As Seis Perfeições
Nos versos seguintes, Togme Zangpo fala sobre as seis atitudes de vasto alcance, as assim chamadas “perfeições” ou “paramitas,” que é uma base muito importante para nosso comportamento de bodhisattva. Os votos de bodhisattva, e especialmente os votos secundários, são uma forma de conseguirmos praticar essas seis perfeições.
(25) A prática de um bodhisattva é doar generosamente, sem esperar algo em troca ou que algum carma amadureça, pois se aqueles que desejam a iluminação têm que doar até seu corpo; o que dizer de suas posses!
A primeira das seis perfeições (atitudes de vasto alcance) é a generosidade. “Atitudes de vasto alcance” é uma tradução bem literal do termo em sânscrito, no sentido de que esses estados mentais são de vasto alcance, ou seja, nos levam muito longe; na verdade, nos levam à iluminação.
Para ser mais preciso, esses estados mentais podem nos levar tanto à liberação quanto à iluminação. Nas escolas Hinayana, também temos essas perfeições, mas com o objetivo de atingirmos a liberação, e logicamente ajudar os outros ao longo do caminho. Consideramos que essas perfeições são Mahayana quando nossa motivação é bodhichitta. Se formos cultivá-las no contexto Mahayana, é muito importante que estejam baseadas neste ideal: bodhichitta. Em outras palavras, é importante que nosso objetivo seja alcançar a iluminação para ajudar os outros ao longo do caminho e, depois de iluminados, realmente conseguir ajudá-los da melhor maneira possível.
Shantideva destaca um ponto muito importante quando diz que as seis perfeições são atitudes e estados mentais, não ações. Conforme disse em Engajando-se no Comportamento do Bodhisattva:
(V.9) Se a perfeição da generosidade fosse a erradicação da pobreza, como os Guardiões poderiam tê-la atingido se os seres sencientes ainda passam fome?
(V.10) É dito que a perfeição da generosidade é uma mente disposta a doar tudo o que é seu e também o resultado [kármico] da doação; portanto, é a mente.
Uma vez que o importante é o desejo e a disposição de doar tudo o que temos, podemos desenvolver essa perfeição mesmo quando não temos nada para dar. Por exemplo, podemos pensar: “que todos possam se alegrar como esse lindo pôr do sol” ou qualquer outra coisa com a qual nos alegramos. Também podemos nos imaginar doando tudo o que os outros precisam. Mas, se realmente tivermos o que doar, não é suficiente apenas imaginarmos que estamos doando. Temos que doar de verdade!
Quando doamos com generosidade, é importante que o façamos sem esperar algo em troca. Não é uma transação comercial, não estamos negociando ou dando alguma coisa para receber algo em troca, mesmo que esse algo não seja material. Às vezes queremos que a pessoa goste de nós, nos ame ou simplesmente nos agradeça, mas não devemos esperar nada disso. Não é por isso que estamos doando. Quando a mão dá comida à boca, não espera um obrigada ou qualquer outra coisa em troca. Doamos simplesmente porque alguém está precisando. Se pudermos doar o que os outros estão precisando, e isso não prejudicar ninguém, devemos doar.
É como ver que têm louça suja na pia; não importa se a louça é nossa ou de outra pessoa, ela precisa ser lavada. Então simplesmente lavamos.
Assim, quando fazemos uma doação, não devemos esperar que algum karma amadureça. O fato é que o resultado da generosidade é riqueza, especialmente em vidas futuras. Não é apropriado sermos generosos e doarmos para centros de dharma, por exemplo, pensando que é um bom investimento para o futuro e que seremos ricos nas próximas vidas. Além disso, é importante não ficarmos apegados aos objetos que doamos ou insistir que a pessoa a quem os doamos use-os conforme gostaríamos que usassem. Se demos um objeto de presente, a quem ele pertence? A nós ou à pessoa a quem demos?
Portanto, como disse Togme Zangpo, se aqueles que desejam a iluminação têm que doar até seu corpo, como o Buda Shakyamuni, que quando era um bodhisattva avançado deu pedaços de seu corpo para alimentar uma tigresa faminta, o que dizer de suas posses! Se queremos servir aos demais, não podemos ter apego às nossas posses, nem mesmo ao nosso corpo.
Mas se não somos um bodhisattva avançado, devemos lembrar que “uma raposa não pula onde pula um leão”. Se não estamos prontos para dar nosso corpo ou vida aos outros, não devemos dar. É indiscutível que, se tentarmos fazer isso mas não estivermos prontos, podemos desenvolver um estado mental muito negativo, que de nada nos servirá. Inclusive, podemos fazer um teste para verificar o quão avançados estamos em generosidade: quão dispostos estamos a alimentar um mosquito quando ele pousa em nosso braço? A maioria das pessoas não está disposta a deixar que o mosquito leve um pouco de seu sangue. Sua Santidade diz: “Eles só levam uma pequena gota de sangue. Isso não é nada.”
