significados. Uma é limpar, purificar; estamos purificando nossas atitudes negativas. Ele também tem a conotação de – uma vez feito isso – treinar, aprender e desenvolver atitudes mais positivas. É por isso que chamo de “purificar atitudes”.

Se perguntarmos de onde vêm esses ensinamentos, principalmente os ensinamentos sobre como mudar nossa atitude em relação a nós mesmos e aos outros, que é realmente aquilo de que esses ensinamentos tratam, eles vêm de dois sutras do Buda. Um dele é chamado de Gandavyuha Sutra, Um Sutra Espalhado Como o Tronco de um Árvore – o tronco de uma árvore que espalha seus galhos por toda parte. Esse sutra nos dá uma tremenda quantidade de ensinamentos sobre bodhichitta e as atividades de um bodhisattva. O outro é o Sutra Vajradvaja-paripriccha, Um Sutra Solicitado por Vajradvaja. O Buda ia à casa de muitas pessoas – ele era frequentemente convidado para o almoço, junto com seus monges. Os diferentes patronos que o convidavam solicitavam ensinamentos, e é daí que vêm muitos dos sutras. Esse segundo sutra foi solicitado por alguém chamado Vajradvaja, e também é sobre bodhichitta.

Os dois grandes mestres indianos que difundiram os ensinamentos Mahayana, que realmente os tornaram acessíveis a todos, foram Asanga e Nagarjuna. Eles também tinham as linhagens e os ensinamentos desses sutras. Portanto, esses dois sutras vieram através deles. Em algum momento, depois de alguns séculos, esses ensinamentos chegaram ao grande mestre indiano Shantideva, que escreveu Engajando-se no Comportamento do Bodhisattva (O Caminho do Bodisatva), que fala ainda mais sobre esses ensinamentos. Esses grandes ensinamentos Mahayana, essas linhagens, também se espalharam fora da Índia e foram para a Indonésia – para a ilha de Sumatra, chamada de Ilha Dourada, “Serlingpa” em tibetano.

Alguns séculos depois, na época de Atisha, a Índia passou por momentos difíceis, e muitos dos ensinamentos Mahayana mais específicos não eram mais encontrados lá. Mas, Atisha soube que as linhagens e os ensinamentos poderiam ser encontrados com um grande mestre em Sumatra, e empreendeu uma longa e difícil jornada por mar, da Índia para Sumatra. Lá, depois de muitas dificuldades e não indo direto ter com esse mestre, mas avaliando-o e perguntando sobre ele a outros discípulos, ele estudou com o grande mestre Dharmakirti ou Dharmapala, frequentemente chamado de “Serlingpa”.

Serlingpa detinha as linhagens de Nagarjuna, Asanga e Shantideva, e Atisha as levou de volta para a Índia, o que nos ensina uma grande lição: os ensinamentos autênticos são realmente a coisa mais absolutamente preciosa do mundo. Se eles não estiverem disponíveis em nosso país ou para a nossa situação, não devemos simplesmente sentar e dizer: “Bem, eu aceito o que estiver disponível” – o segundo ou o terceiro melhor – devemos buscar quem tem os ensinamentos autênticos e quem tem as realizações autênticas. Não importa se será difícil, não importa quanto tempo e esforço será necessário para juntar dinheiro e obter recursos e tudo o que for necessário para obter os ensinamentos autênticos. Se realmente levarmos a sério nossa prática, iremos até as fontes autênticas.

E Atisha não guardou esses ensinamentos apenas para si, ele também os ensinou. Atisha foi convidado para ir ao Tibete, o que naquela época significava fazer uma difícil jornada. Os monges de seu mosteiro na Índia não ficaram muito satisfeitos com sua partida, mas ele novamente empreendeu uma jornada incrivelmente difícil. Lá, no Tibete, Atisha deu esses ensinamentos – especialmente os sobre bodhichitta – principalmente a um de seus principais discípulos, Dromtonpa, e este os deu a outro de seus discípulos, Geshe Potowa.

Esta é a tradição Kadam, e quando ouvimos sobre esses Geshes Kadampa, “Geshe” não significava o que veio a significar mais tarde na tradição Gelug, alguém que passou pelo treinamento monástico completo. Não significava isso, significava o que às vezes é traduzido como “amigo espiritual” – um amigo ou parente, um irmão, alguém que é muito próximo, muito afetuoso, que nos inspira e nos leva, através do seu exemplo, a sermos construtivos e a agirmos de forma construtiva.

Sempre se dá uma grande ênfase, claro, a esses ensinamentos sobre a vacuidade e outros tópicos também, mas é dada uma super ênfase à bodhichitta. O que temos que lembrar é que, historicamente, naquela época no Tibete, as coisas eram muito caóticas e difíceis, e os ensinamentos sobre esse treinamento ou mudança de atitude eram realmente o que as pessoas precisavam.

