Roda de Armas Afiadas: Destruindo o Auto-Apego

Versos Finais da Terceira Seção do Texto

Dharmarakshita nos mostrou o problema causado pelo auto-apego e pelo autocentramento, e os identificou como estando por trás dos vários problemas e sofrimentos que temos.  Dharmarakshita finaliza a terceira seção a partir do verso 91:        

(91) (Oh Yamantaka), (você que é) dotado de um Dharmakaya de Buda, destruidor do demônio que é a visão de um "verdadeiro eu" - oh, uau - (você,) que tem força, com sua clava de caveira - a arma afiada de suas ações sem “eu verdadeiro” – circule três vezes sua cabeça, decididamente.

clava de caveira representa a consciência discriminativa da vacuidade, ou vazio. Aqui, circule três vezes é para destruir o apego ao eu, a atitude autocentrada resultante e (também) o corpo samsárico com cinco agregados resultante, incluindo as emoções venenosas. 

Por causa de nossos hábitos arraigados de apego à existência verdadeiramente estabelecida, nossas mentes produzem uma aparência que se assemelha à uma existência autoestabelecida. Devido à nossa falta de consciência, não sabemos e não entendemos como essa aparência não corresponde à realidade. Então nos agarramos a ela como se realmente correspondesse. Essa crença faz com surjam emoções perturbadoras, que nos levam a agir de forma destrutiva, e o resultado é que nossas ações geram repercussões cármicas. Essas repercussões cármicas são ativadas com mais emoções perturbadoras e, quando amadurecem, produzem, dentre outras coisas, os cinco agregados - nosso corpo e mente - e aquilo que vivenciamos. 

Vivenciamos um corpo e uma mente limitados. Continuamos a ter as várias tendências, não apenas para o comportamento cármico compulsivo, mas também para as emoções perturbadoras, incluindo os três venenos, e continuamos com o hábito de nos agarrar a uma existência verdadeiramente estabelecida. Depois, repetimos compulsivamente ações semelhantes às que fizemos no passado. Primeiro, sentimos a vontade de fazer essas ações, e isso nos leva a mais comportamentos compulsivos e a compulsivamente entrar em situações em que coisas semelhantes ao que fizemos aos outros acontecem conosco, e continuamos a ter os cinco agregados. Isso é samsara, existência incontrolavelmente recorrente. 

Dharmarakshita continua, e completa esta seção com os próximos três versos:        

(92) Nós lhe imploramos, livra-nos deste inimigo, com sua grande força e ferocidade! Nós lhe imploramos, esmague este pensamento ruim, com sua grande consciência discriminadora! Nós lhe imploramos, proteja-nos do carma, com sua grande compaixão! Nós lhe imploramos, acabe com o “verdadeiro eu”, de uma vez por todas! 
(93) Todo o sofrimento dos seres samsáricos, junte-o, definitivamente, eu te imploro, a meu apego a um "verdadeiro eu!" Todas as cinco emoções perturbadoras venenosas que existirem nas pessoas, junte-as, definitivamente, eu te imploro, a este que é da mesma classe!

Em outras palavras, queremos praticar tonglen. Todos nós temos essas emoções venenosas e somos da mesma classe que todos os demais. Todos são iguais. O versículo suplica a Yamantaka: “Jogue isso sobre mim, tudo isso. Deixe-me cuidar disso e dissolver isso sozinho. Assim como um pavão, posso transformar esse veneno em algo que me ajudará no caminho para a iluminação.” 

Ele conclui esta seção com o seguinte:  

(94) Embora tenhamos identificado, através da lógica, e não restando nenhuma dúvida, a raiz de nossas faltas, sem deixar para trás nenhuma, se você conseguir expor (alguma parte de nós que) ainda está do lado delas, nós lhe imploramos, acabe com esse que está!

Ter a cognição não conceitual inicial da vacuidade não é suficiente; isso é apenas o começo. Temos que nos acostumar cada vez mais com isso por meio do chamado "caminho da meditação" ou "caminho do costume". Quanto mais conseguirmos focar não conceitualmente na vacuidade, mais isso quebrará o momentum dessa formação de aparência de uma existência verdadeiramente estabelecida. Gradualmente, nossas mentes vão primeiro parar de acreditar na existência verdadeiramente estabelecida e depois parar de fazer isso aparecer.   

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