Se só estamos dispostos a doar algo que não precisamos, não gostamos ou que está sobrando, tipo “Estou cansado dessas roupas então vou doá-las a uma pessoa pobre”, não alcançamos grande coisa. O ponto é estar disposto a doar algo que realmente apreciamos, como nosso “precioso tempo”, por exemplo.
(26) A prática de um bodhisattva é guardar autodisciplina sem fins mundanos, pois se sem disciplina não conseguimos nem alcançar nossos próprios propósitos; querer cuidar dos propósitos alheios é uma piada.
Autodisciplina ética é a próxima perfeição. É um estado mental que nos impede de agir de forma destrutiva, e também é a força mental que se engaja em ações construtivas para ajudar os outros. Quando pensamos sobre autodisciplina, precisamos pensar em um sentido amplo, assim como fazemos no caso da generosidade, onde não pensamos em doar apenas coisas materiais, mas também nosso tempo, atenção, amor, ensinamentos, etc…
Togme Zangpo destaca que guardar autodisciplina ética, ou seja, procurarmos agirmos de forma apropriada, é algo que precisa ser feito sem objetivos mundanos. O que significa objetivos mundanos? Porque desenvolver disciplina? Atletas desenvolvem disciplina e músicos também. É possível desenvolvermos vários tipos de disciplina. Mas qual é o nosso objetivo ao desenvolvermos disciplina ética? Será que o fazemos com um propósito mundano, para sermos bons atletas e ganharmos medalhas ou para sermos músicos talentosos? Nosso objetivo é desenvolver autodisciplina ética para sermos capazes de alcançar a liberação ou iluminação e ajudar os outros. Começamos a ajudar quando ainda estamos no caminho e ajudamos mais quando atingimos a iluminação.
Existem muitas formas mundanas de desenvolvermos autodisciplina ética. Podemos, por exemplo, fortalecer nosso corpo como um halterofilista, treinando o tempo todo apenas para sermos fortes. Também podemos treinar não comer comidas gordurosas e que gostamos só para atrair um parceiro. Mas essas formas de disciplina vêm da vaidade. Não é disso que estamos falando aqui. É por isso que acrescento o termo “ética” à autodisciplina, porém mesmo a autodisciplina ética pode ter um objetivo mundano. Por exemplo, podemos querer ser bons praticantes budistas para que nosso professor goste de nós. Esse é um objetivo mundano, não é? Lembrem-se, precisamos praticar as perfeições com bodhichitta, e não só com bodhichitta convencional, mas com a bodhichitta mais profunda, a compreensão da vacuidade. Portanto, não estamos cultivando disciplina para atender aos nossos próprios objetivos egoístas.
Quando Togme Zangpo diz que não conseguimos satisfazer os próprios propósitos sem autodisciplina ética, ele está se referindo aos objetivos espirituais do nível de motivação inicial e intermediário. Nosso objetivo é ter um renascimento melhor, uma vida humana preciosa e obter a liberação. Se, sem autodisciplina ética não conseguimos alcançar essas coisas, como podemos sequer pensar em realizar os propósitos alheios em termos de iluminação?
(27) A prática de um bodhisattva é criar o hábito de ser paciente, de não ter hostilidade ou repulsa a quem quer que seja, pois para um bodhisattva que deseja ser rico em força positiva, todos os que o prejudicam são como tesouros de pedras preciosas.
A paciência é o estado mental de não ficar com raiva daqueles que nos prejudicam, de não nos deixamos abater por todas as dificuldade que teremos até atingirmos a iluminação e de não desanimamos com todas as dificuldades envolvidas em ajudar os outros. Não é fácil ajudar os demais, por isso precisamos cultivar o hábito de sermos pacientes. Esse é o significado da palavra “meditação”, precisamos entender que seu verdadeiro significado é cultivar um hábito benéfico. Portanto, praticamos repetidamente, fazemos da paciência um hábito. A forma como desenvolvemos o hábito da paciência é não tendo hostilidade ou repulsa por quem quer que seja. Não importa o quão difícil seja ajudar, não importa o quanto a pessoa nos prejudique, evitamos ficar com raiva.
Conforme explica Sua Santidade o Dalai Lama, paciência e tolerância não são sinais de fraqueza, são sinais de força. Ser paciente não significa deixar que os outros ajam de maneira destrutiva ou pisem em nós. Significa conseguir distinguir entre a pessoa e suas ações, e não ficar com raiva dela. Conforme disse Shantideva, se houver uma situação difícil e pudermos fazer algo a respeito, porque ficar com raiva? Apenas faça o que tem que ser feito. Mude-a. E se não houver nada que se possa fazer, para que ficar com raiva? A raiva não vai ajudar.