Geshe Potowa tinha dois principais discípulos, chamados de discípulo como o sol e discípulo como a lua. Um era Langri Tangpa e o outro era Geshe Chekawa. Langri Tangpa sempre foi muito sério. As histórias sobre ele são muito interessantes – mas não vou entrar em detalhes porque não temos muito tempo –, ele era aquele (talvez você já tenha ouvido nas histórias) que só riu três vezes. Ele não era sério no sentido de ser sisudo, mas na maior parte do tempo estava pensando nos outros, cheio de tristeza pelo sofrimento deles e compaixão para poder ajudá-los. “Não tive tempo para brincadeiras.”, escreveu no Treinamento da Mente em Oito Versos, um texto muito famoso desse gênero.

Seu discípulo Geshe Chekawa encontrou uma cópia do Treinamento da Mente em Oito Versos na casa de algum outro grande Geshe e foi especialmente atraído por uma frase nele: “Dê a vitória aos outros e tome para si a derrota”. Isso o atingiu profundamente; tanto que o resto de sua vida foi influenciado por esta frase. Geshe Chekawa perguntou: “Quem escreveu isso?” E o outro Geshe respondeu: “Foi Geshe Langri Tangpa”. Então, ele empreendeu uma longa viagem a Lhasa para tentar encontrar Geshe Langri Tangpa e obter ensinamentos sobre isso. Mas quando chegou a Lhasa, descobriu que Geshe Langri Tangpa já havia falecido.

Novamente, esse é um bom exemplo. Ele não pensou simplesmente: “Que interessante. Eu gostaria de estudar isso”, e não fez nada. Ele tentou encontrar esses ensinamentos. Ele fez uma grande e longa jornada, mas quando chegou ao seu destino, o professor não estava mais vivo. Então ele perguntou: “De quem posso obter esses ensinamentos?” Disseram-lhe que Geshe Sharawa, outro Geshe Kadampa, seria uma possível fonte. Então, Geshe Chekawa buscou e encontrou Geshe Sharawa, mas este não queria ensiná-lo a princípio – uma longa história que não temos tempo agora para contar – mas, eventualmente, Geshe Sharawa disse a Geshe Chekawa de onde vinham os ensinamentos, a linhagem. Geshe Chekawa não queria pensar: “Talvez alguém tenha inventado. Mas isso não importa, o que importa é que soa bem”, ele queria saber se (o ensinamento) era autêntico. Então Geshe Sharawa mostrou um texto de Nagarjuna, Guirlanda Preciosa. Foi dele que veio esse ensinamento de “Dar a vitória aos outros e tomar para si a derrota”.

Geshe Chekawa estava convencido de que este era um ensinamento autêntico, que remontava à Índia e ao Buda. Novamente, isso nos ensina uma lição muito importante: pode haver ensinamentos que soam muito atraentes e alguém pode anunciá-los como ensinamentos do Buda, mas a menos que tenhamos certeza de que são autênticos - ensinamentos reais do Buda e encontrados nos grandes textos – precisamos ter cuidado. Não siga algo apenas porque é atraente.

Isso nos mostra a preciosidade dos ensinamentos de bodhichitta e como mudar nossas atitudes em relação a nós mesmos e aos outros, e purificá-las. E também nos mostra como esses grandes mestres os consideravam tão incrivelmente preciosos que passaram por muitas dificuldades para obtê-los. Hoje em dia, as coisas estão muito facilmente disponíveis. E às vezes, tendemos a banalizar os ensinamentos, e não levá-los a sério, não respeitá-los e, portanto, não aplicá-los. É por esta razão que os textos são muitas vezes escritos em um estilo enigmático, com apenas algumas palavras, e são muito difíceis de entender apenas lendo. Eles são cheios de palavras como “isso” e “aquilo”, e a maioria de nós não tem ideia a que eles se referem.

Eu treinei e trabalhei por nove anos como tradutor para meu principal professor, Serkong Rinpoche. Ele percebeu minha atitude um tanto arrogante, viu que eu era um pouco crítico em relação ao estilo desses textos, que os autores não os escreviam com clareza, e eles escreviam muito “isso” e “aquilo”. Então ele me disse: “Não seja tão arrogante a ponto pensar que esses grandes mestres, como Nagarjuna, não conseguiam escrever com clareza, que eram idiotas, escritores ruins e assim por diante. Isso é muito arrogante. Se eles quisessem escrever de forma clara, teriam escrito. Obviamente, escreveram assim de propósito.”

