A Necessidade de Entender a Vacuidade para o Tonglen

Elementos-Chave da Bodhicitta Mais Profunda

Já falamos sobre como desenvolver a bodhichitta mais profunda e vimos que é muito importante e útil praticar tonglen, dar e tomar. Agora, estamos prontos para conversar sobre o desenvolvimento da bodhichitta relativa, convencional, superficial. É nesse contexto que o tonglen é praticado, como parte do treinamento para se desenvolver a bodhichitta relativa.

Existem duas tradições principais para desenvolver e fortalecer o ideal de bodhichitta. Uma é a meditação de causa e efeito em sete partes; são seis passos ou causas que geram um sétimo, que é o resultado ou efeito, o desenvolvimento da bodhichitta. Depois de desenvolver a equanimidade que é livre de apego, repulsa ou indiferença em relação às pessoas, começamos a reconhecer todos os seres como tendo sido nossas mães, lembrando da bondade das mães e assim por diante. E o outro método é igualar e trocar nossas atitudes em relação a nós mesmos e aos outros.

Sua Santidade o Dalai Lama diz que há um certo perigo no primeiro método, e que o segundo é um pouco mais estável. O perigo com o primeiro método é que, se não obtivermos uma boa compreensão da vacuidade, principalmente da vacuidade de nós mesmos como pessoas, nossa base para sermos bondosos com os outros, desejar ajudá-los e assim por diante, com base em todo mundo ter sido nossa mãe e ter sido gentil conosco, pode ficar um pouco egocêntrica. Como eles foram muito gentis “comigo”, eu preciso e quero ajudá-los. Há uma certa ênfase no “eu”. Enquanto o outro método, de igualar e trocar as atitudes que temos conosco e com os outros, não tem esse perigo, pois baseia-se em vermos que somos todos iguais – nós, os outros, todos os seres –, todos querem ser felizes, e ninguém quer ser infeliz. Na verdade, não envolve nenhuma questão do “eu”.

Porém, se tivermos uma boa compreensão da vacuidade – que não precisa ser perfeita, obviamente – não corremos esse perigo nessas meditações de bodhichitta, e podemos seguir qualquer um dos métodos, ou o que é frequentemente recomendado – pelo menos no comentário de Serkong Rinpoche  − os onze estágios do desenvolvimento da bodhichitta, que combina os dois métodos.

Vimos a importância da compreensão da vacuidade para o tonglen, então vamos dar uma olhada novamente antes de eu apresentar essas onze rodadas ou etapas, mas não entrarei em grandes detalhes. Vamos ver como a compreensão da vacuidade é essencial – como ela funciona – para desenvolvermos bodhichitta sem o perigo de nos agarrarmos ao “eu” ou a “você”.

A questão que quero discutir aqui é a diferença entre cada ser vivo, o fato de cada contínuo mental ser individual e cada um ter uma identidade inerente e auto-estabelecida. Se não entendermos claramente a distinção, fica um pouco confuso e difícil. Essa não é uma distinção muito fácil de entender.

Ao lidar com os outros, queremos evitar dois extremos. Não queremos transformar todo o reino dos seres vivos, ou todo o universo, em uma grande “sopa” onde não se diferencia nada, como se tudo fosse uma grande unidade indiferenciada, uma grande sopa, ou pensar que existem seres vivos, existem contínuos mentais, mas eles são totalmente anônimos. O outro extremo é pensar que todos têm uma identidade auto-estabelecida e inerente com a qual os identificamos, como se essa fosse sua identidade carimbada e permanente. Seja a identidade estática que damos a eles, em termos do que eles são nesta vida específica − humano, mulher, homem, barata, ou o que quer que seja −ou a da nossa mãe. Não queremos dar a todos a identidade estática e inerente de ser nossa mãe.

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