Ter paciência, conforme diz Togme Zangpo, é causa para gerarmos uma tremenda quantidade de força positiva. Para um bodhisattva que deseja ser rico em força positiva (mérito), todos os que nos prejudicam são como tesouros de pedras preciosas. Por que? Bom, como poderíamos desenvolver paciência se não houvessem pessoas irritantes e difíceis? Encontramos ideias parecidas em outros treinamentos mentais. Aqueles que nos fazem praticar paciência são como tesouros, pois com eles podemos ficar ricos em força positiva, com a qual poderemos alcançar a iluminação.
(28) A prática de um bodhisattva é exercer perseverança, a fonte das boas qualidades, para servir ao propósito de todos os seres errantes. Pois vemos que mesmo os shravakas e os pratyekabuddhas, que buscam atingir apenas o seu próprio objetivo, têm tamanha perseverança que ignorariam se suas cabeças estivessem pegando fogo.
Perseverança é a quarta perfeição. A palavra sânscrita para essa atitude, “virya,” está relacionada à palavra “vira”, que significa herói, à palavra latina “vir”, que significa “homem” e à palavra portuguesa “viril”. Portanto, tem a conotação de coragem heróica e vigor para engajar-se com energia e conquistar uma meta positiva difícil de ser conquistada. Com essa atitude, persistimos e continuamos com nosso trabalho espiritual, independente do quão difícil seja, sem nos desencorajarmos, sem termos preguiça, sem sentirmo-nos inadequados e achar que não vamos conseguir e sem procrastinar.
Nos alegramos com o que fazemos, perseverando especialmente nas atividades construtivas. Essa é a fonte das boas qualidades, ou seja, de alcançarmos a iluminação para o benefício de todos os seres.
Se os praticantes Hinayana, os shravakas e pratyekabuddhas, que trabalham apenas para atingir a própria liberação, têm uma inacreditável coragem heróica e perseverança e se esforçam para alcançar seu objetivo, nós, que estamos trabalhando como bodhisattvas para beneficiar os outros, temos que ter ainda mais de tudo isso.
Shravakas são os que têm a oportunidade de ouvir os ensinamentos do buda; já os pratyekabuddhaspraticam seguindo seus instintos em tempos de trevas, quando os ensinamento do buda não estão disponíveis. O exemplo dado aqui — e também em textos anteriores — para demonstrar o tipo de perseverança e coragem que esses shravakas and pratyekabuddhastêm, é que eles continuariam com sua meditação, ou qualquer outra prática espiritual que estivessem fazendo, mesmo se suas cabeças estivessem pegando fogo. Eles simplesmente ignorariam o fato, ao invés de surtar e tentar apagar o fogo, e continuariam a meditar. Se eles possuem tamanha perseverança heróica a ponto de não se distraírem com suas próprias necessidades mundanas, nós, como bodhisattvas, precisamos ter ainda mais.
Ignorar que sua cabeça está pegando fogo refere-se basicamente à renuncia. Eles renunciam a essa preocupação mundana com o fogo na cabeça. O termo literal é afastar-se. Claro, algumas pessoas podem interpretar isso como “afastar o fogo” ou “apagar o fogo”, mas o significado não é esse. O significado é de renúncia.
(29) A prática de um bodhisattva é transformar em hábito a estabilidade mental que supera com pureza as quatro (absorções) sem forma, através da compreensão de que um estado mental excepcionalmente perceptivo, totalmente imbuído de um estado tranquilo e assentado, pode derrotar completamente as emoções e atitudes perturbadoras.
Esse verso é cheio de jargões e termos técnicos. Refere-se à perfeição da estabilidade mental, à qual algumas vezes nos referimos como “concentração”, mas que não significa apenas concentração. É um estado mental estável que não se deixa levar pela inconstância da mente, pelo devaneio, distração ou torpor.
Com essa estabilidade mental, é claro que conseguimos fazer qualquer coisa, certo? O tipo de estabilidade mental que queremos alcançar é a que supera com pureza as quatro absorções sem forma. As quatro absorções sem forma são estados meditativos muito profundos que, se nos apegarmos a eles, podem fazer com que renasçamos em um dos quatro reinos de seres sem forma, o reino sem forma. Essa estabilidade mental supera isso com pureza. O termo pureza significa, aqui, que essas quatro absorções são maculadas pelo desconhecimento (ing. unawareness), ou seja, pela ignorância e, portanto, são impuras. Queremos desenvolver um tipo de estabilidade mental que é pura, que vai além disso, que não se mistura com desconhecimento ou confusão.
No que queremos focar essa mente estável? Qual é o estado mental que queremos atingir, que têm essa estabilidade mental? É uma combinação, um estado que une vipashyanaeshamatha. Um estado mental tranquilo e assentado é shamata e um estado mental excepcionalmente perceptivo é vipashyana. O que é um estado calmo e tranquilo? É livre de devaneios, instabilidade e torpor, e assentado unifocadamente em um objeto construtivo. Nesse estado mental, existe uma sensação de plena capacidade, uma plena e estimulante capacidade física e mental, em que a mente consegue focar em qualquer coisa e permanecer focada pelo tempo que você quiser.