Serkong Rinpoche explicou que os grandes mestres escreviam assim para que, se quiséssemos entender e praticar o que estava no texto, tivéssemos que trabalhar e nos esforçar muito para obter a explicação. E mais, isso eliminou discípulos que não eram muito sérios, e mesmo quando explicamos, disse ele, na primeira vez que explicamos, não explicamos de uma forma muito clara. Pois, novamente, muitas pessoas vão embora e dizem: “Pra mim chega!” No entanto, os que são realmente sérios vão pedir mais, ir mais fundo, trabalhar e se esforçar.

Claro, não sou um bom discípulo; eu não faço isso. Gosto de tentar deixar as coisas mais claras para as pessoas, pelo menos para facilitar um pouco a compreensão. No entanto, isto é necessário – se esforçar para obter os ensinamentos e entendê-los com clareza; caso contrário, não desenvolvemos nosso caráter. Estudar o Dharma não é apenas obter informações.

Realmente vivemos na era da degenerescência. Em muitos lugares, os centros de Dharma precisam receber dinheiro de muitas pessoas; caso contrário, não conseguem pagar o aluguel e as despesas. Por isso, não querem assustar as pessoas. Isso realmente é um sinal de uma era de degenerescência, não é?

De qualquer forma, Geshe Chekawa passou seis anos, de acordo com um relato, estudando com Geshe Sharawa e praticando e meditando para tentar realmente internalizar e realizar esses ensinamentos avançados e muito difíceis sobre a purificação de nossas atitudes. Agora, Geshe Chekawa não era um iniciante ou um idiota quando foi para lá, e levou seis anos – outro relato diz quatorze anos – trabalhando na bodhichitta. Só depois escreveu este texto que vamos estudar e o ensinou a seus discípulos, principalmente a um mestre Lhadingpa, que o ensinou a Togme Zangpo. Togme Zangpo é o autor de Trinta e Sete Práticas do Bodhisattva, que é um texto amplamente ensinado no Ocidente. Ele também escreveu um comentário maravilhoso sobre Engajando-se no Comportamento do Bodhisattva (O Caminho do Bodisatva), de Shantideva.

A partir deste mestre Lhadingpa, outras linhagens também se desenvolveram, e eventualmente, esse texto, Treinamento da Mente em Sete Pontos, foi para todas as escolas do budismo tibetano, até chegar em Tsongkhapa, então na tradição Gelug, e seu conteúdo foi incorporado em muitos textos diferentes. O que é um tanto confuso é que em todos esses diferentes textos do lam-rim e também no Lama Chopa (O Guru Puja) e assim por diante, há versões ligeiramente diferentes desse texto – desses sete pontos. Pabongka Rinpoche, que foi um mestre da primeira metade do Século XX, ao olhar para todas as versões, criou o que considerou um texto padrão, mas tomado como padrão apenas pela tradição Gelugpa, claro. Estou mencionando isso porque de todas essas várias versões – e há muitos textos, pelo menos traduzidos para o inglês – muitas são desta edição de Pabongka, mas há muitas outras além dessa. Então, não se confunda. A maioria das versões não adiciona nada que pareça ser inapropriado. O que muitas vezes acontece é que quando alguém faz um comentário oral, as pessoas ficam um pouco confusas sobre o que estava realmente no texto e o que o lama estava explicando a partir de uma tradição oral. Coisas são adicionadas ou têm sua ordem alterada e assim por diante.

A versão que seguirei é a que Serkong Rinpoche sempre ensinou, que é uma das versões mais antigas desse texto, o texto de Togme Zangpo. É um texto muito, muito antigo – as datas de Togme Zangpo não são muito claras – mas algo como o Século XIII. Menciono isso porque sei que vocês têm a tradução espanhola do texto, uma tradução espanhola da versão Pabongka. Essa não é a versão que vou ensinar, então vocês verão pequenas diferenças. Tenho certeza de que Serkong Rinpoche tinha uma razão muito forte para sempre ensinar esta versão, mas eu nunca perguntei qual era. Naquela época, eu não sabia da existência de outras versões. No entanto, se Serkong Rinpoche era bom o suficiente para ser professor de Sua Santidade o Dalai Lama, isso é o suficiente, não há dúvida.

