Introdução e Fonte
Ao tomar o direcionamento seguro (refúgio):
- A mais profunda Joia da Sangha (don-dam-pa’i dge-’dun dkon-mchog, Joia Suprema da Sangha) – as verdadeiras cessações e os verdadeiros caminhos mentais no contínuo mental de um ser altamente realizado (’phags-pa, sct. ārya). Esses seres alcançaram um caminho mental da visão (caminho da visão), um caminho mental da habituação (caminho da meditação) ou um caminho mental que não necessita de mais treinamento (caminho do não mais aprender). Eles obtêm isso por terem tido uma cognição não conceitual e direta das quatro nobres verdades. Os aryas podem ser da classe dos ouvintes (nyan-thos, sct. śrāvaka), dos auto-evolutivos (rang-rgyal, sct. pratyekabuddha) ou dos bodhisattvas (byang-chub sems-dpa’). Com caminhos mentais que não precisam de mais treinamento, os aryas alcançam a liberação e se tornam seres liberados (dgra-bcom-pa, sct. arhat) de suas respectivas classes.
- A aparente Joia da Sangha (kun-rdzob-pa’i dge’dun dkon-mchog, Joia da Sangha superficial ou convencional) – a pessoa individual de qualquer arya, seja leiga ou monástica.
- A Joia da Sangha nominal (brdar-btags-pa’i dge-’dun dkon-mchog) – uma assembleia de quatro ou mais monges plenamente ordenados (dge-slong, sct.: bhikṣu) ou monjas plenamente ordenadas (dge-slong-ma, sct.: bhikṣuṇī), com votos que foram mantidos puros e no nível de um ser comum (so-sk bhikṣu) ou monjas plenamente ordenadas (dge-slong-ma, sct. bhikṣuṇī), com votos que foram mantidos puros e no nível de um ser comum (so-skye) (alguém que ainda não é um arya) ou acima. A Joia da Sangha nominal não é uma fonte real de orientação segura (skyabs-gnas).
[Veja: Identificando as Três Joias Preciosas]
Na tradição Mahayana, as boas qualidades da Arya Sangha referem-se às qualidades da aparente Joia da Sangha e, principalmente, às qualidades dos bodhisattvas arya antes de atingirem a iluminação. Com os caminhos mentais da visão e da habituação, esses bodhisattvas arya desenvolvem progressivamente dez níveis de mentes altamente realizadas (sa-bcu, sct.: daśa-bhūmi, dez mentes bhumi). Com cada nível da mente bhumi, a força de sua cognição não conceitual da vacuidade durante a absorção total (mnyam-bzhag) e a visão de aparências discordantes durante os períodos de realização subsequente (rjes-thob, pós-meditação) como sendo ilusórias aumenta progressivamente, por sua vez, cada uma de suas dez atitudes de amplo alcance de generosidade, autodisciplina ética, paciência, perseverança alegre, estabilidade mental, consciência discriminativa, habilidade nos meios, oração de aspiração, fortalecimento e consciência profunda.
[Veja: As Dez Perfeições no Theravada, Mahayana e Bon]
Além disso, com cada um desses níveis da mente bhumi, os bodhisattvas arya adquirem um número crescente de qualidades. Essas qualidades são descritas por Chandrakirti em seu Engajando-se no Caminho do Meio (dBu-ma-la ’jug-pa, sct.: Madhyamākavatāra). Aqui, seguiremos a explicação dada por Tsongkhapa (Tsong-kha-pa Blo-bzang grags-pa) em sua obra Iluminando a Intenção: Uma Explicação do texto de (Chandrakirti) “Engajando-se no Caminho do Meio” (dBu-ma dgongs-pa rab-gsal).
As Boas Qualidades dos Bodhisattvas Arya em Cada um dos Dez Níveis da Mente Bhumi
Com a obtenção da mente bhumi de primeiro nível (primeiro bhumi), os arya bodhisattvas adquirem doze conjuntos de boas qualidades, cada um envolvendo cem coisas (yon-tan brgya-phrag bcu-gnyis), sendo que a maioria delas ocorre momentaneamente. A cada instante, eles podem:
- Contemplar 100 budas
- Receber inspiração iluminada de todos os 100 budas
- Viver por 100 eras
- Ver o-que-não-ocorre-mais (das-pa, o “passado”) e o-que-ainda-não-ocorreu (ma-ong-ba, o “futuro”) dos fenômenos por 100 eras
- Entrar e sair de 100 absorções meditativas (ting-nge-’dzin, sct. samādhi)
- Abalar 100 sistemas mundiais
- Iluminar todos os 100 com seu brilho
- Contribuir para que 100 seres limitados (seres sencientes) amadureçam e cheguem a realizações, ajudando-os a tornar suas mentes ágeis
- Viajar para 100 terras puras de campos búdicos
- Abrir 100 portais de medidas preventivas do dharma, dando ensinamentos
- Emanar-se em 100 corpos
- Ter cada corpo cercado por 100 bodhisattvas.