Meu professor, Tsenshap Serkong Rinpoche, costumava dizer que é como ter um enorme jato. Se você o coloca no solo, ele fica, mas quando está no ar, simplesmente voa. Esse é o sentido de plena capacidade mental, uma mente que se concentra e faz o que quisermos, e permanece nesse estado estável. É um pouco parecida com a plena capacidade física de um atleta muito bem treinado, cujo corpo está em tão boa forma que ele tem a sensação de que pode fazer qualquer coisa, de que pode correr indefinidamente.
Com essa mente, a pessoa pode continuar e desenvolver também vipashyana, um estado mental excepcionalmente perceptivo. Esse estado mental já tem shamata, já é assentado e tranquilo, capaz de focar em qualquer coisa, e agora tem uma segunda capacidade: perceber e compreender qualquer coisa, não apenas a vacuidade, mas qualquer coisa. É plenamente capaz, e consegue compreender e perceber qualquer detalhe, em toda sua profundidade, qualquer coisa. Temos que entender que só conseguiremos derrotar completamente as aflições mentais se tivermos esse estado excepcionalmente perceptivo de vipashyana junto com shamata. Isso, claro, supera as quatro absorções sem forma, que só nos mantém presos no samsara.
(30) A prática de um bodhisattva é fazer da consciência discriminativa, que acompanha os métodos e que não formula conceitos sobre os três círculos, um hábito. Porque sem a consciência discriminativa, as cinco atitudes de amplo alcance não podem promover a iluminação completa.
A consciência discriminativa é frequentemente traduzida com “sabedoria”, mas acho essa palavra muito imprecisa e vaga. Estamos falando da capacidade de discriminar entre como as coisas existem e como não existem.
Precisamos de consciência discriminativa junto com métodos. A palavra “métodos” refere-se a bodhichitta, e bodhichitta tem como base amor e compaixão. A consciência discriminativa da vacuidade pode nos trazer liberação. Ela pode nos livrar dos obscurecimentos emocionais que impedem nossa liberação — nomeadamente o desconhecimento (ignorância), as emoções perturbadoras e as tendências de ambos. Mas apenas quando a consciência discriminativa está junto com bodhichitta que tem força suficiente para atravessar o segundo conjunto de obscurecimentos, que são os obscurecimentos cognitivos que impedem a onisciência e a iluminação — nomeadamente os hábitos constantes de apegar-se à existência verdadeiramente estabelecida, que é a causa da mente criar aparências de existência verdadeiramente estabelecidas. Portanto, bodhichitta com amor e compaixão são os métodos mencionados aqui.
Este tipo de consciência discriminativa precisa estar livre de conceitos sobre os três círculos. Os três círculos referem-se à pessoa que está meditando, àquilo em que ela está meditando e à meditação em si, e as concepções são concepções de existência verdadeiramente estabelecida. Precisamos nos livrar dessa concepção de existência verdadeiramente estabelecida dos três círculos, e mais, precisamos que a compreensão seja não conceitual. Quando temos uma cognição conceitual de alguma coisa, ela projeta uma aparência de existência verdadeiramente estabelecida e, até conseguirmos nos liberar, acreditamos que ela corresponde à forma como as coisas realmente existem. Em outras palavras, temos apego à existência verdadeiramente estabelecida e, portanto, realmente precisamos conseguir ter uma cognição não conceitual da vacuidade.
Por que precisamos desenvolver essa perfeição? Togme Zangpo diz que é porque sem a consciência discriminativa, as cinco atitudes de amplo alcance não conseguirão promover nossa iluminação completa. Mesmo com bodhichitta convencional — o desejo de alcançarmos a iluminação para beneficiar todos os seres — praticar apenas as cinco perfeições não é o suficiente. Elas precisam estar acompanhadas da consciência discriminativa de vasto alcance da vacuidade.
Além disso, o que é significativo aqui é que precisamos ter a consciência discriminativa sobre os três círculos e não apenas sobre a pessoa, o “eu”. Segundo o hinayana, só precisamos entender que a pessoa, o “eu”, não existe de uma maneira impossível, com uma alma impossível. Segundo o mahayana, a consciência discriminativa da vacuidade do “eu” não é o suficiente para obtermos a iluminação. Precisamos ter a consciência discriminativa da vacuidade de todos os fenômenos, ou seja, não só de “mim”, aquele que medita, mas também daquilo em que estou meditando e da ação de meditar. Segundo a visão prasangika da tradição Gelug, precisamos dessa consciência discriminativa da vacuidade dos três círculos até para conseguir a liberação.
A Prática Diária de um Bodhisattva
Os próximos versos tratam da prática diária de um bodhisattva
(31) A prática de um bodhisattva é examinar continuamente o autoengano e livrar-se dele, pois se não examinarmos nosso autoengano, é possível que cometamos uma ação não dhármica de uma forma que pareça ser dharma.