Estou contando toda essa história e dando todos esses detalhes mas, não apenas para contar estórias, é porque acho que essas coisas nos ajudam a trabalhar com esse material, pois ele é incrivelmente avançado e difícil. Definitivamente, não devemos banalizar esses ensinamentos ou nos desanimar com eles. Quando ouvimos os ensinamentos sobre a purificação de nossas atitudes, muitos podem pensar: “Fala sério, isso é impossível de fazer!” No entanto, existem certos aspectos desses ensinamentos que são mais acessíveis. Assim, tentamos colocar em prática o que estamos prontos para praticar, ao invés de fingir que fazemos práticas mais avançadas para as quais não estamos emocionalmente preparados. Precisamos realmente digerir os ensinamentos básicos, e não apenas tomar conhecimento deles. Precisamos realmente senti-los, em um nível emocional. Se realmente queremos treinar e purificar nossas atitudes, existem maneiras drásticas de fazer isso, mas se não estivermos emocionalmente preparados, se as adotarmos antes de estarmos emocionalmente maduros, elas podem nos prejudicar.  

Como eu disse, nem todos os pontos são tão fortes, mas muitos dos pontos deste ensinamento são. Quando recebemos os ensinamentos, o que eles podem fazer, talvez, seja nos inspirar. Este é o verdadeiro treinamento do bodhisattva. É realmente como nos tornamos um bodhisattva, como nos desenvolvemos no caminho do bodhisattva. Se isso é realmente o que queremos fazer, se realmente queremos alcançar a iluminação e beneficiar os demais seres, bem, é isso que podemos aspirar, tendo alguma idéia do que está por vir e não sendo ingênuos. Não devemos nos enganar pensando que o caminho para a iluminação é tão bom, e vamos fazer uma bela viagem à Disneylândia para nos iluminar, pensando que “Todas as terras búdicas são tão bonitas, e todos são tão amorosos e gentis”. Não sejamos infantis. É preciso muita coragem para seguir o caminho do bodhisattva; veremos um pouco disso aqui.

Desenvolvendo Grande Compaixão e Treinamento nas Preliminares

Agora, começa o texto:

Prostração à grande compaixão.

A grande compaixão não é apenas: “Que alguns seres sejam livres de sofrimento e das causas do sofrimento”, e certamente não é “Oh, coitado!” É um escopo maior. A palavra “grande” aqui é muito importante. Em primeiro lugar, não se limita apenas a alguns seres; é para todos os seres, incluindo os arhats que, embora liberados do samsara, ainda têm os obscurecimentos cognitivos que os impedem de ajudar os outros.

Muitas vezes, dizemos “todos os seres sencientes” sem que isso signifique nada para nós. É algo muito fácil de dizer, mas quantos de nós estão realmente pensando no sofrimento de cada inseto do universo, e realmente querem trabalhar para ajudar cada inseto, e não apenas a superar o sofrimento desta vida, mas a alcançar a libertação e a iluminação? Isso não é brincadeira. Quando eles dizem “todos”, é todos.

Esse tipo de compaixão, em que realmente sentimos isso por todos, igualmente, é um dos aspectos da grande compaixão. Outro aspecto é estarmos convencidos de que é realmente possível que todos os seres sencientes se livrem de seu sofrimento. Achar que isso não é possível e apenas desejar que fosse ou, pior, sentir pena, não ajuda.

Para termos essa convicção de que a liberação e a iluminação são possíveis realmente precisamos da compreensão da vacuidade e da natureza da mente: que a mente não é maculada pela confusão e pelas emoções perturbadoras. Além disso, é realmente possível se livrar de todas essas chamadas “máculas fugazes” para sempre, para que elas nunca mais voltem, e é possível que todos consigam isso, pois todos possuem os fatores da natureza búdica que tornam isso possível. E mais, não apenas nos sentamos em nossa caverna ou em nosso quarto com essa grande compaixão, também assumimos alguma responsabilidade de, de alguma forma, fazer algo para ajudar os outros e realmente fazer isso o máximo que conseguirmos.

Algumas versões (não a versão original), dizem que esse texto é como um diamante vajra, pois nos ajuda a superar todas as emoções perturbadoras; é como o sol, pois elimina a escuridão do autocentramento e o egoísmo de trabalhar apenas para si mesmo; também é como um potente remédio, uma árvore medicinal ou ervas medicinais que curam, novamente, nosso autocentramento. Portanto, grande parte dessa purificação de atitude é para nos livrar do autocentramento, e isso se dá com a troca de nossa atitude em relação a nós e aos outros.

E o texto continua:

Primeiro treino nas preliminares

Quando ouvimos “preliminares”, é importante não banalizá-las. Algo “preliminar” significa algo que fazemos antes de fazer outra coisa – “vai antes” é a tradução literal. “Preparação” talvez esteja mais próximo do que o termo realmente significa. Acho útil pensarmos nessas práticas com a imagem a seguir. Por exemplo, se estivéssemos em numa caravana – vamos falar como se fôssemos tibetanos – se fossemos partir em uma caravana para um lugar distante, se fosse uma viagem longa e difícil, teríamos que levar malas. Não poderíamos simplesmente subir em nossos iaques e ir embora. Não é como se fossemos fazer uma viagem e, bem, haverá farmácias em todos os lugares e uma loja em cada esquina, e poderemos comprar o que precisarmos. Não é assim. Essas preliminares são uma preparação que precisamos fazer antes de nossa jornada espiritual. Fazer essas práticas é como arrumar as malas com tudo o que vamos precisar na viagem, já que não podemos viajar sem elas.