Quando atingem a mente bhumi do segundo nível (o segundo bhumi), cada um desses doze conjuntos envolve mil elementos, em sua maioria ocorrendo simultaneamente; com uma mente de terceiro nível, 100 mil; com a de quarto nível, um bilhão; no quinto nível, 10 bilhões; no sexto, um trilhão; e no sétimo, 100 quintilhões. Depois disso, os números envolvidos com os doze conjuntos de qualidades positivas aumentam para cifras astronômicas.
As Qualidades de um Bodhisattva Arhat Superam as de um Arhat Shravaka ou Pratyekabuddha
Segundo a apresentação prasangika da tradição Gelug, com a realização da mente bhumi de oitavo nível, os bodhisattvas aryas atingem a liberação e se tornam bodhisattvas arhats. Mesmo antes de atingirem o oitavo, nono e décimo níveis da mente bhumi, os bodhisattvas aryas — ao alcançarem o sétimo nível — já superam os arhats shravakas e pratyekabuddhas. Isso ocorre porque, nesse ponto, eles possuem a habilidade de alternar instantaneamente entre: a absorção total (mnyam-bzhag, equilíbrio meditativo) na vacuidade e a realização subsequente (rjes-thob, pós-meditação) de que, quando surgem novamente aparições ilusórias da existência verdadeira, são reconhecidas como uma ilusão.
No entanto, as qualidades positivas dos arhats shravakas são extremamente vastas. Eles são capazes de:
- Manifestar uma única forma em muitas e muitas formas em uma só
- Transformar e emanar objetos através do poder da absorção meditativa nas fontes elementais (khams) – os elementos básicos: terra, água, fogo e vento.
- Voar pelo ar e se transportar milagrosamente para onde quer que estejam seus discípulos, entre outras façanhas.
Os métodos de que dispõem para ajudar os outros estão além do que a mente comum pode conceber.
Portanto, é incorreto pensar que os shravakas carecem totalmente de compaixão ou que não trabalham pelo benefício dos outros. O amor e a compaixão são características essenciais de todos os ensinamentos do Buda, tanto no Hinayana quanto no Mahayana. Afinal, a metta-bhavana (meditação sobre o amor) é parte central da prática da Theravada. Os dois principais discípulos do Buda Shakyamuni, Shariputra e Maudgalyayana, eram arhats shravakas e, após alcançarem a liberação, conduziram muitos outros discípulos à liberação também.
As Qualidades Positivas dos Bodhisattvas Aryas de Oitavo Nível
Ao alcançarem a liberação com a mente bhumi do oitavo nível, os bodhisattvas aryas adquirem dez poderes (dbang-bcu), além de um imenso aumento nos números envolvidos em cada um dos doze conjuntos de qualidades positivas mencionados anteriormente. Esses são os dez poderes:
(1) Sobre a própria vida – podem viver o quanto desejarem
(2) Sobre a mente – podem entrar e sair de tipos ilimitados de absorção meditativa.
(3) Sobre as necessidades da vida – encontram tudo de que precisam
(4) Sobre as atividades – conhecem e podem ensinar qualquer arte ou ciência
(5) Sobre o nascimento – podem nascer onde e quando desejarem
(6) Sobre as preces – podem se manifestar na forma que for necessária
(7) Sobre as aspirações – podem manifestar o que considerarem adequado
(8) Sobre a emanação extrafísica – podem ir a qualquer terra pura dos campos búdicos que desejarem
(9) Sobre a consciência profunda – não enfrentam obstáculos em seu aprendizado
(10) Sobre o dharma – compreendem todas as palavras e significados dos ensinamentos
Esses poderes, embora além da compreensão comum, ainda não se comparam às qualidades e habilidades da consciência onisciente de um buda. Portanto, quando se diz que tais bodhisattvas compreendem todo o dharma, isso se refere apenas ao nível correspondente à sua capacidade.