Conforme eu disse no Treinamento da Mente em Sete Pontos, precisamos ter um espelho do dharma virado para nós, e não para fora. Precisamos nos avaliar para ver se estamos praticando o dharma adequadamente, ao invés de ficarmos avaliando os outros.
O mesmo texto também diz que precisamos ser “as principais testemunhas”, testemunhar se estamos praticando com pureza ou não. Somos os melhores juízes para avaliar nossa motivação e o que se passa em nossa mente. É muito fácil nos enganarmos. Nos enganamos pensando “Estou realmente seguindo o caminho budista” ou “Realmente superei o egoísmo” e cometendo todo tipo de autoengano. Precisamos examinar isso com muito cuidado, e nos livrarmos disso.
Se não nos avaliarmos, é possível que sigamos o dharma apenas externamente. Por exemplo, podemos fazer várias prostrações de uma forma que não tenha nada de dharma. Poderíamos estar fazendo cem mil flexões, que daria no mesmo. Frequentemente meditamos ou fazemos práticas porque nos sentiremos culpados se não fizermos, ao invés de fazermos de coração. Esse é um bom exemplo de fazer alguma coisa com forma de dharma mas que não é dharma.
(32) A prática de um bodhisattva é não falar dos defeitos de uma pessoa que entrou no [caminho] Mahayana, pois se sob o poder das emoções e atitudes perturbadoras, falarmos sobre os defeitos dos bodhisattvas, nos degeneraremos.
Uma pessoa que entrou no caminho Mahayana é uma pessoa que está praticando o caminho do bodhisattva. Achar defeitos em um bodhisattva é um estado mental de menosprezar e achar defeitos em bodhichitta e no comportamento do bodhisattva. Isso faz com que nosso próprio comportamento de bodhisattva se degenere, pois temos uma atitude negativa em relação ao comportamento de um bodhisattva.
Devemos notar que é por estarmos sob o poder de aflições mentais que falamos dos defeitos dos bodhisattvas. É significativo que Togme Zangpo tenha deixado isso bem claro. Existem bodhisattvas que não são muito hábeis em seus métodos, que, de certa forma, são falhos. É claro que podemos fazer uma crítica construtiva e dar sugestões para serem mais habilidosos. Mas isso é diferente de falar de seus defeitos por causa de nossas próprias aflições mentais.
A aflição mental pode ser inveja do que eles fazem ou estarmos pensando apenas em nós próprios, como em “eu não aprovo o que ele está fazendo, eu faria diferente”. Pode ser arrogância, com em “eu faria melhor”. Pode ser ignorância, onde simplesmente não compreendemos o método e a intenção de vasto alcance (sabedoria) do bodhisattva e estamos pensando de forma muito limitada. Pode ser apego e raiva, como em “eu queria fazer isso e agora esse bodhisattva fez primeiro” e ficamos com raiva dele. Nesse contexto, se, estando sob poder de aflições mentais, falarmos sobre os defeitos dos bodhisattvas, nos degeneraremos.
Isso não significa que não possamos fazer sugestões construtivas quando alguém está tentando ajudar os outros como um bodhisattva ou achar que poderia melhorar. Claro, fazer críticas destrutivas e falar apenas dos defeitos dos outros não ajuda em nada. Mas estaríamos cometendo um equívoco se nunca tentássemos corrigir ou ajudar uma pessoa que está cometendo um erro. Ou seja, se formos fazer uma crítica construtiva, temos que fazer com muito respeito e com a motivação de ajudar a pessoa a ser de mais benefício aos outros. Isso requer humildade, não arrogância. Além disso, precisamos oferecer nossa sugestão na hora certa e na circunstância correta. Caso contrário, podemos ser mal interpretados.
(33) A prática de um bodhisattva é livrar-se do apego à casa dos parentes e amigos e à casa de patrocinadores pois, sob o poder de [querer] ganhos e respeito, podemos discutir com os outros e nossa atividade de escutar, pensar e meditar irá declinar.
Podemos perceber que este é o terceiro verso em que Togme Zangpo fala sobre o tema. É muito difícil ficarmos na casa de amigos, parentes ou patrocinadores, ou seja, aqueles que nos sustentam financeiramente, se tivermos muitas emoções destrutivas. Neste caso, ele refere-se a desejar ou querer muito obter ganhos, querer ganhar muito dinheiro ou respeito do patrocinador.
Se estivermos tentando seguir o caminho do bodhisattva enquanto vivemos com nossa família, que não respeita ou aprova o que estamos fazendo, e quisermos ganhar respeito ou aprovação, o que acontecerá? Conforme disse Togme Zangpo, vamos discutir uns com os outros e nossa atividade de escutar, pensar e meditar irá declinar. E por estarmos tão preocupado em obter aprovação, ficaremos muito chateados.