Essas preliminares são absolutamente essenciais e são explicadas aqui como os quatro pensamentos que levam a mente ao Dharma. Veja bem, este texto veio antes da tradição Gelugpa com sua ênfase nos três níveis de motivação do lam-rim. Esses quatro pensamentos são as quatro práticas preparatórias comuns. Aqui, recebemos ensinamentos para percebermos que temos um renascimento humano precioso, pensarmos em como ele não vai durar, na impermanência e na morte e, portanto, dar uma direção segura à nossa vida, tomar refúgio; depois pensamos no carma, nas leis de causa e efeito, em mudar nosso comportamento e nas desvantagens do samsara.

O lam-rim Gelugpa organiza esses quatro pensamentos na estrutura dos três níveis de motivação. Os três primeiros pensamentos – uma vida humana preciosa, a impermanência e a morte, e o carma – se encaixam no escopo inicial de almejar um renascimento mais afortunado. As desvantagens do samsara são abordadas no nível intermediário, de almejar a liberação. Podemos perguntar: bem, onde está o nível avançado nesses quatro pensamentos? Eles estão nos preparando para isso; eles são as preliminares. Afinal, os quatro pensamentos são comuns não apenas ao sutra e ao tantra, mas também ao Hinayana e ao Mahayana.

Internalizar os insights desses quatro pontos em termos dos níveis inicial e intermediário de motivação, não é suficiente. Temos que voltar e trabalhar mais neles, mas enquanto tentamos seguir o caminho do bodhisattva, fazemos isso com um nível avançado de motivação, com compaixão e bodhichitta.

A Vida Humana Preciosa

A primeira preliminar é meditar sobre a vida humana preciosa que temos – esta vida humana preciosa em que podemos desenvolver e praticar com bodhichitta para ajudar os demais de acordo com nossa capacidade no momento. Com um renascimento humano precioso, certamente podemos ajudar os outros seres. Quanto poderíamos ajudar em uma vida em que fôssemos uma barata? Não muito. Mas com uma vida humana preciosa, onde temos a capacidade de aprender, estudar, meditar, sem muito sofrimento ou felicidade, podemos realmente trabalhar, não apenas em nós mesmos, mas especificamente para alcançar a iluminação e ser de melhor ajuda para todos os outros seres.

Esta vida humana preciosa não vai durar: é impermanente, está mudando o tempo todo, e nós vamos morrer. Queremos usar o tempo que temos para progredir o máximo possível, pois vamos adoecer, vamos envelhecer, vamos morrer; não há nenhuma dúvida de que isso vai acontecer. Queremos aprender os métodos, que são ensinados aqui, para transformar e usar essas situações difíceis em nossa prática, ajudar ainda mais os outros, avançar ainda mais no caminho do bodhisattva em direção à iluminação. Como ser humano, com uma vida humana preciosa, podemos transformar as situações difíceis e usá-las para avançar no caminho – o que não acontece com um cão doente. Se não levarmos a sério que essas coisas vão acontecer conosco, não levaremos a sério a nossa prática agora; porque é agora que temos capacidade, que não estamos doentes e senis ou morrendo, que conseguimos usar essas situações e purificar nossas mentes do medo, de sentir pena de nós mesmos e do autocentramento que costuma vir junto quando estamos doentes, velhos ou morrendo. 

Refúgio

Com a segunda preliminar, queremos muito tomar a direção segura do Buda, Dharma e Sangha, a direção de nos trabalhar. Os Budas e a arya Sangha, que realmente conseguiram uma cessação dos verdadeiros sofrimentos e suas verdadeiras causas, são as fontes que indicam essa direção segura. Confiando em suas habilidades para nos guiar, nos confiamos à sua orientação. Queremos ir na direção que eles indicam para alcançar a iluminação e beneficiar os outros. A cada momento de nossa vida, por mais difícil que seja, queremos sempre seguir nessa direção segura. É por isso que temos que transformar situações difíceis em situações que podem nos ajudar a ir mais longe no caminho e ajudar os outros. Isso que é a purificação de atitudes.

Precisamos estar muito seguros e/ou estáveis em nossa direção na vida. Caso contrário, se não estivermos muito estáveis em nossa direção segura, quando coisas difíceis acontecerem, poderemos recorrer a outra coisa como refúgio: surtamos; sentimos pena de nós mesmos; e nos refugiamos na comida, no chocolate, nos amigos, no que for.