Certa vez, Ra Lotsawa, um grande tradutor tibetano, disse: “A prática do dharma que estou fazendo é a que meu professor me ensinou a fazer, então, mesmo que ninguém goste do que estou fazendo, não me importo”. Ou seja, não estamos praticando dharma para sermos reconhecidos pelas outras pessoas. Se sabemos que estamos seguindo o caminho budista de acordo com as instruções de um professor totalmente qualificado, não importa. Não precisamos da aprovação dos outros. Realmente não podemos nos apegar a isso.
Conta-se que Geshe Ben Gungyal, que meditava em uma caverna nas montanhas, soube que seu patrocinador vinha visitar. Ele arrumou o altar, limpou o espaço de meditação e se limpou, na esperança de impressionar o patrocinador e continuar sendo sustentado por ele. Porém, ele percebeu que isso estava misturado com preocupações mundanas de fama e respeito, então pegou um pouco de terra e esfregou nas oferendas. Um outro mestre, que vivia muito longe, viu o que Geshe Ben Gungyal fez, com sua percepção extra sensorial, e disse: "Geshe Ben Gungyal acabou de fazer a oferenda mais pura de todo Tibete”. Isso diz respeito às mesmas coisas às quais nosso verso se refere.
(34) A prática de um bodhisattva é livrar-se da linguagem grosseira, desagradável à mente alheia, pois palavras grosseiras perturbam a mente dos outros e fazem com que nosso comportamento de bodhisattva decline.
Se falamos grosserias ou gritamos com os outros, certamente vamos desagradá-los. Ninguém gosta disso, e certamente perturba a mente. Se, como bodhisattvas, estivermos tentando fazer os outros felizes e ajudá-los a conseguir paz de espírito, perturbar suas mentes com palavras grosseiras seria o oposto do que buscamos, portanto, faz nosso comportamento de bodhisattva declinar. Consideramos palavras grosseiras as que são ditas com malícia, com o desejo de machucar. Mas é claro que algumas vezes precisamos falar mais alto e energeticamente. Se uma criança tentar atravessar uma rua de muito trânsito, por exemplo, é claro que vamos gritar para detê-la.
Às vezes precisamos falar de forma energética para beneficiar os outros. Meu próprio professor, Serkong Rinpoche — sempre me chamava de “idiota” ou “bobinho”. Quando ele me aceitou como seu aluno pessoal, o que lhe pedi foi: “Por favor treine este burro a ser mais habilidoso em ajudar os outros.” Esse foi meu pedido. Quando eu era jovem, era muito arrogante, porque tinha estudado em Harvard e coisas do gênero. Serkong Rinpoche levou meu pedido muito a sério e nunca perdeu uma oportunidade de mostrar quando eu agia feito um idiota, mesmo quando eu estava traduzindo para ele em frente a um grande grupo de pessoas. Apesar das pessoas acharem que ele estava fazendo uma grosseria ao me chamar de idiota ou burro, ele o fazia com grande compaixão, para me ajudar, por isso eu nunca fiquei com raiva.
Era uma situação bem diferente da qual os versos se referem, que é falar com grosseria, perturbando a mente dos outros, com a intenção de machucá-los.
(35) A prática de um bodhisattva é fazer com que os [nossos] soldados da presença mental e da atenção carreguem as armas opositoras, e forçosamente destruam as emoções e atitudes perturbadoras, como o apego e assim por diante, logo que surgirem, pois, quando nos habituamos às emoções e atitudes perturbadoras, é difícil para as [forças] opositoras fazerem com que recuem.
Este verso segue muito a linha dos ensinamentos de Shantideva. Normalmente, pensamos na presença mental (ing. mindfulness) e atenção como fatores mentais que usamos para desenvolver concentração, mas Shantideva fala deles no desenvolvimento de autodisciplina ética. Eles estão em seu capítulo sobre o assunto e ele também invoca a ideia de um exército lutando uma batalha. Na verdade, estamos em uma batalha contra as aflições mentais, que nos fazem agir de forma destrutiva. Raiva e apego nos fazem agir de forma muito destrutiva, por isso temos que usar os soldados da presença mental e atenção.
A presença mental é a cola que segura nossa disciplina, e a atenção é o fator mental que supervisiona a presença mental e certifica-se de que ela não descolou ou colou com muita força. Esses dois fatores mentais carregam asarmas opositoras. De modo geral, podemos pensar na disciplina ética como uma força opositora, mas também existem outras forças opositoras. Por exemplo, a força opositora à raiva é o amor, se estivermos apegados a um corpo bonito, a força opositora será pensar na impureza desse corpo e nas substâncias que estão dentro do estômago e intestinos. A atenção é como se fosse o sistema de alarme, que dispara quando tem alguma coisa errada com a forma como a presença mental está colando. Quando tem alguma coisa errada com a cola mental, é a atenção que aparece e a corrige. É a atenção que restabelece uma forma mais benéfica de olharmos para a outra pessoas. Por exemplo, ao invés de olharmos com raiva, olhamos com amor.