Carma

A terceira preliminar é pensar no carma, em causa e efeito comportamental. É muito importante entender que quando coisas difíceis acontecem, isso é o amadurecimento das repercussões cármicas de ações destrutivas que fizemos no passado, e que realmente precisamos purificar e nos livrar dessas repercussões. Para isso, queremos que elas amadureçam agora e acabem. A quantidade de força positiva que acumulamos com nossas ações construtivas é muito limitada no momento. Não queremos que toda ela amadureça e se esgote, com tudo indo bem, porque o que acontece depois? Ficamos apenas com potenciais cármicos negativos.

Quando esses potenciais negativos estiverem amadurecendo, vamos querer transformá-los em circunstâncias propícias para a prática. Em vez de apenas acumular mais potenciais negativos, pensando: “Ah, que terrível! Pobre de mim”, podemos usar as situações difíceis que surgem deles para gerar um potencial mais positivo, e assim poder ajudar os outros.

O importante é poder ajudar os outros. Shantideva fala muito sobre isso no segundo capítulo de Engajando-se no Comportamento do Bodhisattva, que quando esses potenciais negativos amadurecem, o que costuma acontecer é ficarmos cheios de medo e terror. “Ah, pobre de mim! O que vai acontecer comigo?” Queremos evitar isso.

Quando temos uma direção segura e sólida em nossa vida – quando transformamos essa vida em algo positivo, pois percebemos que senão estaremos perdidos – se nossa motivação for de fazer isso para ajudar os outros durante o processo, nossa motivação será muito mais forte. Isso requer uma compreensão realmente boa do carma, que se baseia na compreensão da vacuidade. Sem isso, é inútil. O que acontece é que quando dizemos: “Bem, aconteça o que acontecer comigo, isso é o amadurecimento do meu carma”, se estivermos apegados a um “eu” sólido, pensando: “Eu mereço esse sofrimento” e “Eu sou uma pessoa má”, isso destruirá totalmente esse processo de purificação.

Quando passamos por essas práticas preparatórias pela primeira vez, e então avançamos para o Mahayana, desenvolvemos um nível inicial de bodhichitta e de compreensão da vacuidade. Depois, precisamos voltar e aplicar isso a cada etapa das práticas preliminares preparatórias, para que tenhamos uma base, uma base firme, para realmente entrar na prática do bodhisattva. Em outras palavras, sem alguma compreensão da vacuidade, realmente não conseguimos entender que é possível transformar nossas atitudes e tais circunstâncias.

Se pensarmos em termos de “meu sofrimento” e “seu sofrimento”, e que ele não tem nada a ver comigo, pois sou um “eu” sólido e você é um “você” sólido totalmente separado de mim, como poderemos lidar com o sofrimento de outras pessoas? Não conseguiremos tomar para nós o sofrimento dos outros, com o tonglen, se pensarmos que ele realmente pertence a eles e não a nós. É claro que o sofrimento de todos os seres se deve ao amadurecimento de seus próprios potenciais cármicos, mas também devemos reconhecer que esse sofrimento não pertence ao “eu” sólido de alguém que gerou esse potencial. Compreender isso é muito importante; caso contrário, será muito difícil sentir-se emocionalmente confortável com essas práticas e não ficar assustado ou se sentir fazendo algo artificial.

A Importância de Compreender Causa e Efeito Cármicos

Ao estudar o carma - a lei de causa e efeito - com o ideal de bodhichitta, e realmente o internalizando, ficamos ainda mais preocupados em como usar as situações difíceis que amadurecem dos potenciais cármicos para alcançar a iluminação e não sermos dominadas por elas. Isso ocorre porque, em nosso atual nível de desenvolvimento, estamos constantemente experimentando esse amadurecimento de nossos potenciais cármicos negativos; então temos que lidar com isso.

Também percebemos que todos os demais seres estão experimentando os sofrimentos que amadurecem de seus potenciais cármicos. Estamos todos na mesma situação. Quanto mais pessoas conhecemos, mais percebemos que todo mundo tem seu show de horrores samsáricos acontecendo. Alguns são shows mais dramáticos do que outros, mas todo mundo tem um show de horrores acontecendo. Em vez da atitude de “pobre de mim”, que vem do autocentramento, “não quero lidar com o seu show de horrores; meu show de horrores já é ruim o suficiente”, precisamos – ao compreender causa e efeito cármicos – aceitar nossa situação. “Ok, por qualquer motivo, esta é a minha situação cármica samsárica, e agora como posso tirar o melhor proveito disso, pois tenho uma vida humana preciosa e a capacidade de transformar essa situação. Não importa o tamanho do meu show de horrores, ainda tenho uma vida humana preciosa para alcançar a iluminação e beneficiar os outros.”