Tentamos reconhecer quando nossa aderência à disciplina ética e aos estados mentais positivos está fraca. Tentamos corrigir assim que aflições mentais começam a aparecer em nossa mente e roubar nosso estado mental positivo, conforme diz Shantideva. Tentamos fazer isso o mais rápido possível, pois se nos habituarmos às aflições mentais, se as deixarmos tomar conta de nosso estado mental sem fazermos nada a respeito, criamos o hábito de pensar de maneira destrutiva, com essas aflições mentais. E então será muito difícil para as forças opositoras fazerem com que recuem ou vão embora. Portanto, precisamos perceber rapidamente quando nossa mente está se desviando da disciplina ética. E então poderemos corrigi-la com muito mais facilidade.
É como aprender um novo idioma. No começo não conseguimos pronunciar as palavras corretamente. Isso acontece muito com as pessoas que aprendem tibetano, e elas acabam se habituando a pronunciar tudo errado. Quando isso vira um hábito forte, é muito difícil corrigir. Mas se nos corrigirmos desde o começo, quando começamos a falar errado, conseguiremos desenvolver a pronúncia correta com muito mais facilidade.
O verso 36 é um resumo do que precisamos fazer para seguir o caminho do bodhisattva. Togme Zangpo escreve:
(36) Em suma, a prática de um bodhisattva é [trabalhar] para realizar o propósito dos outros, mantendo continuamente a presença mental e a atenção, a fim de saber em que condição a mente se encontra, qualquer que seja o nosso comportamento.
Este verso é muito parecido com o conselho que Shantideva nos dá no fechamento de seu texto. Como trabalhar para realizar o propósito dos outros, para ajudar os outros? Precisamos manter a atenção e a presença mental. É a presença mental que adere à disciplina, ao amor, à compaixão e à bodhichitta. E a atenção é o sistema que nos alerta para não nos descolarmos da disciplina ética, do amor, etc, ou seja, para adequarmos a cola mental.
Assim, não importa onde nos encontramos estamos e como nos comportamos, precisamos sempre verificar o que está se passando em nossa mente. Na última linha de A Guirlanda de Jóias de um Bodhisattva, Atisha, um grande mestre anterior a Togme Zangpo, diz:
(28) Quando entre muitos, que eu vigie minha fala; quando sozinho, que eu vigie minha mente.
É uma ideia semelhante a que acabamos de ver.
(37) A prática de um bodhisattva é, com a consciência discriminativa da total pureza dos três círculos, dedicar à iluminação as forças construtivas conseguidas com esses esforços, a fim de eliminar o sofrimento de infinitos seres errantes.
Este verso refere-se à dedicação. Quando dedicamos alguma ação construtiva ou força positiva que tenha surgido de nosso comportamento de bodhisattva, precisamos fazê-lo com consciência discriminativa da vacuidade. Aqui, Togme Zangpo mencionada como a total pureza dos três círculos. Ou seja, a vacuidade daquele que está criando a força positiva, da ação que gerou a força positiva e da força positiva em si.
Togme Zangpo diz para dedicarmos tudo isso à iluminação,a fim de eliminarmos o sofrimento de inúmeros seres sencientes. A maneira apropriada de fazemos uma dedicação é muito bem descrita por Shatideva no último capítulo de Engajando-se no Caminho do Bodhisattva, o capítulo da dedicação. Ele não diz: “Que eu consiga atingir a iluminação para que possa eliminar o sofrimento de todos os seres.” Ele não faz a dedicação considerando apenas o caso dele. A ênfase não está no “eu”, como em “Que eu consiga atingir a iluminação para que eu possa eliminar o sofrimento de todos os seres.” Isso seria uma dedicação misturada com apego a um “eu”, não seria?
No capítulo da dedicação, Shantideva simplesmente diz: “Que todos possam atingir a iluminação” e “Que o sofrimento de todos os seres possa ser eliminado”, “Que isso atue como causa para que todos possam atingir a iluminação, para que nenhum ser tenha que passar pelo sofrimento dos estados piores (inferiores) de renascimento”, e assim por diante. Portanto, não tem nada a ver com “eu” me tornar um grande bodhisattva, me tornar um Buda que vai ajudar os outros.
Em vários textos, diz-se que é como se fossemos fazer uma viagem com pessoas muito ricas que estivessem levando uma quantidade enorme de grãos para comer durante o percurso. Podemos imaginar uma caravana no Tibete com exemplo. O que queremos é contribuir, mesmo que só tenhamos uns poucos grãos. Nossos grãos irão se misturar com os de todos os outros viajantes, e dos patrocinadores, para que, de certa forma, possamos contribuir um pouco para o bem de todos.
Da mesma forma, acrescentamos a força positiva que geremos, por menor que seja, à enorme quantidade de força positiva que todos os bodhisattva dedicaram à iluminação de todos os seres. Eles não a dedicaram à própria iluminação, dedicaram-na para a iluminação de todos os seres. Quando acrescentamos uma pequena quantidade de força positiva à esse enorme estoque, dedicando-a à iluminação de todos os seres, ela terá um efeito muito maior.
Precisamos ter muito cuidado na nossa prática de bodhisattva para não misturá-la a preocupações autocentradas: “Que eu — eu, eu, eu — possa atingir a iluminação. Que eu — eu, eu, eu — possa ajudar todos os seres.” E também não é “Que minha pequena quantidade grãos possa alimentar a todos”.
É por isso que a compreensão da vacuidade na dedicação da força positiva é tão importante. Assim, evitamos os extremos de fazer a dedicação preocupados com o “eu” sólido.
Verso de Conclusão
Tendo seguido a palavra dos seres sagrados e o significado do que foi declarado nos sutras, tantras e tratados, organizei (essas) práticas, trinta e sete, para aqueles que desejam treinar no caminho do bodhisattva.
Togme Zangpo afirma que não criou esse material. Ele apena seguiu as palavras de grandes professores e o significado estipulado nos grandes textos. Podemos ver que grande parte do material dessas 37 Práticas vem do texto Engajando-se no Caminho do Bodhisattva, de Shantideva, e do Treinamento da Mente em Sete Pontos, de Geshe Chekawa. Togme Zangpo também escreveu comentários a esses textos, assim como a outros da literatura de lojong.
E ele continua:
Por minha inteligência ser fraca e minha educação formal escassa, eles podem não estar na métrica poética que agrada aos eruditos. Mas por eu ter me baseado nos sutras e nas palavras dos santos, acredito que (essas) práticas de bodhisattvas não sejam enganosas.
Togme Zangpo se desculpa pela falta de habilidade poética, já que o texto é escrito em verso. Ele basicamente diz que esses versos podem não ser os melhores, e que ele não é muito inteligente ou habilidoso, mas mesmo assim, por ter se baseado nos sutras e nas palavras de santos como Shantideva e Geshe Chekawa, ele acredita que essas práticas de bodhisattva não são enganosas.
E continua:
No entanto, como é difícil para um tolo como eu compreender a profundidade das grandes ondas do comportamento bodhisattva, peço aos santos que sejam pacientes com minha montanha de falhas, como contradições, falta de conexão e coisas do gênero.
Novamente, ele está sendo muito modesto ao dizer “Como é difícil para um tolo como eu compreender a vasta conduta de bodhisattva que os grandes bodhisattvas praticam.” Ele pede aos grandes seres que sejam pacientes e compreendam suas falhas e contradições ao escrever sobre as práticas dos bodhisattvas, como se fossem contraditórias e desconectadas, e também compreendam sua falta de habilidade em conectar os versos para deixá-los mais compreensíveis e assim por diante.
E o verso final:
Pela força construtiva gerada, que todos os seres errantes, através da bodhichitta suprema, profunda e convencional, tornem-se iguais ao Guardião Avalokiteshvara, que nunca estabelece morada nos extremos compulsivos da existência samsárica ou da complacência do nirvana.
Perceba que ele não diz “que eu me torne igual ao Guardião Avalokiteshvara”, que é o que discutimos anteriormente, quando falamos da dedicação. Ele diz: “Que todos tornem-se iguais ao Guardião Avalokiteshvara”. Ou seja, que todos atinjam a iluminação ao desenvolverem a suprema bodhichitta mais profunda e a convencional. Avalokiteshvara é iluminado e não mora nos extremos do samsara ou nirvana, conforme explicado.
E o colofão:
Isto foi composto na caverna de Rinchen em Ngulchu pelo disciplinado monge Togme, professor de escrituras e lógica, para benefício próprio e alheio.
Isto completa os ensinamentos das 37 Práticas do Bodhisattva, de Togme Zangpo, um grande bodhisattva.
É realmente importante tentarmos colocá-las em prática ao máximo. Recomenda-se sua leitura diária como uma prática muito útil, e ao lermos não ficarmos só no “blá, blá, blá”, mas tentarmos manter o significado das práticas em mente. Podemos tentar focar em um verso a cada dia. É um método muito útil para lentamente integrarmos esses conceitos à nossa vida. Assim, aos poucos conseguiremos colocá-los todos em prática.
Resumo
Para tornar-se um bodhisattva, alguém que tem bodhichitta espontânea — um coração e mente totalmente dedicados à iluminação para melhor ajudar os outros a superar o sofrimento — precisamos seguir um caminho gradual. Os estágios graduais do lam-rim nos proporcionam esse caminho. Precisamos principalmente transformar as circunstâncias negativas em positivas ao superarmos o autoapreço e praticarmos as seis perfeições (atitudes de vasto alcance). As 37 Práticas do Bodhisattva, aqui apresentadas, nos dão as diretrizes para o caminho completo do bodhisattva.