Mas não queremos simplesmente tirar proveito de nossa vida humana preciosa. Isto não é suficiente. Queremos tirar proveito do nosso show de horrores samsárico e usá-lo, como usaríamos uma vida humana preciosa, para alcançar a iluminação e beneficiar os outros seres. Mas como transformá-lo? Como usá-lo? Isso é o que aprendemos aqui com o treinamento na purificação de nossas atitudes.

Compreender causa e o efeito cármicos é muito importante como preparação. De onde vem esse show de horrores, e é possível realmente purificar nossas mentes disso? É possível que os outros também se purifiquem? Isso é muito importante. Quando os outros estão agindo horrivelmente conosco e horrivelmente com todos os demais, precisamos entender que não têm nenhum controle sobre isso. Eles agem compulsivamente assim, apenas por causa do amadurecimento de seus potenciais cármicos negativos. Não dizemos “Você é uma pessoa má,” ou algo assim; dado o horror samsárico que está acontecendo ao nosso redor, nos perguntamos: como podemos transformá-lo em um caminho que não ajude apenas a nós, mas a todos os seres?

As Desvantagens do Samsara

A quarta e última preliminar é pensar nas desvantagens do samsara. Precisamos também perceber que para ajudar a todos e alcançar a iluminação, não podemos pensar apenas em nossa própria situação samsárica difícil e que queremos sair de tudo isso. É muito fácil ser atraído pelas situações samsáricas de outras pessoas, mas quando fazemos isso, não estamos olhando de perto o suficiente. Temos inveja da pessoa rica ou da pessoa que tem um bom parceiro. No entanto, quando olhamos de perto, vemos o show de horrores que acontece com todo mundo de uma forma ou de outra.

Então, pensamos nas desvantagens de toda viagem samsárica, de todo mundo. Assim como queremos sair do nosso show de horrores samsárico, o mesmo acontece com todos os demais seres. Quanto mais trabalhamos com as desvantagens de nosso próprio samsara, e as levamos muito, muito a sério, mais conseguimos entender e apreciar os shows de horrores das outras pessoas. Isso age como causa para desenvolvermos compaixão sincera por elas.

Este é o primeiro dos sete pontos: treinar nas preliminares.

Dois Tipos de Bodhichitta

O segundo ponto do Treinamento da Mente de Sete Pontos é a maneira de se desenvolver os dois tipos de bodhichitta. Permitam-me fazer uma breve introdução e, depois, amanhã de manhã, trataremos deste ponto em mais detalhes.

Bodhichitta é uma mente e um coração – ambos estão incluídos em uma única palavra – que visam a iluminação. Não a iluminação em geral; mas que visam nossa própria iluminação individual, que ainda não aconteceu mas que pode acontecer, com base em todos os potenciais que temos agora. Nossa intenção – o que faremos assim que atingirmos a iluminação – é beneficiar a todos os seres o máximo possível.

Alcançar a iluminação significa alcançar os quatro Corpos Búdicos. Existem dois conjuntos de Corpos de Forma, ou Corpos Iluminadores: Sambhogakaya e Nirmanakaya, cada um com muitas aparências diferentes com as quais poderíamos surgir para beneficiar os outros. Há também dois conjuntos de Dharmakayas: um Dharmakaya de Consciência Profunda, que é a mente onisciente e toda-amorosa de um Buda, e um Dharmakaya da Natureza Essencial, um Svabhavakaya, ou seja, a vacuidade percebida por tal mente – especificamente, a vacuidade da própria mente onisciente – e as verdadeiras cessações nessa mente, alcançadas por tal percepção. De acordo com os livros didáticos Gelug Jetsunpa, a vacuidade da mente onisciente e as verdadeiras cessações nela são equivalentes. Os livros didáticos Gelug Panchen não afirmam tal equivalência, mas vamos deixar de lado essa discussão.

Existem dois aspectos do ideal iluminador de bodhichitta. Com o aspecto relativo, ou convencional da bodhichitta, visamos os aspectos da iluminação com os quais conseguimos ajudar a todos – ou seja, todas as aparências e formas que tomamos e nossa consciência onisciente da extensão de todos os fenômenos, especialmente de causa e efeito comportamental, permitindo-nos saber como beneficiar cada ser, individualmente, ao aparecer nessas formas. Com a bodhichitta mais profunda, visamos os aspectos da iluminação com os quais atendemos aos nossos próprios propósitos – ou seja, a vacuidade, conhecida de forma não conceitual por nossa consciência onisciente em relação a como todas as coisas existem, inclusive a vacuidade, e as verdadeiras cessações que são alcançadas com essa cognição não conceitual.

É claro que, com a iluminação, nossa mente onisciente conhece de forma não conceitual, e inseparavelmente, a extensão de tudo que existe e como todas as coisas existem. Além disso, não podemos separar a vacuidade conhecida por uma mente onisciente da própria mente que a conhece. Se vamos incluir ou não a obtenção de uma Dharmakaya de Consciência Profunda como o aspecto da iluminação que enfatizamos alcançar com a bodhichitta relativa ou com a bodhichitta mais profunda, ou com ambas, isso é algo a se discutir. Se explicarmos a bodhichitta relativa como voltada para a verdade relativa ou superficial de nossa iluminação e a bodhichitta mais profunda como voltada para a verdade mais profunda de nossa iluminação, essa discussão vai girar em torno de se consideramos a mente de consciência profunda da vacuidade uma verdade relativa ou uma verdade mais profunda. Deixemos esse debate de lado e tratemos a bodhichitta mais profunda como sendo a focada na vacuidade da mente onisciente, e focar em alcançar essa vacuidade com uma mente onisciente estará implícito.

Com qual trabalhamos primeiro: na bodhichitta mais profunda ou na bodhichitta relativa, convencional? Existem duas tradições no que diz respeito a qual trabalhamos primeiro. Neste texto, trabalhamos primeiro a bodhichitta mais profunda – a compreensão da vacuidade – e depois a bodhichitta convencional para alcançar a iluminação e ajudar a todos. Mas em outros textos, como o lam-rim, trabalhamos primeiro na bodhichitta relativa e depois na bodhichitta mais profunda e, obviamente, há razões para cada uma dessas duas maneiras.

Nagarjuna explicou que ter a bodhichitta mais profunda primeiro é para discípulos com uma orientação mais intelectual, que precisam estar convencidos de que a iluminação é possível antes de se dedicar a trabalhar para alcançá-la. Trabalhar na bodhichitta convencional primeiro é para discípulos mais inclinados ao emocional, que precisam primeiro desenvolver o desejo de alcançar a iluminação para ajudar melhor os outros, e depois se convencer de que é possível alcançá-la. O que vou explicar aqui é a ordem em que as duas são apresentadas no texto original, com a bodhichitta mais profunda primeiro.

Resumo

Resumindo, o importante é apreciarmos a preciosidade desses ensinamentos, que os grandes mestres que alcançaram a iluminação os levaram a sério, e que precisamos estar preparados para colocá-los em prática com sinceridade. Purificar nossas atitudes não é brincadeira.

Lembre-se de Geshe Langri Tangpa, que escreveu os oito versos; ele não brincava, não fazia brincadeiras ou entretinha seus discípulos contando piadas e rindo. Ele levava os ensinamentos totalmente a sério. Não que ele fosse soturno. Embora possamos gostar de entretenimento, piadas e risadas, e às vezes isso possa ser útil para relaxar e se acalmar, esse não é o propósito quando vamos aos ensinamentos – nos divertir. Serkong Rinpoche disse: “Se você quer entretenimento, vá ao circo”. Não é disso que tratam os ensinamentos do Dharma. Se você vir Sua Santidade o Dalai Lama, ele sorri, e quando as coisas lhe parecerem engraçadas, ele ri; ele não é todo sério e tenso. No entanto, quando ensina, ele é muito sério.

Dedicação

Vamos terminar com uma dedicação: pensamos que toda e qualquer compreensão que tenhamos conquistado, qualquer força positiva que tenhamos gerado, que ela se aprofunde cada vez mais e atue como causa para alcançarmos a iluminação, para o benefício de todos os seres.

Essa dedicação é muito importante, pois o que faz uma força positiva que geramos e não dedicamos? Ela a age apenas como uma força cármica positiva. Ela amadurece na forma de termos conversas divertidas sobre o Dharma em volta de uma mesa de café. Mas esse não é o ponto. Não queremos que amadureça de uma forma positiva samsárica, que todo mundo ache que somos inteligentes. É por isso que temos que dedicar com muita consciência a força positiva que geramos, para que ela aja como causa não apenas para a felicidade samsárica, o que acontece automaticamente, mas como causa para alcançarmos a iluminação, para o benefício de todos os seres. Que ela atue como causa para alcançarmos a iluminação e levarmos todos os demais seres à iluminação também.

Na verdade, é melhor colocar a dedicação em nossas próprias palavras, com nossos próprios sentimentos, e não apenas recitar uma fórmula, o que eventualmente se torna apenas palavras vazias.

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